1 e 2 Carta aos Coríntios — Cidade de Corinto

O evangelho alcançou a cidade de Corinto, a principal da Acaia, cerca de vinte anos após a crucifixão de Jesus. A população era constituída de gregos nativos, colonos romanos e de judeus. A cidade estava situada na principal rota comercial entre o Leste e o Oeste, por isso havia uma corrente ininterrupta de comerciantes de espírito inquieto e vivaz. Nas próprias cartas aos coríntios descobre-se o efeito de tal atmosfera na vida dos crentes dali.

Somos informados a respeito de duas visitas de Paulo a Corinto em At 18 e At 20.1-3. Ele também manteve correspondência com aquela igreja em várias ocasiões, como recebia também cartas e informações dos crentes. (Veja-se 1Co 7.1; 2Co 2.4). As relações do apóstolo com a Igreja de Corinto revelam um caráter muito íntimo e pessoal. Ele foi o pioneiro na evangelização da cidade, (1Co 3.6 e 1Co 4.15) e acompanhava o crescimento daquela igreja com vivo interesse. Ali existiam dificuldades peculiares. Havia muito entusiasmo de mistura com muita propensão ao erro, algumas vezes o espírito sectário tomava vulto e parece que o Apóstolo teve seus detratores que procuraram minar sua influência. Isto se constata muito facilmente na segunda epístola.

A primeira visita a Corinto verificou-se no que chamamos de segunda viagem missionária de Paulo. Ali chegou ele após sua visita a Atenas, logo pregando na sinagoga (At 18.4). Paulo enfrentou tal oposição da parte dos judeus, que foi levado a declarar: “Sobre a vossa cabeça o vosso sangue! eu dele estou limpo, e desde agora vou para os gentios”. (At 18.6). Tais palavras parecem sugerir controvérsia sobre a culpa da crucifixão de Jesus. Que o apóstolo fez da Cruz seu assunto fundamental em Corinto, prova-o o que encontramos na primeira carta: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado”, (1Co 2.2). Talvez a experiência do apóstolo em Atenas o tivesse levado a esta decisão, o que é bem possível.

Ao mesmo tempo houve alguns convertidos de entre os judeus. O primeiro foi Áquila e sua esposa Priscila. Não eram naturais de Corinto, mas residiam ali e Paulo morou com eles (At 18.1-3). Depois vem Crispo, principal da sinagoga. (At 18.8). Este creu no Senhor com toda sua família. A seguir, vem Sóstenes (1Co 1.1) que pode ser o mesmo referido em At 18.17, como o “principal da sinagoga”. Se assim é, ele também recebeu a fé em Jesus Cristo. Mais tarde viajou com Paulo e esteve com ele em Éfeso, pois seu nome está na relação daqueles da Igreja de Corinto aos quais Paulo envia saudações na primeira carta (1Co 1.1). Todavia, o êxito mais importante de Paulo foi entre os próprios coríntios, a respeito dos quais se diz: “muitos dos coríntios... criam” (At 18.8). Também Deus lhe assegurou por meio de uma visão: “tenho muito povo nesta cidade” (At 18.10). Os judeus hostis continuaram a perseguir o apóstolo e, eventualmente, o trouxeram perante Gálio, lugar-tenente ou procônsul romano da Acaia (At 18.12). Gálio não deu atenção a esses judeus e o incidente refluiu sobre a cabeça de Sóstenes, que era o principal da sinagoga, isto através de uma demonstração antijudaica por parte da população grega (At 18.17). A menção do nome de Gálio como procônsul dá-nos razão de colocar a primeira visita de Paulo a Corinto entre os anos 50 a 55 do primeiro século, pois o consulado de Gálio é colocado no verão, ano 51, ou o mais tardar no ano 52. O apóstolo demorou-se ali cerca de dezoito meses (At 18.11), o que lhe deu excelente oportunidade para estabelecer a igreja naquela cidade. Não foi a sua maior permanência em um só lugar, pois lemos de sua estada por dois anos, mais tarde, em Éfeso (At 19.10).