A Teoria das Duas Fontes

PROBLEMA, SINÓTICO, ESTUDO BIBLICOS, TEOLOGICOS
Enquanto as três propostas estudadas acima tentam trabalhar sem a dependência literária entre os três primeiros evangelhos, as hipóteses da utilização colocam a dependência como condição.

Já citamos Agostinho e a sua solução que encontrou adeptos até no século XX (entre eles Theodor Zahn e, com restrições, Adolf Schlatter). Ele parte do princípio de que os evangelhos surgiram na seqüência em que estão no NT hoje. Assim, o evangelho de Mateus é o mais antigo, o evangelho de Marcos um extrato de Mateus, e Lucas se baseia nos dois.

Griesbach defendeu uma outra dependência. Ele também considera o evangelho de Mateus o mais antigo. O evangelho de Lucas dependeria de Mateus e o evangelho de Marcos seria um breve resumo dos outros dois. Essa hipótese não encontrou muitos simpatizantes por estar baseada em número excessivo de suposições.

A hipótese que se impôs foi a que Lachmann desenvolveu em 1835. Ele considerava o evangelho de Marcos o mais antigo. Os outros dois teriam se baseado, independentemente um do outro, em Marcos. Lachmann fundamentou a sua solução do problema sinóptico no fato de que Mateus e Lucas só concordam entre si na seqüência das perícopes quando têm a mesma seqüência de Marcos. No restante eles ordenam o seu material de forma totalmente autônoma.

A hipótese de Lachmann foi complementada por H. J. Holtzmann, que descobriu, ao comparar Mateus e Lucas, que estes dois evangelhos são caracterizados por uma semelhança quase literal nos textos que têm a mais do que Marcos, diferenciando-se, no entanto, na seqüência dos textos apresentados. Disso ele concluiu que Mateus e Lucas se basearam num texto grego comum. Ele chamou esse texto de fonte dos discursos, pois consiste em grande parte de discursos ou ditos, de Jesus. Hoje o texto é chamado também de documento dos logia, ou simplesmente, o documento Q (de “Quelle” = “fonte” em alemão).

Com isso estava formada a teoria das duas fontes, que diz que os evangelhos sinópticos se baseiam em duas fontes: no evangelho de Marcos e no documento Q. Visto que as conclusões faziam sentido e a hipótese era fácil de se aplicar, ela se tornou a proposta predominante para a solução do problema sinóptico até os dias de hoje. Recentemente, no entanto, tem surgido novamente a pergunta, se essa hipótese é realmente a mais adequada para o problema. Por essa razão apresentaremos nos próximos parágrafos os detalhes dos argumentos que apóiam essa teoria. Em seguida serão citadas as críticas e as possíveis alternativas.

Fonte: Bibelkunde und Einleitung zum Neuen Testament. (Estudos e Introdução ao Novo Testamento) de Gerhard Hörster.

Veja outros estudos bíblicos relacionados:

Cf. Hipótese dos Fragmentos
Cf. O que é um Evangelho?
Cf. Panorama dos Quatro Evangelhos