Livros na Comunidade de Qumran

APOCALIPTICA, LITERATURA, APOCRIFOS, JUDAÍSMO, ESTUDO BIBLICOS, TEOLOGICOS
Esse número de livros foi aumentado consideravelmente pelas descobertas no Qumran, perto da costa do Mar Morto. Entre os milhares de fragmentos encontrados, há muitos de caráter apócrifo e, em particular, apocalíptico; alguns são escritos em hebraico e outros em Aramaico, e outros, segundo informações, em uma escrita secreta. Aparentemente esses escritos eram muito populares entre os membros da comunidade de Qumran e talvez alguns deles tenham sido, de fato, escritos lá.

Muitos fragmentos de escritos apocalípticos relatados no Livro de Enoque têm vindo à luz, escritos em hebraico e aramaico. Um deles tem muito em comum com I Enoque 94-103, com sua narrativa das admoestações aos justos e infortúnios aos pecadores, e faz referência, em várias ocasiões, ao “segredo futuro” por meio do qual os mistérios da presente era, enfim, serão revelados. Essa é uma idéia bem comum entre os apocalípticos como, por exemplo, em II Esdras. Outra série de fragmentos contém uma narrativa do nascimento de Noé, conhecida previamente apenas em I Enoque 106. E possível que esses façam parte de escritos perdidos há muito tempo, o assim denominado “Livro de Noé”, reconhecido por muitos como sendo uma das fontes do Livro de Enoque. No entanto, encontrou-se outra coleção de fragmentos, escrita em aramaico, que descreve uma visão da Nova Jerusalém e demonstra um interesse particular no templo e em seu culto. A indicação é que esse escrito deve ter sido muito popular entre os Pactuantes, porque os fragmentos apresentam várias cópias e foram descobertos em várias cavernas de Qumran. Também foram encontrados fragmentos do Livro de Jubileus, um Testamento de Levi em aramaico (considerado uma fonte dos Testamentos dos Doze Patriarcas) e um Testamento de Naftali em hebraico.

Alguns escritos de caráter hagádico têm, também, vindo à luz entre os rolos de Qumran. Foram encontradas partes de uma obra similar ao Livro de Jubileus, por exemplo, que podem ser uma fonte desse livro ou uma recensão posterior dele, ou talvez possam representar um escrito independente, pois esse parece defender um calendário diferente, de algumamaneira, daquele dos Jubileus. De considerável interesse são os quarenta e nove fragmentos de um escrito hebraico que parece seguir o estilo do Livro de Deuteronômio, um tanto como Jubileus segue o Livro de Gênesis. Por isso ele é geralmente conhecido como “O Pequeno Deuteronômio” ou “As Palavras de Moisés”. E bem possível que tenhamos aqui uma história apócrifa dos patriarcas ou mesmo um documento até então desconhecido, “As Guerras dos Patriarcas”, que é uma das fontes de Jubileus (cf. 34.1-9) e os Testamentos do Doze Patriarcas (cf. Testamento de Judá 3-7).

Igualmente interessante também é a paráfrase aramaica de Gênesis 5-15 que adorna a narrativa bíblica com comentários hagádicos sobre o texto e tem muito em comum com nossa literatura apocalíptica. Fragmentos de outros livros de narrativas hagádicas também têm muito em comum com os escritos atribuídos a Jeremias e Baruque, mas que não podem ser identificados com qualquer dos escritos já conhecidos por nós. De particular interesse é o escrito pseudo-histórico situado no período persa, que lembra os livros de Ester e Daniel.


Fonte: Between the Testaments: From Malachi to Matthew, de Richard Neitzel Holzapfel.

Veja outros estudos bíblicos relacionados:

Cf. Literatura Não-canônica
Cf. O Cânon do Velho Testamento
Cf. As Escrituras na Dispersão