Comentário de John Gill: Apocalipse 1:14-16

APOCALIPSE, COMENTÁRIO, ESTUDO BIBLICO, TEOLOGICO1:14 Sua cabeça e seus cabelos eram brancos como lã, tão branco como a neve,... Em alusão a cabeça branca e os cabelos dos anciãos, dito como sendo grisalhos, e comparados quase como o florescer de uma amendoeira, Ecl 12:5; e aqui a lã e a neve pela brancura; veja Eze 27:18; e de acordo com os Judeus (p), צמר לבן, “lã branca”, é a lã do cordeiro recém nascido, onde é usada para encher vestes, de forma a não manchar; agora essas metáforas são expressivas da antiguidade de Cristo, que é o Pai eterno, que é desde toda eternidade; e de Sua seriedade e prudência, que para os antigos é sabedoria; Ele é a sabedoria de Deus, em quem todos os tesouros da sabedoria e conhecimento estão ocultos; e também de Sua glória e majestade, sendo o brilho da glória de Seu Pai; e da mesma forma de Sua verdadeira e própria deidade, visto que essa descrição é o mesmo que do Ancião de dias em Dan 7:9; pois por sua cabeça aqui não significa nem Deus o Pai, que é às vezes chamado de cabeça de Cristo, 1Cor 11:3, nem sua natureza divina, que é o principal nEle, nem sua liderança sobre a igreja; nem seus cabelos se referem aos eleitos, que crescem dEle, e são nutridos dEle, e são assim chamados por seu número, fraqueza, e pureza:

E seus olhos eram como chamas de fogo: Veja Dan 10:6; que pode designar a onisciência de Cristo, que alcança todas as pessoas, e coisas, e que é muito penetrante e pesquisador, descobre e trás a luz as coisas mais escuras e obscuras; e também os olhos de amor de Cristo sobre Seu povo, que possui tanto calor como luz; o amor de Cristo nunca esfria, e, sendo derramado nos corações de Seu povo, e os aquece; e na luz de Sua graciosa presença eles veem a luz; e Seu amor, como chamas de fogo, refina a alma deles no genuíno arrependimento pelo pecado: ou antes, seus olhos de ira e vingança, colocados sobre Seus inimigos, são aqui o significado: que será forte e furioso, trazendo rápida destruição sobre eles, diante do qual ninguém ficará de pé, do qual não há escapatória. É dito de Augusto Cesar, que ele tinha olhos de fogo (q),

1:15 E seus pés como latão reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha,.... O que significa, não sua natureza humana em um estado sofrido; ou de Seu povo, as partes menores e mais simples de Seu corpo místico, em um estado semelhante; ou Seus apóstolos e ministros, que eram apoiadores de Sua igreja, e auxiliavam com conhecimento espiritual, pelo qual, embora eles sofram muito, são permanentes e gloriosos; mas tanto o poder de Cristo em sustentar e apoiar Seu povo, no cuidado, governo e defesa deles; ou Seus caminhos, obras, Suas caminhadas nas igrejas, e todas as Suas administrações providenciais para com eles, que são santos, justos, e corretos, e serão manifesto; ou Sua ira e vingança em pisotear Seus inimigos:

E sua voz como o som de muitas águas;… Significando seu Evangelho, como pregado pelos Seus apóstolos e ministros, que foi ouvido longe e perto; veja Rom 10:18; e que fez um grande barulho no mundo; ou Sua voz de vingança sobre Seus inimigos, que será muito terrível e irresistível.

1:16 E ele tinha na sua mão sete estrelas,... Os anjos ou pastores das sete igrejas, Ap 1:20. Os ministros do Evangelho são comparados a estrelas, por causa da causa eficiente, Deus, que os tem feito e os estabelecido em seus lugares próprios, e para a Sua glória; e por causa do assunto deles, sendo o mesmo que os céus, assim os ministros são da mesma natureza com as igrejas; e por causa da forma deles, luz, que eles recebem do sol, assim pregadores do Evangelho recebem a luz deles de Cristo; e por causa da multidão e variedade, assim os ministros do Evangelho são muitos, e seus dons diferentes; e principalmente pela utilidade deles, para dar luz a outros, direcioná-los a Cristo, e para mostrar o caminho da salvação e governar a igreja: nem era incomum com os Judeus comparar bons homens com estrelas, e com as sete estrelas. O Targumista (r) diz que as sete lâmpadas no candelabro correspondem as sete estrelas para o quais os justos são parecidos. Esses são sustentados e guiados na mão direita de Cristo; que mostra que eles são amados por eles, e altamente valiosos para Ele; que eles são Seus, em sua possessão, na Sua disposição a quem Ele usa como instrumento para realizar Seu trabalho; a quem Ele apóia, e eles não afundaram debaixo de suas cargas; e que Ele preserva das quedas, e assim os sustenta para que eles permaneçam firmes na fé, e não serem levados pelos erros dos iníquos:

E de sua boca sai uma aguda espada de dois gume;... Que se refere a palavra de Deus; veja Ef 6:17; Isso é dito como saindo da boca de Cristo, é a palavra de Deus, e não do homem; e é uma espada afiada, contem reprovações afiadas contra o pecado, severas ameaças contra o pecado, e dá convicções cortantes disso, e é de dois gumes; e por seus dois gumes podemos entender a lei e o Evangelho; a Lei evidencia os pecados dos homens, os enche de pesar e tristeza por eles, sim, não apenas fere, mas também mata; e o Evangelho ressalta o melhor nos homens, sua sabedoria, santidade, justiça e privilégios carnais, na qual Ele confia; e o pior no homem, ensinando-o a negar a impiedade e os desejos mundanos: ou a palavra de Deus pode ser assim chamada, porque ela é tanto os meios de salvar como de destruir; é o sabor da vida para a vida para alguns, e morte para a morte a outros; e é tanto uma arma ofensiva e defensiva; é para a defesa dos santos, contra Satanás, falsos instrutores, e qualquer outro inimigo; ofensivo para eles, demolindo-os e destruindo-os com seus princípios: ou isso pode significar a sentença judicial sobre os iníquos, que estará lutando contra eles, e uma aflição para as nações do mundo; veja Ap 2:16; que os Judeus interpretam da lei (s):

E o seu rosto era como o sol quando brilha na sua força;… Ao meio dia; tal era a aparência de Cristo na sua transfiguração, Mat 17:2; e designa aqui a manifestação dEle mesmo nas glórias de Sua pessoa, e nas riquezas de Sua graça; que é o sol da justiça que levanta-se sobre Seu povo com luz, calor, alegria, e conforto; veja a frase em Jz 5:31, que os escritores judeus entendiam da força do sol tanto do sol solstice, e no meio dia, cuja hora é a mais forte, e normalmente a hora que mais brilha; a intenção da metáfora é de evidencia a glória e majestade de Cristo,


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Notas
(p) T. Bab. Sabbat, fol. 54. 1. Maimon. & Bartenora em Misn. Sabbat, c. 5. sec. 2.
(q) Servius em Virgil. Aeneid. l. 8. p. 13. 55.
(r) Jonathan ben Uzziel em Exod. xl. 4. (s) Yalkut Simeoni, par. 2. fol. 95. 4. & 131. 1.


Fonte: John Gill's Exposition of the Entire Bible de Dr. John Gill (1690-1771)