Comentário de John Gill: Apocalipse 1:8

 Eu sou o Alfa e o Omega,... Estas são as palavras do próprio Cristo, aparecendo ao mesmo tempo, e confirmando o que João tinha dito dEle, a respeito de Sua pessoa, ofícios e futuro próximo: Alfa é a primeira letra do alfabeto grego, e Ômega a última, e elas significam que Cristo é o primeiro e o último, assim como é interpretado em Ap 1:11, e é um caráter muitas vezes dado ao Ser divino em escritos proféticos; ver Isa 41:4; e não é pequena prova adequada da divindade de Cristo. Alfa é usado pelos judeus para o principal de pessoas ou coisas:

“Macmas e Mezonicha (nomes de lugares) são אלפא לסלת, “Alfa para a boa farinha”;

Ou seja, a melhor farinha está lá, eles são os lugares principais para se encontrar: e, de novo,

“Tekoah é אלפא לשמן, “Alfa para óleo”,

Ou o local principal para o óleo, o melhor óleo seria derivado ali (s): assim também Cristo, Ele é o Alfa, o chefe quanto à Sua natureza divina, sendo Deus sobre todos, bendito para sempre; e em Sua filiação divina, nenhum anjo ou homem, é em tal sentido, o Filho de Deus, como Ele é, e em todos os Seus ofícios, de Profeta, Sacerdote e Rei, Ele é o profeta, o grande Profeta da igreja, nunca falou o homem como Ele, ou ensinou como Ele fez, Ele é o sacerdote mais excelente, que excede Arão e todos os seus filhos, tem um sacerdócio imutável, e Ele é o Rei dos reis e Senhor dos senhores, que tem o lugar principal na igreja, Ele é a cabeça dela, e tem em todas as coisas a preeminência, Ele é o principal em honra e dignidade, está sentado à direita de Deus, e tem um nome acima de todo nome: Ele também, em certo sentido, pode-se dizer que é o Omega, o último e o mais baixo, como em Seu estado de humilhação, Ele não só foi feito menor do que os anjos, feito homem, Ele foi desprezado e rejeitado pelos homens, tomado em pouca conta, um verme, e Ele se humilhou, tornando-se obediente até à morte, e morte na cruz. Além disso, estas letras, o Alfa e o Ômega, sendo a primeira e a última do alfabeto, pode representar o todo, e parece ser uma expressão proverbial tomado dos judeus, que usam a frase, Aleph a Tau, para o total de qualquer coisa, cujas duas letras do alfabeto hebraico equivalem as mesmas, como estas, portanto, assim verte a versão Siríaca, Olaph e Tau, e da versão árabe Aleph e Ye. Diz-se em Eze 9:6, “começar pelo meu santuário”,

“R. Joseph ensinou, não leia “meu santuário”, mas “santificados”, esses são os filhos dos homens que confirmam “a inteira lei”, מאלף ועד תיו, “de Aleph ao Tau”;

O mesmo que de Alfa a Omega, ou de um fim ao outro: e um pouco depois,

“diz R. Levi, Tau é o fim do selo do Santo e Bendito Deus, pois diz R. Chanina, o selo do Santo e Bendito Deus é אמת, “verdade”: diz R. Samuel bar Nachmani, esses são os filhos dos homens que confrmam a inteira lei “de Aleph ao Tau” (t).

