Livro de Daniel — Escritor
O livro de Daniel é um produto do exílio e foi escrito pelo próprio Daniel. Pode-se notar que Daniel fala na primeira pessoa do singular e assevera que as revelações foram feitas a Ele (Dn 7.2,4 e segs.; Dn 8.1 e segs. Dn 8.15 e segs.; Dn 9.2 e segs. etc.). Visto, entretanto, que esse livro forma uma unidade, segue-se que o autor da segunda porção (capítulos 7 a 12) deve também ter composto a primeira (capítulos 1 a 6). O segundo capítulo, por exemplo, é preparatório para os capítulos 7 e 8, que desenvolvem seu conteúdo de modo mais completo e claramente o pressupõem. As idéias do livro refletem um ponto de vista básico e essa unidade literária tem sido reconhecida por eruditos de diferentes escolas de pensamento. O livro de Daniel reflete ambientes babilônicos e persas, e as alegadas objeções históricas (que serão discutidas no comentário) não são realmente válidas. Finalmente, uma aprovação indireta à autenticidade do livro parece encontrar-se nas seguintes passagens do Novo Testamento: Mt 10.23; Mt 16.27 e segs.; Mt 19.28; Mt 24.30; Mt 25.31; Mt 26.64.
Na Igreja Cristã tem sido tradicionalmente mantido, devido às reivindicações do próprio livro, que o Daniel histórico foi seu autor. A primeira dúvida conhecida a ser lançada sobre esse ponto de vista veio da parte de Porfírio de Tiro (nascido cerca de 232-233 A. C.), um vigoroso oponente do Cristianismo, que sustentava que essa obra era produto de um judeu que vivera no tempo dos macabeus. Durante os séculos XVIII e XIX, particularmente este último, a opinião de Porfírio parece ter ocupado posição proeminente no mundo erudito. Foi largamente mantido que o livro de Daniel fora escrito por um judeu desconhecido, que vivera no tempo de Antíoco Epifanes. Os motivos para tal opinião eram a notável exatidão pela qual aquele período é descrito em Daniel, as supostas inexatidões históricas no livro, e a alegada linguagem mais recente empregada na composição da profecia. Algumas vezes, igualmente, podia-se verificar uma atitude de aversão para com o caráter sobrenatural do livro, o que evidentemente tinha levado certos homens a procurarem negar seu autêntico caráter profético. Recentemente, contudo, talvez principalmente como resultado do estudo de Hölscher (“Die Entstehung des Buches Daniel”, em Theologische Studien und Kritiken, XCII, 1919, págs. 113-138), tem sido mais evidente a tendência de reconhecer a antigüidade de muito material básico em Daniel. Mas até hoje é mantido-erroneamente, segundo acreditamos-que o livro, em sua presente forma, vem desde o segundo século A. C., mas que muito de seu material, particularmente na primeira porção, é muito mais antigo.
Será útil considerar de passagem algumas das objeções históricas que têm sido levantadas contra o livro de Daniel.
Em primeiro lugar é alegado que o uso do termo “caldeu” deixa entrever uma era posterior ao século VI A. C. No livro de Daniel esse termo é empregado num sentido étnico para denotar uma raça e é igualmente usado de modo mais restrito para indicar uma classe particular, a saber, os sábios. Segundo é alegado, porém, este último uso só teve origem muito depois do tempo de Daniel. Em resposta pode-se dizer que Heródoto (cerca de 440 A. C.,) fala dos caldeus como uma casta de tal modo que demonstra que assim deveria ser considerado já desde muito antes desse tempo. Mas, visto que as referências extra-bíblicas são tão poucas, não sabemos bastante para asseverar que as representações em Daniel acham-se em erro.
Também têm alguns acusado que Daniel nunca teria sido admitido no sacerdócio babilônico nem teria sido feito seu cabeça. A leitura cuidadosa da profecia, entretanto, mostra que Daniel meramente exercia autoridade política (Dn 2.48-49). Não existe evidência de que ele tenha sido admitido ou iniciado em qualquer casta religiosa. Se o livro de Daniel fosse realmente de data posterior, como poderíamos conceber que o autor posterior pintasse Daniel a entrar numa casta pagã?
Algumas vezes tem sido mantido que não há alusões extra-bíblicas referentes ao relato da loucura de Nabucodonosor, pelo que concluem que essa narrativa bíblica não é histórica. Não obstante, o historiador Eusébio cita, de Abidenus, uma descrição sobre os últimos dias de Nabucodonosor na qual a linguagem é tal que subentende que algo estranho havia ocorrido perto do fim da vida do rei. Existem algumas similaridades nesse relato com o que é exposto em Daniel. Em Berossus, igualmente (registrado na obra de Josefo, Contra Apionem, 1.20) há certo reflexo sobre o fato da loucura do rei. Deveria ser salientado, entretanto, que mesmo que não houvesse ecos extra-bíblicos sobre o fato do desvario de Nabucodonosor, por si mesmo isso não significaria que o relato bíblico não é histórico.
