Carta aos Gálatas — Data e Destinatários

ESTUDO BIBLICO, GALATAS, CARTA, EPISTOLA, LIVRO, TEOLOGIA
Para quem foi enviada a epístola aos Gálatas? e quando foi ela escrita? Essas perguntas têm provocado muita discussão em tempos modernos.

Em 25 A. C., Augusto formou a província romana da Galácia. Ele a usou como núcleo do país da Galácia (assim chamado porque uma tribo de gauleses se estabelecera ali no terceiro século A. C.), tendo como fronteira sulista mais ou menos o centro da Ásia Menor, e adicionou a isso uma porção do Ponto, no nordeste, parte da Frígia, no sudoeste, e a maior parte da Licaônia, ao sul. Esses distritos do sul e do sudoeste eram, política e comercialmente, os mais importantes da província, muito mais que os demais pelo fato de estarem providos de estradas. A questão que se levanta é a seguinte: Os gálatas para os quais Paulo escreveu são os descendentes dos gauleses da parte norte da província, cuja cidade principal era Ancira (a moderna Ancara), ou eram antes os Cristãos das cidades evangelizadas por Paulo durante sua primeira viagem missionária-em Antioquia da Psídia, Icônio, Listra e Derbe-todas as quais se tinham tornado parte da província gálata dentro de comparativamente poucos anos?

A “teoria da Galácia do norte” tem sido advogada por Lightfoot, Chase, e outros. O grande exponente da “teoria da Galácia do sul”, em tempos recentes, tem sido Sir William Ramsay, o qual tem sido seguido por uma grande hoste. Por diversas razões esta última teoria parece ser, no todo, a mais razoável. Em sua obra, Historical Commentary on Galatians, Ramsay apresenta, de modo assaz interessante, os paralelos entre o discurso de Paulo em Antioquia da Pisídia (At 13) e esta epístola, e declara que as coincidências são tão arcantes que tornam cada um dos dois documentos o melhor comentário sobre o outro.

Em 1Pe 1.1, “Galácia” significa, além de qualquer dúvida, a província romana. Muitos têm argumentado que Paulo, com seu agudo senso de cidadania romana, quase certamente teria usado esse termo com o mesmo sentido. Ramsay, Zahn, e outros, sustentam que Paulo sempre adota o ponto de vista imperial e escreve como romano. Seu emprego de termos tais como Acaia, Macedônia, Síria e Cilícia é considerado como consistentemente imperial; portanto, o mais provável é que ele tenha feito outro tanto com a Galácia.

Se Paulo alguma vez visitou o norte da Galácia, a primeira vez em que é possível que ele o tenha feito, foi na ocasião mencionada em At 16.6, mas a narrativa que ali se encontra não apóia a sugestão que ele tenha feito uma campanha missionária. Antes, ela parece significar que ele tão somente passou pelo extremo ocidental do país. Além disso, o período que é referido, em At 16.6, foi após o concílio de Jerusalém, no ano 50 D. C., quando a questão da circuncisão foi discutida e resolvida. Aqui surge um poderoso argumento contrário à teoria da Galácia do norte. Se os gálatas, para quem esta epístola foi escrita, precisam ser procurados no norte da Galácia, então, quando Paulo lhes anunciou o Evangelho, já teria nas mãos a autoridade dos decretos do concílio de Jerusalém (At 16.4). Também é improvável que naquela data, os judaizantes, que insistiam sobre a circuncisão, pudessem fazer tal impressão sobre os Gálatas, conforme, a julgar pela epístola, evidentemente conseguiram fazer. Isso parece implicar em que a epístola deve ter sido escrita antes do concílio de Jerusalém, uma conclusão a que chegou Calvino fazem muitos séculos, e que é a opinião de muitos estudiosos de nossa época. Nesse caso, a epístola aos Gálatas teria sido a primeira das cartas de Paulo, e provavelmente foi escrita no ano 49 D. C., pouco depois de sua volta da primeira viagem missionária, talvez em Antioquia.

Não há qualquer menção direta, no Novo Testamento, sobre a fundação de igrejas no norte da Galácia, e parece estranho procurar as gálatas referidos nesta epístola, nas hipotéticas igrejas do norte da Galácia, deixando de lado as bem conhecidas igrejas do sul da Galácia, as quais certamente eram caras ao coração de Paulo, como a esfera de sua primeira grande campanha missionária, as quais também ficariam destituídas de correspondência sua, se é que a teoria do norte da Galácia está correta. (Ver também comentário sobre Gl 2.13).

A visita de Paulo a Jerusalém, mencionada em Gl 2.1-10, é aqui considerada como a visita mencionada no fim do décimo primeiro capítulo do livro de Atos. O sentido de Gl 2.1 parece ser que a visita mencionada ali teve lugar catorze anos após a conversão de Paulo (ver comentários). A visita mencionada em Atos teve lugar, provavelmente, no ano 46 ou no início do ano 47 D. C., e nada existe que nos impeça de acreditar que a conversão de Paulo tenha tido lugar tão cedo como o ano 32 D. C. A visita mencionada na epístola aos Gálatas ocorreu “em conseqüência de uma revelação” (Gl 2.2, Moff.); a visita mencionada no livro de Atos teve lugar em conseqüência de uma revelação feita a Ágabo (At 11.28 e segs.). A visita referida em Gálatas resultou de uma conferência particular entre Paulo e os outros apóstolos; o concílio do ano 50 D. C. (At 15) foi uma reunião da Igreja inteira com a finalidade de discutir de modo mais formal, publicamente, após diversos anos de trabalho missionário entre os gentios, a questão sobre como deveriam ser tratados os gentios convertidos, para que se chegasse àquilo que poderia ser chamado de decisão oficial sobre o problema. O concílio chegou à mesma decisão no referente à circuncisão que a chegada na conferência particular, e Paulo menciona essa conferência particular a fim de indicar aos gálatas que a questão sobre a circuncisão, em princípio, já havia sido resolvida desde alguns anos antes dele lhes ter escrito. Finalmente, conforme diz C. T. Woods, em sua obra Life, Letters, and Religion of Paulo, “em Gl 2.11 aprendemos que Pedro, em Antioquia, vacilou acerca da questão judaística, levando Barnabé a fazer o mesmo. Isso é inteligível após uma conferência particular em Jerusalém; mas é quase impossível após o concílio de Jerusalém, onde Pedro fizera um discurso público, e após a primeira viagem missionária, onde Barnabé tomara uma atitude final para com a questão da circuncisão”.