Livro de Habacuque — Data e Fundo Histórico

Em Hc 1.6 somos informados que Deus estava levantando os caldeus (isto é, os babilônios) como um instrumento de castigo. Sem dúvida isso se refere ao império babilônico revivificado, que derrubou o enfraquecido império assírio no fim do quinto século A.C. Nínive foi destruída em 612 A.C. e Nabucodonosor, rei da Babilônia, derrotou Faraó Neco, do Egito, em Carquemis, em 605 A.C.

Três anos antes dessa batalha, Faraó Neco matou Josias, rei de Judá, em Megido (2Rs 23.29-30; 2Cr 35.20 e segs.), e estabeleceu reis títeres sobre o trono de Judá, porém, nem Faraó Neco nem eles eram adversários para o crescente poder da Babilônia, e assim, durante os vinte anos seguintes, Judá ficou à mercê dos caldeus e foi finalmente levado em cativeiro, em 586 A. C.

As profecias de Habacuque se referem claramente a esse período e podem ter sido entregues a público ou antes ou depois da batalha de Carquemis. Em ambos os casos, Habacuque teria sido contemporâneo de Jeremias (627-586 A. C.).

Em favor da data mais antiga temos a sugestão, em Hc 1.5, que o levantamento dos caldeus ainda era acontecimento futuro e, no tempo em que o profeta falou, era ainda algo que fazia as pessoas se admirarem (E. B. Pusey, por exemplo, data a profecia tão cedo como o fim do reinado de Manassés, isto é, tão recuada como a frase em vossos dias, em Hc 1.5, permite); em favor de uma data depois de 605 A. C. temos a descrição detalhada dos métodos de guerra dos caldeus, como algo já bem conhecido (Hc 1.7-11).

O reinado do mau rei, Manassés fora “uma época que provou a fé das almas piedosas” (Kirkpatrick). A reforma sob o rei Josias (637-608 A. C.) se tinha mostrado ineficaz, pelo que a iniqüidade e a perversidade (Hc 1.3) da desviada Judá deveriam ser castigadas. Por esse motivo Deus estava levantando os caldeus.

Esse o ponto de vista geral dos eruditos. Alguns, entretanto, referem Hc 1.2-4 não à desviada Judá, mas a algum opressor pagão. Esse opressor poderia ser a própria Caldéia; nesse caso, o texto teria de ser rearranjado para que os versículos 5-11 precedessem os versículos 2-4 (Giesebrecht) ou deveriam ser eliminados (Wellhausen). Ou o opressor poderia ter sido a Assíria: assim pensa Budde, que coloca os versículos 6-11 após Hc 2.2-4, e data a profecia logo depois de 625 A. C., quando Nabopolassar, o caldeu, se tornou independente da Assíria. Mas, nesse caso, por que a Assíria não é mencionada? Em terceiro lugar, há a possibilidade de referir-se ao Egito: assim pensa G. Adam Smith, que compara Hc 1.2-4 com 2Rs 23.33-35.

Porém, a queixa de Habacuque, em Hc 1.12-2.1 não é que Deus estava usando uma nação pagã para castigar outra, mas antes, que o Senhor estava usando uma nação pagã para punir Judá. A despeito da lei haver sido redescoberta no templo, em 621 A. C. (2Rs 22.8; cfr. Hc 1.4), o povo de Judá se inclinava para a violência e para a injustiça. O rearranjo do texto, para adaptar-se a uma teoria particular, é sempre um expediente duvidoso. Parece mais seguro aceitar o texto tal qual está e atribuir Hc 1.2-4 ao povo de Judá.

Um crítico conservador, W. A. Wordsworth, situa a entrega da profecia um século antes, fazendo Habacuque ser contemporâneo de Isaías, com cujas profecias encontra ele muitas afinidades em Habacuque. A data fixadora é, então, a captura de Babilônia pelo caldeu Merodaque-Baladã, em 721 A. C. Outros, com certa base de apoio à sua posição da parte das versões gregas, omitem inteiramente a palavra “caldeus”, em Hc 1.6, ou então, juntamente com Duhm, substituem-na pela palavra “Quitim”, isto é, gregos cipriotas, assim colocando o livro nos dias de Alexandre, o Grande, cerca de 333 A C. Tais pontos de vista exigem considerável manuseio no texto e não são muito plausíveis. Mas é interessante notar que os Papiros do Mar Morto, recentemente descobertos, que contêm o comentário de Habacuque embora lhe falte a primeira metade de Hc 1.6 traz a seguinte nota a respeito: “interprete-se (isso) como os Quitim, cujo temor está sobre todas as nações”. Isso, entretanto, pode ter sido apenas uma “aplicação moderna” de uma situação mais antiga.

Parece melhor, por conseguinte, situar a data do livro de Habacuque cerca de 600 A. C., ou um pouco antes.