Devo Aprender Grego e Hebraico?

Devo Aprender Grego e Hebraico?

Devo Aprender Grego e Hebraico?


  1. Perguntas Bíblicas

Preciso aprender hebraico e grego para entender a Bíblia? Na verdade, a maioria das pessoas nem ao menos sabe que as Escrituras Sagradas foram escritas original e principalmente nessas duas línguas. Mas, no entanto, para boa parte dos que já costumam ler e estudar a Bíblia por algum tempo, não é segredo que a mesma não foi escrita em Português. Tendo isso em mente, será que precisamos dominar essas suas línguas extremamente complexas a fim de entendermos a mensagem de Deus para a humanidade encontrada nas suas páginas?

Caro leitor, hoje em dia tudo que podemos saber sobre o grego e o hebraico bíblico depende muito de achados arqueológicos literários para nos ajudar a entender como era a estrutura gramatical das línguas. O hebraico e o grego que se fala hoje é bem diferente do que era usado nos tempos bíblicos. Tendo isso em mente, é lógico que ninguém poderia conhecer melhor o hebraico bíblico do que os Judeus dos dias de Jesus, principalmente os líderes e instrutores religiosos que estudavam cada letra da Lei. Será que o conhecimento que os ouvintes de Jesus do primeiro século tinham do hebraico lhes dera a capacidade de entender melhor o ensino de Cristo?

Por exemplo, no episódio em que Jesus é encontrado no templo por José e Maria, Jesus diz:

“. . .Por que tivestes de ir à minha procura? Não sabíeis que eu tenho de estar na [casa] de meu Pai?” No entanto, não compreenderam a declaração que lhes fizera.” (Lucas 2:49-50)

Falando aos seus doze apóstolos sobre sua iminente morte, Jesus disse: “Eis que estamos subindo para Jerusalém e completar-se-ão todas as coisas escritas por meio dos profetas quanto ao Filho do homem. Por exemplo, ele será entregue a [homens das] nações e divertir-se-ão às custas dele, e será tratado com insolência e cuspirão nele; e, depois de o açoitarem, matá-lo-ão, mas no terceiro dia ele será levantado.” No entanto, não compreenderam o significado de nenhuma destas coisas; mas esta pronunciação lhes era escondida, e não sabiam as coisas faladas.” (Lucas 18:31-34).

Ao argumentar com os Fariseus, Jesus disse-lhes:

“Por que é que estou falando convosco? Tenho muitas coisas para falar a respeito de vós e para julgar. De fato, aquele que me enviou é verdadeiro, e as próprias coisas que ouvi dele, eu falo no mundo.” Não compreenderam que lhes falava do Pai. (João 25:25-27)

O apóstolo Paulo se dirigiu aos Judeus no idioma hebraico, no entanto, isso não teve nenhum efeito positivo neles. – Cf. Atos 21:40.

Nicodemos também não interpretou correto as palavras de Jesus sobre nascer novamente, conforme registrado no capítulo 3 do Evangelho de João; assim como é muito comum no evangelho citado, observar os discípulos interpretando erroneamente as palavras do Senhor Jesus.

Perceba que, apesar de todos esses serem pessoas que conheciam e falavam muito bem o hebraico bíblico, no final das contas, isso não serviu muito, uma vez que, ou eles não entendiam o que Jesus queria dizer, ou interpretavam erroneamente Suas palavras.

O mesmo ocorreu com o grego. Como é bem sabido de todos, o N.T. foi escrito originalmente em grego koiné, ou grego comum. Será que os Gregos que entendiam essa língua como ninguém, foram mais perspicazes em entenderem os mistérios e as revelações do Cristianismo Apostólico ao lerem as cartas neotestamentárias? Escrevendo aos Cristãos em Corinto, Paulo disse: “Os gregos procuram sabedoria;...” e o Cristo para eles era “tolice” (1 Cor. 1:22-23). Vemos assim que o conhecimento do grego nesse caso também não influenciou em nada a compreensão das doutrinas cristãs para esses que, na verdade, consideravam-nas como “tolice”.

