1 e 2 Carta aos Coríntios — Propósito da Escrita

A índole do povo de Corinto, devido à população ser constituída de raças diversas, prestava-se a divisões partidárias. Até mesmo os crentes foram atingidos por esse espírito sectarista, ostentando os nomes dos líderes mais destacados, até mesmo o do próprio Cristo, para fazer sobressair suas várias divisões. Contra isto o apóstolo tinha de escrever de maneira muito forte, e os primeiros quatro capítulos de 1 Coríntios são destinados a salientar o mal do espírito sectário entre os cristãos. Paulo atribui a causa dessas divisões a uma falsa concepção de sabedoria, de um lado, e do ministério cristão, do outro. Essas divisões na igreja eram um mal, não somente por causa da amargura que produziam, mas também porque os mestres, cujos nomes os diversos partidos adotavam, não viviam a se opor mutuamente. Isto acontecia entre a população pagã de Corinto, onde existiam mestres de opiniões opostas. Por exemplo, Públio Élio Aristides, do segundo século informa que “em cada rua de Corinto pode-se encontrar um “sábio” que tem sua própria solução para os problemas da vida”. Esse partidarismo pode ser atribuído à natural tendência entre os gregos para certa inconstância mental; também uma curiosidade em torno de mistérios, a qual se satisfazia com muitas explicações possíveis, sem necessariamente decidir sobre qual era a verdadeira (cfr. At 17.21). Para que a comunidade cristã não seguisse tal tendência, o apóstolo escreveu energicamente: “Está Cristo dividido? Foi Paulo crucificado em favor de vós?” (1Co 1.13).

Todavia, temos apenas considerado os nomes dos partidos mencionados em 1 Coríntios. Todos esses nomes eram de homens genuinamente bons, e a dificuldade não foi causada por eles, mas pelos próprios coríntios que usavam os nomes deles para fins sectaristas. Em 2 Coríntios encontramos uma situação diferente, porque agora um grupo de outros “apóstolos” surgiu, solapando a influência de Paulo, que a eles se refere nos últimos quatro capítulos dessa epístola. Quando os menciona, é levado a usar de grande clareza de linguagem. Mostra a atitude deles. Diziam: “Suas cartas (de Paulo), com efeito, são graves e fortes, mas a presença dele é fraca, e a palavra, desprezível” (2Co 10.10). Contra estes Paulo tem de falar acerca de si próprio, de uma maneira que, obviamente, o fere. “Mas o que faço, e farei, é para cortar ocasião àqueles que a buscam” (2Co 11.12); e “o que falo, não o falo segundo o Senhor e, sim, como por loucura nesta confiança de gloriar-me” (2Co 11.17). E segue uma relação de experiências de sua própria vida, que não teríamos conhecido, se esses semeadores de desordens na igreja de Corinto não tivessem dado lugar a isso. Assim, do mal resultou o bem. O que nos inspira maior interesse, ao contemplarmos esses acontecimentos, é o fato de o apóstolo ter-se conservado em comunhão com tal grupo de crentes sectaristas. Não se separou deles, como se fossem gente intratável, mas cumpriu a ordem de nosso Senhor “não desesperando de ninguém” (ver Lc 6.35). E em meio a essas palavras de controvérsia pessoal, podemos sentir o espírito do amor cristão e a operação do princípio proclamado em 1Co 13. “Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol das vossas almas. Se bem que tanto mais vos ame, tanto menos seja amado por vós” (2Co 12.15).