Livro de Rute — Introdução e Posição no Cânon

LIVRO DE RUTE, INTRODUÇÃO, CÂNON
Nos LXX, na Vulgata e nas versões luteranas o livro de Rute aparece entre o dos Juízes e os de Samuel, como pertencendo ao mesmo período histórico. Constitui na realidade uma espécie de suplemento àquele e introdução a estes, mas não deixa de contrastar com qualquer deles no seu conteúdo. Em Juízes e Samuel são freqüentes as cenas de desordens e lutas, por vezes de grande envergadura. Põem-se em marcha exércitos. Israel é derrotado e oprimido, mas logo se faz ouvir a voz da liberdade e soam as trombetas da vitória em nome de Jeová. Surgem chefes de excepcional capacidade. Não raro o cenário é de selvajaria e sensualidade.

No livro de Rute, pelo contrário, deixam de se ouvir o tinido das armas e o tumulto da soldadesca enfurecida. É a vida simples do povo em toda a sua forma. Ergueram-se e logo tombaram grandes nações e grandes homens; venceram-se e perderam-se batalhas; intrigas e rivalidades nos lugares altos. A vida do povo continuava imperturbável, na calma tradicional de séculos. O amanho das terras, os velhos costumes do campo, a simplicidade dos noivados, a educação das crianças, a fé em Deus, tudo seguia o seu curso normal por detrás dum cenário de crueldade sanguinária, que nos descreve o livro dos Juízes.

Este fato e ainda a narração da história dos antepassados imediatos de Davi deve ter levado o Código hebraico a incluir o livro de Rute entre os chamados hagiógrafos, e o Talmude coloca-o em primeiro lugar, imediatamente antes dos Salmos. No manuscrito hebraico encontra-se entre os cinco megilloth ou rolos.