Comentário de João Calvino: João 1:23

A voz que clama. Como ele teria sido culpado de imprudência se desempenhasse seu ofício de ensinar, mas não tivesse recebido uma comissão; assim ele mostra qual era o dever que ele tinha que fazer, e isso ele prova por uma citação do profeta Isaías 60:3. Daí, segue-se que ele não fez nada, a não ser o que Deus o mandou fazer. Isaías não está, de fato, falando apenas de João, mas, está prometendo a restauração da Igreja, onde ele prevê que haverá ainda vozes alegres sendo ouvidas, proclamando a preparação do caminho para o Senhor. Embora ele aponte para a vinda de Deus, quando Ele trouxe de volta o povo de seu cativeiro na Babilônia, no entanto, a verdadeira realização foi a manifestação de Cristo na carne. Entre os arautos que anunciou que o Senhor estava às portas, João ocupou o lugar principal.

Para entrar em questionamentos engenhosos, como alguns têm feito, ao entender o significado da palavra de “voz”, seria isso leviano. João é chamado de “uma voz”, porque ele foi chamado a “clamar”. É num sentido figurativo, sem dúvida, que Isaías dá o nome ao lugar de “deserto”, para a desolação miserável da Igreja, que parecia impedir o retorno do povo, como se ele tivesse dito, que seria realmente aberta uma passagem para o povo cativo em Babilônia, mas que o Senhor iria encontrar um caminho através de regiões em que não havia nenhuma estrada. Mas esse deserto visível, em que João pregou, foi uma figura ou a imagem da desolação terrível, que tirou todas as esperanças de libertação. Se esta comparação for considerada, será facilmente visto que nenhuma tortura tem sido dada às palavras do profeta na presente aplicação deles; pois Deus arranjou tudo de tal maneira, a colocar diante dos olhos do seu povo, que fossem sobrecarregados com as suas calamidades, um espelho de previsão.