Assim Cristo, Ele é o Alfa e o Ômega, o primeiro e o último, o principal, o conjunto de todas as coisas, a partir do pacto da graça, Ele é o primeiro e último, Ele é o Mediador, a Garantia, e Mensageiro e o Ratificador e Confirmador dele, Ele é o pacto em si mesmo, todas as suas bênçãos e promessas estão nEle, Ele é a soma e a substância das Escrituras, tanto da Lei e do Evangelho, Ele é o fim em cumprir a Lei, e Ele é o tema do Evangelho, Ele está no primeiro versículo de Gênesis, e no último do Apocalipse, Ele é o Alfa e o Ômega, o primeiro e o último, o todo e todos no negócio da salvação, no caso da justificação diante de Deus, na santificação do Seu povo, na sua adoção, e glorificação eterna, Ele defende o primeiro e o último no livro dos propósitos de Deus e decretos, no livro do pacto, no livro das criaturas ou criação, sendo a Causa primeira e fim de todas as coisas, no livro da Providência, e no livro das Escrituras: do mesmo modo, uma vez que estas duas letras incluem todo o resto, esta frase pode ser expressiva da perfeição de Cristo, que, como Deus, tem a plenitude da Divindade, todas as perfeições da natureza divina em si e, como homem, é em tudo, semelhante aos seus irmãos, e, como Mediador, tem toda a plenitude do poder, a sabedoria, graça e justiça nEle, em quem todos os santos estão completos, e isso também pode denotar Sua eternidade, tendo Ele nenhum antes dEle, nem depois dEle, e que também é representado por algumas outras expressões seguintes:

O princípio e o fim;... A cópia de Alexandria, a edição Complutense, as versões Etíope e Siríaca omitem isso, o que parece ser explicativo da cláusula anterior, Alfa sendo o início do alfabeto, e Omega o término do mesmo; e corretamente pertence a Cristo, aquele que não tem começo, nem tem fim qualquer em relação ao tempo, sendo de eternidade a eternidade, e concorda com Ele ser a Causa primeira de todas as coisas, tanto da criação da nova e antiga, e o fim para o qual todos são referidos, sendo feito para Seu prazer, honra e glória, agora estas coisas

Diz o Senhor; Ou seja, o Senhor Jesus Cristo; a cópia Alexandriana, a edição Complutense, e a Vulgata Latina, e as versões Siríaca e Árabe, leem, “o Senhor Deus; e a versão Etíope apenas Deus:

Que é, e que era, e que há de vir,... Que é Deus sobre todos, “era” Deus desde toda a eternidade, e está para vir, como tal, Ele irá mostrar por: Sua onisciência e onipotência, exibidos no julgamento do mundo: que “é” agora o Salvador de todos os que vêm a Deus por Ele, “era” assim sob a dispensação do Antigo Testamento, sendo o Cordeiro morto desde a fundação do mundo, e “está para vir”, como tal, e deve aparecer uma segunda vez para a salvação dos que O buscam: esta frase é particularmente expressiva da eternidade de Cristo, que é, foi e sempre será, e da Sua imutabilidade, que é o mesmo que Ele sempre foi, e será sempre o mesmo, Ele é e foi, imutável em Sua pessoa, no Seu amor, e na força do Seu sangue, justiça, e do sacrifício, Ele é o mesmo hoje, ontem e para sempre. Esta mesma frase é usada para Deus Pai em Ap 1:4; e é mais uma prova da divindade de Cristo, e que é ainda mais confirmado pelo caráter que se segue,

O Todo-Poderoso,... Como Ele parece ser, através da criação de todas as coisas do nada, com respeito a todas as criaturas em seus seres; pelos milagres que Ele operou na terra, pela ressurreição de Si mesmo dentre os mortos, obtendo eterna redenção para Seu povo; e pelo fato de ter o cuidado e governo deles sobre Si, Aquele que mantém, sustenta, e leva até o fim, através de todas as suas enfermidades, aflições, tentações e provações.


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Notas
(s) Misn. Menachot, c. 8. sec. 1. 3. & Bartenora in ib. Assim Alfa penulatorum, "o principal dos pedintes", em Martial, l. 50. 2. Ep. 57.
(t) T. Bab. Sabbat, fol. 55. 1. & Avoda Zara, fol. 4. 1. Echa Rabbati, fol. 52. 1. Baal Hatturim em Deut. xxxiii. 21. & Raziel, fol. 9. & 12. & Yalkut Simeoni, par. 2. fol. 70. 1, 2.

Fonte: John Gill's Exposition of the Entire Bible de Dr. John Gill (1690-1771)