Exposição da Epístola aos Efésios 4:4-6

4:4 εν σωμα και εν πνευμα καθως και εκληθητε εν μια ελπιδι της κλησεως υμων 4:5 εις κυριος μια πιστις εν βαπτισμα 4:6 εις θεος και πατηρ παντων ο επι παντων και δια παντων και εν πασιν υμιν

4:4 Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; 4:5 Um só Senhor, uma só fé, um só batismo; 4:6 Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós.

Há um corpo... Lembrando o capítulo 2, versos 15 e 16, temos o retrato da criação da igreja ("em um novo homem") formando "um corpo" — o corpo místico de Jesus. É uma figura que descreve a igreja e suas relações com os crentes (Rm 12.5; 1 Co 10.17; 12.12-30). Os crentes foram trazidos de fora (do mundo) para formarem "um só corpo". Isso significa pertencer ao seu corpo místico e participar de toda a sua vida. E a unidade "no corpo" - uma unidade espiritual que une todos os crentes a uma cabeça, Cristo. O fato de estar unido a Ele não significa estar ligado a uma organização ou mera associação terrena. A Igreja é uma instituição espiritual constituída de pessoas regeneradas. A Igreja é um corpo, uma unidade composta de judeus e gentios que formam um só povo em Cristo. Um só Espírito... A Igreja tem a vida do Espírito Santo. Assim como o corpo humano é dinamizado pelo espírito humano, o corpo de Cristo é dinamizado pelo Espírito de Cristo. Este corpo espiritual, que é a Igreja, é constituído por muitos membros que se movem no corpo de Cristo, e esse movimento é a vida operada pelo Espírito Santo na obra da regeneração (2 Co 5.17). Portanto, só farão parte desse corpo, aqueles que foram regenerados, isto é, que receberam uma nova vida: (Rm 8.9,11; 1 Co 12.13). Quando a Palavra de Deus afirma que "há um só Espírito", está declarando que o crente não pode receber outro espírito. Uma só esperança... A esperança aqui tem um significado presente e futuro. A razão da unidade dos crentes no corpo de Cristo está no fato de basearmos a nossa fé nessa esperança. Ela não é alguma coisa oca e vazia: tem conteúdo e peso de glória. Olhando o futuro, essa esperança aponta para o dia da redenção plena da Igreja, no arrebatamento. Isso não quer dizer que nossa redenção efetuada no Calvário seja incompleta, mas que ela tem três estágios. No passado, na cruz, nossa redenção da pena do pecado foi completa. No presente, depois de aceitarmos a obra de Cristo em nossos corações, tendo a pena do pecado já cancelada, ainda lutamos contra o poder do pecado que opera ao nosso redor, procurando minar o primeiro estágio. Finalmente, nossa esperança alcança o futuro mediante a nossa fidelidade a Cristo: então seremos redimidos do corpo de pecado. E a libertação do corpo de pecado e a conquista de um corpo espiritual (1 Co 15.44,52-54). A verdadeira unidade alcançará o seu clímax quando Cristo, nos ares (1 Ts 4.16,17), reunir a si a sua amada Igreja. A unidade do seu corpo, isto é, de Cristo se concretizará (Jo 17.21-23; Cl 3.4). Por que temos essa esperança? Porque fomos chamados para tê-la — "esperança da vossa vocação".