Que dizer então que não existe nenhuma utilidade em conhecer, ou até mesmo dominar, essas línguas bíblicas? Não, não é isso que queremos dizer. Pelo contrário, é muito útil saber grego e hebraico! Muitos sentem bastante prazer em ler os “originais”. O leitor também pode perceber que muitas das nossas matérias postadas aqui nos falam muito das palavras originais em grego e hebraico.

O grego e o hebraico são extremamente úteis para se compreender com maior exatidão verdades espirituais, uma vez que os idiomas bíblicos são bem mais exatos e complexos do que o Português e a maioria das línguas modernas. A verdade é que, uma tradução mal feita dos originais, hebraico e grego, pode desvirtuar totalmente o que Deus havia intencionado quando inspirou o escritor bíblico, levando-nos a erros de doutrinas e de comportamento.

Achei muito interessante, quando iniciei pela primeira vez a leitura do livro pseudepígrafo, não-inspirado, não-canônico, chamado Livro de Eclesiástico – não confunda com o livro inspirado de Eclesiastes. Esse livro escrito por Jesus Ben Sirá, no início do séc. II AEC, era uma coleção de ditos de sabedoria escritos em hebraico. Posteriormente, um neto de Jesus Ben Sirá, tentou traduzi-lo para o grego. No prólogo do livro, ele, como tradutor, atesta uma verdade bem conhecida, ao dizer:

“Exorto-vos então a consagrar à leitura deste livro boa vontade e atenção muito particular, e a perdoar-nos também quando, embora querendo dar uma imagem exata da sabedoria, não encontramos, entretanto, os termos desejados para expressá-la. Com efeito, as palavras hebraicas perdem sua força quando traduzidas em língua estrangeira, fato que não acontece com este livro somente, pois a Lei, os Profetas e os outros Escritos são, quando traduzidos, muito diferentes do texto original.” – Eclesiástico Prólogo § 3.

Tendo isso em mente, seria muito bom se todos nós, crianças, jovens e idosos, pudéssemos ler as Escrituras nos originais, para que assim pudéssemos ler sem a ajudar de um tradutor, que às vezes deixa de expressar com exatidão as ideias originais.

Então, a final de contas, devo ou não aprender as línguas originais? É ou não importante aprender hebraico e grego? Bom, o que queremos dizer com essa consideração é que ninguém é obrigado a aprendê-las para entender a Palavra de Deus, para entender a vontade dEle para nossas vidas. Queremos dizer que saber hebraico e grego, como mostrado nos exemplos no início dessa consideração, não garante que ninguém fará uma perfeita interpretação dos pensamentos de Deus.

Nos exemplos bíblicos mencionados de pessoas que falavam hebraico e grego com fluência, se observa que eles não compreendiam, ou não conseguiam interpretar corretamente as palavras sagradas de nosso Senhor Jesus, porque o problema estava no coração deles, faltava-lhes verdadeiro amor por Deus, e não conhecimento das línguas na cabeça.

Nós percebemos que Deus deseja que Sua palavra seja traduzida logo no Pentecostes de 33 EC, quando o próprio Deus fez com que a mensagem do Cristianismo [e por extensão a Bíblia como um todo] fosse traduzida em vários idiomas instantaneamente, conforme nos mostra Atos 2:7-11.

Aprender as línguas originais, hebraico e grego, pode ser muito recompensador e satisfatório, assim como muito útil na compreensão de algumas passagens. No entanto, lembre-se de que isso não é garantia de nada, que a qualidade de nosso coração e nossa comunhão com Deus, junto com o maior de todos os Interpretes das Escrituras, o Espírito Santo, é que o Pai nos fala hoje ao coração, ao ponto de que tanto as pessoas mais simples, intelectualmente falando, como as mais eruditas, podem, com a ajuda de uma boa tradução das Escrituras, entender os pensamentos, leis e preceitos de Yahweh.