Efésios 1:1-2 — Comentário do Novo Testamento

EFÉSIOS, NOVO TESTAMENTO, ESTUDO
I. SAUDAÇÃO INICIAL: EF 1.1S 1Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos (em Éfeso) e fiéis em Cristo Jesus. 2 - Graça a vós e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

1 Nas comunicações às igrejas Paulo recorre à forma de carta usual em sua época: começa pelo remetente, cita na sequência os destinatários e em seguida acrescenta o voto de bênção. O evangelho que lhe cabe proclamar é transmitido em formas de expressão amplamente conhecidas.

Como nas demais cartas, Paulo indica aqui seu nome grego (cf. At 13.9), completando-o com um duplo adendo: “apóstolo de Cristo Jesus” e “pela vontade de Deus”.

Uma vez que Paulo não pertencia ao grupo dos doze de Jesus nem às “colunas” da primeira igreja (Gl 2.9), vários segmentos de igrejas fundadas por ele lhe negavam o título de apóstolo. Essas controvérsias são testemunhadas sobretudo pela epístola aos Gálatas e pela segunda carta aos Coríntios. Apesar disso Paulo é apóstolo “de validade plena”, visto que foi chamado diretamente para esse ministério pelo Senhor exaltado (Gl 1.11ss). Em outras passagens ele ressalta particularmente o fato da vocação (Rm 1.1; 1Co 1.1).

Como apóstolo Paulo é mensageiro no lugar de Cristo (2Co 5.20), incumbido e autorizado por este. De acordo com Ef 4.7,10ss o ministério apostólico faz parte dos dons da graça; por meio dele os fiéis são preparados e a igreja é edificada. Nessa incumbência Paulo é “servo do evangelho” (Ef 3.6s) e “participante da administração geral de Deus” (Ef 3.2ss). Pela iluminação de Deus foi-lhe manifesto o mistério de Cristo: os gentios são co-herdeiros da graça (Ef 3.6; cf. Cl 1.27). O apóstolo Paulo e os demais apóstolos e profetas constituem o fundamento da igreja, que é aperfeiçoada pela pedra angular Cristo (Ef 2.20ss).

Paulo não é tudo isso em virtude de realização própria. Pelo contrário, o apostolado foi confiado como “dádiva da graça de Deus” (Ef 3.7s) a ele, “o mais humilde entre todos os santos”. Consequentemente, repercute em sua vocação a justificação unicamente pela graça. É preciso destacar esse aspecto de forma particular em vista da crítica pela aparente ausência da proclamação da justificação na carta aos Efésios.

A incumbência de apóstolo de Jesus Cristo está alicerçada na vontade de Deus. Apesar de ser como “nascimento fora do tempo” (1Co 15.1) - no aspecto exterior -, Paulo se considera “separado” para esse ministério “desde o ventre materno” (Gl 1.15, com referência intencional à eleição de Jeremias para o serviço de profeta: Jr 1.5). Isso torna-se perceptível na “vocação através de sua graça” (Gl 1.15), i.e, no encontro com Cristo na estrada para Damasco e na confirmação divina para seu serviço de proclamação. É nisso que se evidencia a vontade de Deus na vida de Paulo.

Quanto à problemática em vista das duas palavras “em Éfeso”, remetemos às Questões Introdutórias, acima, às p. 12s. Os destinatários são chamados de santos, p. ex., em proêmios de cartas. Essa é uma das designações mais comuns que os cristãos empregam uns em relação aos outros. Ao lado dela aparecem “discípulos” (nos evangelhos e em At), “irmãos” (2Co 1.1; Rm 16.14; 1Ts 5.26; Cl 4.15; etc.) ou “crentes” (At 10.45; Cl 1.2). O conceito também ocorre em diversas passagens da carta aos Efésios, porém será analisado mais detidamente neste momento.

Somente Deus é enaltecido como o Santo. O ser humano difere dele fundamentalmente, pelo fato de ser impuro, não-santo. Somente pode ser admitido ao recinto de Deus aquilo que foi purificado por ele e, por isso, santificado para servi-lo. No AT isso se refere a utensílios, lugares, tempos, aos sacerdotes e ao povo eleito como um todo.

Como “Santo de Israel” (Mc 1.24), cabe a Jesus a função de santificar: ele batiza com o Espírito Santo (Mt 3.11; cf. Rm 15.16; 1Co 6.11); ele santifica sua igreja ao entregar sua vida (Ef 5.25s); ele próprio foi feito santificação da igreja (1Co 1.30). A vida dos “santos”, portanto, é totalmente abarcada por aquilo que Jesus Cristo fez e faz por eles. Por essa razão eles são “santos… em Cristo Jesus”. Tal misericórdia abrangente e imerecida compromete cada um a expressar essa santidade atribuída em todas as ações, palavras e pensamentos, evitando o pecado em todas as suas formas. Se o Santo de Deus se volta dessa maneira ao mísero pecador, como este poderia dar-lhe uma outra resposta que não seja o desejo de viver exclusivamente para o Senhor, portanto, ser “santo”?

Os destinatários são “santos” e também “crentes” em Jesus Cristo: a santidade é dádiva, que os crentes recebem por intermédio de Jesus Cristo. Ela decorre da fé, e essa fé não é outra coisa senão fé em Jesus Cristo. Essas palavras de forma alguma visam aludir a dois grupos distintos de cristãos (batizados – postulantes ao batismo; santos do AT – do NT). Pelo contrário - os dois conceitos se explicam reciprocamente.

Quando a carta de Paulo “é lida na reunião dos destinatários, ouve-se a mensagem do próprio Cristo Jesus na fala de seu emissário. Aqueles aos quais o mensageiro de Deus e de Cristo escreve são um punhado de habitantes de pequenas cidades frígias no vale do rio Licos, que se reuniram em uma ou outra casa. A eles é dito que são “santos‟. São santos por serem pessoas que abraçaram a fé e foram batizadas. Estão em Cristo Jesus‟. Afinal, não estão apenas em Laodicéia ou Hierápolis ou qualquer outro local, mas sua morada e seu ambiente de vida também é Cristo Jesus, depois que Deus descortinou essa dimensão‟…”