Um só Senhor... Quem é o senhor do corpo senão a cabeça que o comanda? Assim, Cristo é o Senhor da Igreja (1 Co 12.3; 8.6; Fp 2.11). Na afirmação de que há "um só Senhor" encontramos a segunda Pessoa da Trindade, que é Jesus Cristo. Ele se fez Senhor da Igreja porque a comprou com o preço de seu próprio sangue (1 Co 7.23). Essas palavras dão ênfase ao senhorio absoluto de Cristo em nossas vidas. Não se pode servir a dois senhores. Jesus é o nosso amo e a Ele obedecemos. Toda a autoridade do corpo está na cabeça — Jesus Cristo, Senhor e comandante do corpo. Ele é a suprema autoridade do corpo vivo da Igreja. Quando uma igreja local perde o senhorio de Cristo, certamente outro "senhor" usur­pou o lugar dEle. Uma só fé... Que tipo de fé é essa? Não é a fé para milagres, mas fé como crença. Esse tipo não é a fé denominacional, mas a fé que produz a vida cristã. Fé como corpo de doutrina ou aquilo que cremos. Em que nós cremos? Qual é o nosso credo? Existem vários credos, como o católico-romano, o luterano, o ortodoxo etc. Qual é o credo evangélico? É o credo neotestamentário, sem dúvida. A mesma confiança que une os crentes em Cristo, a mesma direção, é o gerador dessa fé. Temos um corpo de doutrina bíblico no qual baseamos nossa vida diária. A igreja vive por uma mesma fé. A Bíblia apresenta distintamente vários tipos de fé, como seja: fé para salvação (Rm 10.9,10; Ef 2.8); fé como fruto do Espírito (Gl 5.22); fé como dom do Espírito (1 Co 12.9); e fé como crença ou aquilo que diz respeito ao que cremos (Gl 1.23; 1 Tm 3.9; 4.1; 2 Tm 6.7; Jd 3). Este último tipo de fé (crença) é o tipo a que se refere o apóstolo Paulo. Quando ele destaca "uma só fé", refere-se à doutrina cristã, e não a vários tipos de fé. A igreja segue e obedece a uma só fé, isto é, tem uma só doutrina. Um batismo... Quando Paulo fala de "um só batismo", não está anulando os outros batismos dos quais a Bíblia fala e ensina. Os antipentecostais usam a expressão "um só batismo" para combater a doutrina do batismo com o Espírito Santo, mas isto fazem sem nenhum apoio das Escrituras, porque o autor da carta aos Hebreus fala da "doutrina dos batismos" (6.2). Não há choque algum quando outros textos bíblicos apresentam outros batismos. Entretanto, entendemos sim, que há um só batismo de arrependimento. É esse batismo que Paulo apresenta como requisito para se entrar na comunidade cristã. Desse tipo só pode haver um. O batismo com o Espírito Santo é outro batismo; por isso mesmo, só pode haver um tipo de batismo com o Espírito Santo. Quanto ao texto do verso 5, esse batismo representa a entrada comum de qualquer pessoa na vida da igreja local, como confis­são de fé. O batismo é o símbolo exterior da obra de regeneração operada pelo Espírito Santo no coração do pecador. Batizar signi­fica mergulhar, e quando alguém recebe Jesus, confessa isso publicamente através do batismo por imersão em águas.

Um só Deus e Pai... A primeira pessoa da Trindade é apresentada aqui sem a preocupação de colocá-la dentro de uma ordem. Deus Pai revela-se uma unidade composta de Pai, Filho e Espírito Santo. Não são três deuses, mas um só Deus em três Pessoas. Deus é Pai, e isto reveste-se de um significado familiar. Sua paternidade relaciona-se com os crentes em Cristo Jesus, os quais se tornaram "filhos de Deus" por adoção (Jo 1.12; Ef 1.5). Na afirmação de que há "um só Deus", vemos todo o absolutismo divino. Deus é absoluto, isto é, Ele é e não permite que outro seja (Is 45.22). A continuação do texto — "... e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos" — expressa a soberania tríplice do único Deus, a quem servimos. Primeiro diz: "o qual é sobre todos", e indica a transcendência e a soberania de Deus. Ele está acima de tudo e de todos. Já no segundo aspecto, a força das palavras "age por meio de todos" revela o domínio de Deus através de sua preciosa presença no interior das vidas regene­radas. Ele "age por meio de todos" no sentido de cobrir os seus fiéis, protegendo-os e provendo-os nas suas necessidades. Final­mente, o terceiro aspecto se vê quando diz: "está em todos", ex­pressão que fala da habitação do Espírito Santo dentro dos crentes, dinamizando-os com sua presença contínua. Deus é Pai, tanto por geração — como Criador, quanto por regeneração — nova criação (Ef 2.10; Tg 1.17,18; 1 Jo 5.7). No sentido espiritual, Deus é Pai apenas dos que fazem a sua vontade e se tornaram filhos por adoção através de Jesus Cristo. Uma vez gerados fisicamente, todos somos criaturas de Deus, porém como filhos de Deus somente o são os regenerados (2 Co 5.17).