O Judaísmo e o Nome de Deus


O Judaísmo e o Nome de DeusO Judaísmo e o Nome de Deus


O judaísmo ensina que, ao passo que o nome de Deus existe em forma escrita, é sagrado demais para ser pronunciado. O resultado foi que, no decurso dos últimos 2.000 anos, perdeu-se a pronúncia correta. Todavia, esta nem sempre foi a posição judaica. Uns 3.500 anos atrás, Deus falou a Moisés, dizendo: “Assim dirás aos israelitas: O SENHOR [hebraico: יהוה, YHWH], o Deus de vossos antepassados, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó, enviou-me a vós: Este será Meu nome para sempre, esta Minha designação por toda a eternidade.” (Êxodo 3:15; Salmo 135:13) Qual era esse nome e designação? A nota de rodapé na Tanakh diz: “O nome YHWH (tradicionalmente lido Adonai “o SENHOR”) tem ligação aqui com a raiz hayah, ‘ser’.” Assim, temos aqui o sagrado nome de Deus, o Tetragrama, as quatro consoantes hebraicas YHWH (Yahweh) que, na sua forma latinizada, vieram a ser conhecidas ao longo dos séculos em português como JEOVÁ (JEHOVAH, JAVÉ).

No decorrer da história, os judeus sempre deram grande importância ao Nome, embora a ênfase no uso tenha mudado drasticamente desde os tempos antigos. Como diz o Dr. A. Cohen em Everyman’s Talmud (O Talmude de Todos): “Reverência especial [era] atribuída ao ‘Nome distintivo’ (Shem Hamephorash) da Deidade que Ele revelara ao povo de Israel, a saber, o tetragrama, JHVH.” O nome divino era reverenciado porque representava e caracterizava a própria pessoa de Deus. Afinal, foi o próprio Deus quem anunciou Seu nome e disse a seus adoradores que o usassem. Isto é enfatizado pelo fato de o nome aparecer na Bíblia Hebraica 6.828 vezes. Judeus devotos, porém, acham ser desrespeitoso pronunciar o Nome do Eterno.

A respeito da antiga injunção rabínica (não bíblica) contra pronunciar o nome, A. Marmorstein, um rabino, escreveu em seu livro The Old Rabbinic Doctrine of God (A Antiga Doutrina Rabínica Sobre Deus): 

“Houve tempo em que essa proibição [de usar o nome divino] era inteiramente desconhecida entre os judeus . . . Nem no Egito, tampouco em Babilônia, os judeus conheciam ou guardavam uma lei que proibisse o uso do nome de Deus, o Tetragrama, na conversação comum ou nos cumprimentos. Todavia, do terceiro século AEC até o terceiro século AEC tal proibição existia e era parcialmente observada.” Não apenas se permitia o uso do nome em tempos anteriores, mas, como diz o Dr. Cohen: “Houve um tempo em que o livre e aberto uso do Nome, mesmo pelo leigo, era defendido . . . Tem-se sugerido que a recomendação baseava-se no desejo de distinguir o israelita do [não-judeu].” 

O que foi, então, que causou a proibição do uso do nome divino? O Dr. Marmorstein responde: “A oposição helenística [de influência grega] à religião dos judeus, a apostasia dos sacerdotes e dos nobres, introduziram e estabeleceram a norma de não pronunciar o Tetragrama no Santuário [templo em Jerusalém].” Em seu excessivo zelo de evitar tomar o nome divino em vão, eles suprimiram completamente o seu uso na conversação e subverteram e diluíram a identificação do Deus verdadeiro. Sob a combinada pressão de oposição e apostasia religiosas, o nome divino caiu em desuso entre os judeus.

Contudo, como diz o Dr. Cohen: “No período bíblico parece não ter havido escrúpulo algum contra o uso [do nome divino] na linguagem cotidiana.” O patriarca Abraão “invocou o SENHOR por nome”. (Gênesis 12:8) A maioria dos escritores da Bíblia hebraica, liberal, mas respeitosamente, usou o nome, até a escrita de Malaquias, no quinto século AEC. — Rute 1:8, 9, 17.

É bastante claro que os antigos hebreus efetivamente usavam e pronunciavam o Nome do Eterno. Marmorstein admite a respeito da mudança ocorrida mais tarde: “Pois neste tempo, na primeira metade do terceiro século [AEC], nota-se uma grande mudança no uso do nome de Deus, que provocou muitas mudanças na doutrina teológica e filosófica judaica, cujas influências se fazem sentir até os dias de hoje.” — Êxodo 15:1-3. 

A recusa de usar o nome divino enfraquece a adoração do Deus verdadeiro. Como disse certo comentarista: “Infelizmente, quando se refere a Deus como ‘o Senhor’, a expressão, embora correta, é fria e sem graça . . . Deve-se lembrar que, ao se traduzir YHWH ou Adonai por ‘o Senhor’, está-se introduzindo em muitas passagens do Velho Testamento um toque de abstração, de formalidade e de vagueza inteiramente estranho ao texto original.” (O Conhecimento de Deus no Antigo Israel [em inglês]) Quão triste é ver o sublime e significativo nome Yahweh, (ou Jeová, Javé, ou como queira), omitido em muitas traduções da Bíblia, considerando que ele aparece claramente milhares de vezes no texto hebraico original! — Isaías 43:10-12.