Comentário do Livro de Números Cap. 1


Números 1:1-3

Introduzindo o livro de Números, o escritor inicia com a conjunção ו “e”. Não precisamos entender como um sequência imediata das palavras de Levítico 27:34, mas uma sequência narrativa dos tratos de Yahweh com Seu povo. – Cf. Esboço do Livro de Números; Visão Geral do Livro de Números

A introdução do livro é uma ordem de Yahweh para que Moisés fizesse uma “soma” (ASV), “censo” (AMP) do hebraico רֹאשׁ “cabeça, principal, soma, total”. Vemos uma ordem extremamente organizada vinda da parte de Deus, pois a contagem deveria ser feita assim como lhes fora ordenado por Ele. Segundo Yahweh, a contagem deveria ser feita (1) “segundo as suas famílias”, (2) “segundo a casa de seus pais”, (3) “pelo número de nomes” (4) “todos os machos”, (5) “cabeça por cabeça”, (6) “da idade de vinte anos para cima”, (7) “todos os que saem para o exército de Israel”.

Essa ordem recai sobre Moisés e Arão. (v. 3)

Números 1:4-16.

Para haver uma maior organização Yahweh ordena que deveria haver um homem que seria representante de sua tribo, e isso em cada uma das doze tribos de Israel. Por isso que, ao final do trabalho de contagem, em Números 1:44, se menciona Moisés, Arão e “doze homens”, que eram os maiorais da nação de Israel, homens que representavam as suas respectivas tribos, no total de doze tribos, sendo assim doze maiorais.

Os versículos mencionam por nome a cada um dos representantes tribais dos filhos de Israel:

1. Elizur (Tribo de Rubem)
2. Selumiel (Tribo de Simeão)
3. Nasom (Tribo de Judá)
4. Netanel (Tribo de Issacar)
5. Eliabe (Tribo de Zebulão)
6. Elisama (Tribo de Efraim)
7. Gamaliel (Tribo de Manasses)
8. Abidã (Tribo de Benjamim)
9. Aiezer (Tribo de Dã)
10. Pagiel (Tribo de Aser)
11. Eliasafe (Tribo de Gade)
12. Aira (Tribo de Naftali)

O relato concluir fazendo uma declaração formal da designação de serviço que recai nos ombros desses homens escolhidos por Yahweh.

Números 1:17-19

Esses versículos mostram a obra em ação, já organizada, cada maioral responsável pela contagem de sua tribo respectivamente. Esse trabalho profundamente organizado auxiliou Moisés a cumprir tudo “assim como Yahweh mandara” (v. 19)

Números 1:20-43

Do versículo 20 até o 43 temos a contagem totalizada de cada tribo, sendo especificada. Perceba a organização do povo de Deus. Cada versículo começa com “e os filhos de...”, depois é dado o nome da tribo em questão e no final o número correspondente dos que se enquadravam nas características dos que deviam fazer parte da contagem.

Números 1:44-46

O versículo 44 mostra a conclusão do registro, conforme foi divinamente ordenado por Yahweh e levado a cabo por Moisés, Arão e os 12 maiorais correspondentes de cada tribo. O número total dos que correspondiam às características mencionadas por Deus em Números 1:2 e resumida aqui no versículo 45 é de 603.550 mil varões. Vale lembrar que esse não é o número da totalidade de israelitas, e sim das pessoas que “saem para o exército em Israel”. (1.3)

Números 1:47-51

Yahweh passa agora a dar ordens no que diz respeito aos Levitas. A tribo de Levi não deveria ser registrada, nem ser incluída, na soma entre os filhos de Israel. Deus dá ordens no que tange aos deveres religiosos dos levitas, sendo estes encarregados do Tabernáculo [hebr.: mishkan] do Testemunho e de todos os seus utensílios e de tudo que pertence ao Tabernáculo. Eles estão responsáveis pela montagem e desmontagem do mesmo sempre que necessário devido à peregrinação; eles devem montar e desmontar o Tabernáculo do Testemunho. O final do versículo 51 conclui dizendo que “qualquer estranho que se chegar [i.e ao Tabernáculo] deve ser morto.” Era isso um exagero, tirar a vida de um ser humano apenas pelo fato de estar onde não deveria?