A objeção a ter sido Daniel autor do livro também tem sido apresentada baseada no fato que a linguagem aramaica, na qual uma porção do livro foi escrita, pertence a um período posterior ao de Daniel. Apesar de que nada existe no próprio aramaico do livro de Daniel para excluir a autoria de Daniel, parece muito provável que os caracteres aramaicos são aqueles chamados aramaico “Reich” ou “Reino”; isto é, o que foi introduzido no Império persa por Dario I. Esse fato, entretanto, exclui Daniel como autor? De maneira alguma. É perfeitamente possível que o aramaico no qual o livro de Daniel se encontra escrito seja simplesmente uma modernização do aramaico no qual o livro foi originalmente composto. A questão da autoria do livro deve ser estabelecida sobre outras bases que não a da linguagem em que foi escrito.
Na Igreja Cristã tem sido tradicionalmente mantido, devido às reivindicações do próprio livro, que o Daniel histórico foi seu autor. A primeira dúvida conhecida a ser lançada sobre esse ponto de vista veio da parte de Porfírio de Tiro (nascido cerca de 232-233 A. C.), um vigoroso oponente do Cristianismo, que sustentava que essa obra era produto de um judeu que vivera no tempo dos macabeus. Durante os séculos XVIII e XIX, particularmente este último, a opinião de Porfírio parece ter ocupado posição proeminente no mundo erudito. Foi largamente mantido que o livro de Daniel fora escrito por um judeu desconhecido, que vivera no tempo de Antíoco Epifanes. Os motivos para tal opinião eram a notável exatidão pela qual aquele período é descrito em Daniel, as supostas inexatidões históricas no livro, e a alegada linguagem mais recente empregada na composição da profecia. Algumas vezes, igualmente, podia-se verificar uma atitude de aversão para com o caráter sobrenatural do livro, o que evidentemente tinha levado certos homens a procurarem negar seu autêntico caráter profético. Recentemente, contudo, talvez principalmente como resultado do estudo de Hölscher (“Die Entstehung des Buches Daniel”, em Theologische Studien und Kritiken, XCII, 1919, págs. 113-138), tem sido mais evidente a tendência de reconhecer a antigüidade de muito material básico em Daniel. Mas até hoje é mantido-erroneamente, segundo acreditamos-que o livro, em sua presente forma, vem desde o segundo século A. C., mas que muito de seu material, particularmente na primeira porção, é muito mais antigo.
Será útil considerar de passagem algumas das objeções históricas que têm sido levantadas contra o livro de Daniel.
Em primeiro lugar é alegado que o uso do termo “caldeu” deixa entrever uma era posterior ao século VI A. C. No livro de Daniel esse termo é empregado num sentido étnico para denotar uma raça e é igualmente usado de modo mais restrito para indicar uma classe particular, a saber, os sábios. Segundo é alegado, porém, este último uso só teve origem muito depois do tempo de Daniel. Em resposta pode-se dizer que Heródoto (cerca de 440 A. C.,) fala dos caldeus como uma casta de tal modo que demonstra que assim deveria ser considerado já desde muito antes desse tempo. Mas, visto que as referências extra-bíblicas são tão poucas, não sabemos bastante para asseverar que as representações em Daniel acham-se em erro.
Também têm alguns acusado que Daniel nunca teria sido admitido no sacerdócio babilônico nem teria sido feito seu cabeça. A leitura cuidadosa da profecia, entretanto, mostra que Daniel meramente exercia autoridade política (Dn 2.48-49). Não existe evidência de que ele tenha sido admitido ou iniciado em qualquer casta religiosa. Se o livro de Daniel fosse realmente de data posterior, como poderíamos conceber que o autor posterior pintasse Daniel a entrar numa casta pagã?
Algumas vezes tem sido mantido que não há alusões extra-bíblicas referentes ao relato da loucura de Nabucodonosor, pelo que concluem que essa narrativa bíblica não é histórica. Não obstante, o historiador Eusébio cita, de Abidenus, uma descrição sobre os últimos dias de Nabucodonosor na qual a linguagem é tal que subentende que algo estranho havia ocorrido perto do fim da vida do rei. Existem algumas similaridades nesse relato com o que é exposto em Daniel. Em Berossus, igualmente (registrado na obra de Josefo, Contra Apionem, 1.20) há certo reflexo sobre o fato da loucura do rei. Deveria ser salientado, entretanto, que mesmo que não houvesse ecos extra-bíblicos sobre o fato do desvario de Nabucodonosor, por si mesmo isso não significaria que o relato bíblico não é histórico.
A objeção a ter sido Daniel autor do livro também tem sido apresentada baseada no fato que a linguagem aramaica, na qual uma porção do livro foi escrita, pertence a um período posterior ao de Daniel. Apesar de que nada existe no próprio aramaico do livro de Daniel para excluir a autoria de Daniel, parece muito provável que os caracteres aramaicos são aqueles chamados aramaico “Reich” ou “Reino”; isto é, o que foi introduzido no Império persa por Dario I. Esse fato, entretanto, exclui Daniel como autor? De maneira alguma. É perfeitamente possível que o aramaico no qual o livro de Daniel se encontra escrito seja simplesmente uma modernização do aramaico no qual o livro foi originalmente composto. A questão da autoria do livro deve ser estabelecida sobre outras bases que não a da linguagem em que foi escrito.