Carta de Judas — Introdução

O escritor desta curta epístola descreve-se como “Judas, servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago”. No Novo Testamento, há vários homens com este nome. Entre os apóstolos aparecem dois, Judas Iscariotes, o traidor, e Judas Tadeu (Lc 6.16; At 1.13), “irmão de Tiago”, segundo a ARC, e “filho de Tiago”, segundo a ARA. O escritor desta epístola tem sido identificado por alguns com este Judas, um dos doze. A designação “irmão de Tiago” não é sustentável na lista dos apóstolos; deve ser “filho de Tiago” como na ARA. Além disso, a referência aos apóstolos nesta epístola dá a entender que o próprio escritor não era um deles.

Tem recebido grande apoio outra interpretação que identifica o autor com o Judas mencionado como um dos irmãos de Jesus (Mt 13.55; Mc 6.3). Durante a vida terrestre de Jesus, Seus irmãos não criam nEle (Mt 12.46; Mc 3.31; Lc 8.19; Jo 7.3-9). Entretanto, são encontrados entre os discípulos no início do livro dos Atos (At 1.14), e Tiago tornou-se um dos líderes mais destacados da igreja em Jerusalém (At 15.13-21.18; Gl 2.9). E assim que muitos julgam que esta breve carta seja da autoria de Judas, o irmão menos conhecido de Jesus.

Nesta última hipótese, nada há na epístola que exclua a possibilidade de ela ter sido escrita no tempo da vida deste Judas, filho menor na família terrena de Jesus. As condições na igreja descritas na carta não são incompatíveis com as do fim do primeiro século, embora seja verdade que correspondem também à situação criada pelo gnosticismo no segundo século. 1Coríntos revela condições semelhantes àquelas mencionadas nesta epístola geral, cujo teor dá a entender que o autor se sente perturbado por novidades que apenas começam a insinuar-se na igreja. Por estas razões, alguns que não aceitam a autoria de Judas, irmão de Jesus, dão como data da epístola o fim do século primeiro. Se o autor não foi realmente Judas, irmão do Senhor, nada se sabe a seu respeito, exceto o nome.

A epístola foi escrita em conseqüência de uma situação que se produziu no seio da igreja. Homens, sob a profissão do Cristianismo, estavam-se metendo em franca imoralidade “tornando a graça de Deus em luxúria”. Outrossim, mostravam um baixo padrão moral em outros sentidos. Na teoria e na prática, estavam pervertendo a doutrina evangélica da graça. Ainda que a carta não tenha destino certo indicado no texto, parece ter sido escrita a alguma comunidade desconhecida de cristãos, membros de uma igreja gentílica. Essa igreja sentiu certa influência pagã, conhecida pelo autor, e por conseguinte uma falsa interpretação da fé cristã estava espalhando-se. O autor manda uma missiva enérgica para combater esta influência nociva, que ameaça os leitores, e, ao mesmo tempo, ele procura animá-los a resistir-lhe. Para uma consideração da provável afinidade entre esta epístola e 2Pedro, ver a Introdução ao comentário sobre 2Pedro e a nota introdutória em 2Pe 2.