Lógico que não! Não vou tentar dar aquelas respostas do tipo: “Ora, Deus decide quem vive e quem morre, se Ele quis assim, então fim da história.” Pensar assim só leva mais e mais pessoas a (1) acreditar que o Deus do A.T era um tirado, (2) pensar que Deus no geral não tem escrúpulos, (3) tornar-se agnóstico, ateu ou no mínimo um deísta.

Embora, de fato, como “Juiz de toda a terra” (Gn. 18:25), Deus possa decretar a vida ou morte de indivíduos. No entanto, assim como no caso de juízes humanos, deve haver sempre um excelente motivo para aplicar a pena capital em alguém.

Nesse caso em consideração, nós devemos levar em conta que a nação teria um grande privilégio, que era ser a sustentadora e propagadora da verdade religiosa. Dentre todos os povos da terra, Yahweh separou os judeus para serem o canal, embora não exclusivo, por meio do qual o Deus Criador de todas as coisas Se revelaria ao mundo e divulgaria as verdades no tocante a moralidade e espiritualidade das pessoas.

Uma das coisas que Yahweh desejava transmitir para esse povo era a diferença entre certo e errado, bem e mal, santo e profano, assim como a pecaminosidade do homem em comparação com a santidade de Deus. A coisa mais importante que temos é a nossa vida; assim, exigir Deus a pena de morte para quem transgredisse esse mandamento servia para mostra o quão sério Yahweh encarava as coisas sagradas relativas ao Seu Tabernáculo.

Mesmo assim, não devemos encarar essa descrição, assim como tantas outras, apenas como um “capricho” de um deus tribal. Ninguém considera a vida de um ser humano mais importante que o próprio Criador da vida. Não devemos achar que essa lei era uma coisa estabelecida perpetuamente e sem razões sólidas. Para ilustrar isso, imagine, caro leitor(a), se entrasse alguém hoje em uma congregação (templo, igreja) onde seja considerado um local sagrado, e essa pessoa fizesse algum ato que fosse uma profunda blasfêmia, acha que um raio sairia cortando o céu para atingi-lo, ou que o chão racharia para engolir tal pessoa? Lógico que não! Nenhuma morte causada por forças sobrenaturais ocorreria, nem os membros teriam o direito de “destruir” tal pessoa por tirar-lhe a vida. (Pelo menos não em países democráticos).

Essa não é a ideia que os livros legislativos do A.T querem nos passar. Tudo aquilo era apenas um lição para mostrar qual era a condição do homem antes de Cristo, que o homem estava destinado apenas à “punição”, “morte”, “castigo”, “sofrimento”, e que ele estava longinquamente separado de Deus. Por isso que, no N.T, com a vinda de Cristo, essas menções quase que desaparecem, pois Ele era o que precisávamos. (Col. 2:17) Com Cristo veio a verdadeira civilização no sentido moral e comportamental da palavra. Portanto, hoje, viver ou morrer em termos religiosos não é decidido mais assim.

Número 1:52-53

Por último, Yahweh dá instruções com respeito ao agrupamento nos acampamentos quando estiverem se estabelecendo em alguma região. A ordem é que as 12 tribos de Israel, chefiadas pelos 12 maiorais, deveriam ser divididas em 4 divisões de 3 tribos cada uma. Essa deveria ser a forma ordeira e organizada que o povo de Yahweh deveria seguir sua peregrinação. (Cf. 1 Coríntios 14:40) E o versículo de número 53 conclui o capítulo por relembrar os da tribo de Levi da grande seriedade que era cuidar de suas obrigações relativas ao Tabernáculo. Eles deveriam acampar ao redor do mesmo para proteger de qualquer entrada indevida.