Os Macabeus e a Revolta dos Macabeus

Os Macabeus e a Revolta dos Macabeus



Logo, a resistência passiva abriu caminho à agressão aberta. A faísca para a revolta veio da vila de Modein, noroeste de Jerusalém, onde um sacerdote, Matarias, da Casa de Hasmon, vivia com seus cinco filhos (I Mac 2.1 ss). Quando um oficial sírio chegou a Modein para obrigar à realização de sacrifícios pagãos, Matarias não apenas se recusou a concordar, mas também matou um judeu apóstata que prestava sacrifícios e ao mesmo tempo matou o oficial sírio. Esse foi o motivo para Matatias e seus filhos fugirem para as montanhas, onde a eles se uniram muitos judeus zelosos (I Mac 2.23-28). De particular importância foi a adesão a suas fileiras dos Hasidim (I Macabeus 2.42 ss), para quem toda a cultura helenística e a influência estrangeira eram anathema, porque a presença deles “deu plena sanção religiosa à revolta.” Eles não poderiam ser considerados um partido dentro do Judaísmo, mas formavam um grupo de opinião muito poderoso. Eram oriundos, em maior parte, das classes mais pobres e dos distritos rurais, mas havia entre eles alguns homens proeminentes. Sua evidente devoção e zelo religioso viriam a ser vitais para o futuro da nação. A atitude deles é vividamente expressa no Livro de Daniel que, em sua forma presente, de algum modo, foi composto, no tempo de Antíoco, por um dos Hasidim.

A Revolta que se seguiu foi liderada sucessivamente por três dos filhos de Matarias: Judas (165-160 a.C.) cognominado Macabeus (“Martelador”?), Jonatas (160-143 a.C.) e Simão (142-134 a.C). Em suas campanhas obtiveram notável sucesso. No dia 25 de casleu (dezembro), 165 a.C, no mesmo dia em que o templo havia sido profanado três anos antes (I Mac 4.54), eles o purificaram e o rededicaram, sob a liderança de Judas, e a adoração foi restabelecida (I Mac 4.36 ss; cf. II Mac 10.1-7). Esse evento tem sido comemorado desde então na Festa judaica de Hanukkah (Dedicação), às vezes conhecida como a Festa das Luzes. As lutas continuaram, mas em 162 a.C. Lisias, regente de Antíoco V, ofereceu condições generosas ajudas e concedeu perdão total aos rebeldes, e plena liberdade religiosa (I Mac 6.58ss; II Mac 13.23s). Para convencê-los à conciliação, ele ordenou que Menelau fosse condenado à morte. Os Hasidim, cujos propósitos, por esse tempo, eram religiosos e não políticos, viram seus alvos atingidos e retiraram seu apoio aos Macabeus. Isso é indicado pelo apoio que deram a Alkimus, a quem Demétrio I (sucessor de Antíoco V), indicou como Sumo Sacerdote. Ele foi reconhecido pelos Hasidim como um legítimo Sumo Sacerdote da linha de Aarão. Judas, porém, não ficou contente com apenas a liberdade religiosa, já que buscava a independência política. Depois de relativo sucesso inicial, os judeus foram derrotados e o próprio Judas foi morto em Elasa em 160 a.C. (I Macabeus 9.18s). Alkimus morreu pouco tempo depois, e pelos próximos sete anos Jerusalém ficou sem Sumo Sacerdote.

Jonatas sucedeu a seu irmão Judas como líder dos judeus nacionalistas com a ajuda de seu outro irmão, Simão. Foi um tempo de intriga no qual vários rivais passaram a reivindicar o trono sírio. Em 153 a.C. Demétrio I (162-150 a.C.) teve de lidar com tal rival na pessoa de Alexandre Balas que afirmava ser filho de Antíoco IV.

Ambos tentaram cortejar a amizade de Jonatas, e no fim, Balas (150-145 a.C.) sobrepujou Demétrio designando-o Sumo Sacerdote em 152 a.C. (I Macabeus 10.15-17). Deve-se observar que o partido ortodoxo não elegeu o Sumo Sacerdote, mas quando muito, simplesmente aceitou a indicação feita pelo rei. Mais tarde, Jonatas foi confirmado no ofício de Sumo Sacerdote por Trifon, que estava agindo em nome do filho mais novo de Alexandre Balas. Mas Trifon, suspeitando cada vez mais do poder de Jonatas, matou-o em 143 a.C. (I Macabeus 12.48; 13.23).

Simão, que sucedeu a seu irmão Jonatas, começou a solidificar sua posição. Em 142 a.C. ele ganhou de Demétrio II (145-138 a.C.) imunidade de impostos e os judeus proclamaram sua independência (I Mac 13.41). Em 141 a.C. deram um passo a mais. Um decreto em bronze foi apregoado no Templo conferindo-lhe o ofício de Sumo Sacerdote com direitos hereditários: “Os judeus e os sacerdotes haviam consentido que Simão se tornasse seu chefe e sumo sacerdote, perpetuamente, até a vinda de um profeta fiel... e Simão aceitou. Prontificou-se a ser sumo pontífice, chefe do exército, governador dos judeus” (I Mac 14.41-47). O Sumo Sacerdote outrora hereditário na Casa de Onias e que havia sido usurpado desde a deposição de Onias III, agora voltava a ser hereditário na linha de Hasmoneu .

Aqui, então, nós vemos o surgimento de um estado judeu independente no qual o chefe civil e líder militar era, ao mesmo tempo, o Sumo Sacerdote. Essa união iria perdurar por toda a vida da Casa de Hasmoneu. A Simão, porém, não seria permitido morrer em paz. Em 134 a.C. ele foi traiçoeiramente assassinado por seu genro Ptolomeu. Seu filho, João Hircano, agora assumia o Sumo Sacerdócio (I Macabeus 16.13-17).

Os Macabeus, em nome do judaísmo, haviam conquistado uma ressonante vitória, não apenas sobre seus inimigos externos, mas também sobre toda a cultura que esses inimigos estavam determinados a impor sobre eles. Mas seria falso imaginar que a vitória decisiva havia sido ganha.



Fonte: Between the Testaments: From Malachi to Matthew, de Richard Neitzel Holzapfel.