1 e 2 Carta aos Coríntios — Data da Escrita

O valor da discussão deste assunto está simplesmente em reconstituir as circunstâncias que se relacionam com a redação de 1 e 2 Coríntios. Sabemos que Paulo demorou por dezoito meses em Corinto, na sua primeira visita, viajando depois, por mar, até Éfeso; visitou Jerusalém e Antioquia, percorreu os lugares da Ásia Menor onde, anteriormente, fizera trabalho missionário, voltando então a Éfeso onde demorou dois anos (At 18.11,18-23-19.1). Escreveu de Éfeso a primeira carta aos Coríntios, talvez um ano após sua chegada ali, no ano 55 A. D. A carta foi escrita, em parte para condenar o espírito faccioso existente entre eles, fato que lhe chegou ao conhecimento por intermédio dos membros da família de Cloe (1Co 1.11) e, em parte, para repreender os coríntios por motivo de um ato de baixa imoralidade cometido por um membro daquela igreja e contra quem eles não tomaram as medidas radicais que o caso exigia (1Co 5.1-8); e também foi escrita para responder a respeito de certas questões, sobre as quais lhe haviam solicitado conselhos (1Co 7.1). Parece que Timóteo já estava viajando para Corinto, quando Paulo escreveu esta carta (1Co 16.10) de modo que esta foi levada diretamente a Corinto por algum outro portador.

Sabemos com segurança que pouco tempo após Paulo haver escrito esta carta (embora não fosse a primeira que escrevera aos coríntios, como vemos em 1Co 5.9), ele mesmo partiu para Corinto via Macedônia (1Co 16.5). Embora tenha sido este o plano que ele estabeleceu finalmente, já havia previamente falado em ir primeiro a Corínto e, então, à Macedônia, voltando após a Corinto. Faz referência a esta intenção declarada antes (2Co 1.15-16) porque parece que alguns ficaram ofendidos por causa da modificação do plano, e tentaram, fazendo referências aviltantes, solapar sua influência entre os coríntios. Poderíamos ainda supor que o portador que levou a primeira carta aos coríntios regressou logo a Éfeso, com informações sérias a respeito do estado daquela igreja. Em conseqüência disso, Paulo, em vez de visitar Corinto imediatamente escreveu às pressas uma carta (que não chegou até nós), na qual repreendeu os coríntios um pouco severamente, carta que enviou a Corinto pelas mãos de Tito. (Veja-se 2Co 2.3-4,9 e 1Co 7.5-16). Isto deixou o apóstolo muito preocupado e muito ansioso por saber, logo que possível, como os coríntios tinham reagido a tal reprovação. Tito tinha de voltar pela Macedônia; e Paulo deixou Éfeso e foi primeiro a Trôade e, depois, à Macedônia, no intuito de encontrar Tito o mais breve possível. Quando o encontrou ficou muitíssimo alegre em saber, por intermédio dele, que aquela carta severa tivera efeito benéfico, e que os coríntios haviam reconhecido plenamente o ponto de vista do apóstolo (2Co 2.12-14). Em consequência disto escreveu a carta que chamamos 2 aos Coríntios e enviou Tito de volta com a mesma, juntamente com outros dois irmãos (2Co 8.16-24). Esses entregaram a epístola e também completaram o recolhimento de uma coleta que tinha sido levantada em Corinto para os crentes pobres em Jerusalém (2Co 8.11). 2 Coríntios foi portanto escrita da Macedônia e expressou a alegria de Paulo sobre os resultados alcançados em Corinto. Nela, todavia, o apóstolo também não hesitou em ministrar-lhes as lições a respeito da “discórdia” sobre a qual se deteve nos últimos quatro capítulos (1Co 10.1-13.10).

Esta reconstituição é apenas conjectural e não é aceita por muitos. Alguns admitem que essa carta tão severa e mencionada em 2Co 2.3 é a mesma 1 Coríntios; outros sugerem que 2 Coríntios, como a possuímos, é constituída de duas ou três divisões tomadas de epístolas diferentes, escritas por Paulo aos coríntios em diferentes ocasiões. Tais divisões distintas seriam 1 a 9, exceção feita de 1Co 6.14-7.1, e 1Co 10.1-13.10. Tal possibilidade não pode ser desdenhada e a ela nos referiremos depois. Tal ponto de vista, porém, não é absolutamente necessário, e excelentes argumentos podem ser alinhados em favor da unidade de 2 Coríntios, como esta se apresenta. Em qualquer caso, porém, a autoria de Paulo quanto ao conteúdo total é indisputável.

Eventualmente, o próprio Paulo chegou a Corinto partindo da Macedônia, onde se demorou, por três meses. Uma vez mais teve de escapar à perseguição dos judeus e deixou Corinto por terra em vez de viajar por mar, como era sua intenção a princípio (At 20.3). Até onde é possível verificar-se, o apóstolo jamais voltou a Corinto.