“...E a vida era a luz dos homens.” João 1:4b

A segunda grande palavra chave do João com que nos defrontamos nesta passagem é a palavra luz. Esta palavra luz aparece não menos de vinte e uma vezes no quarto Evangelho. Jesus, como diz João aqui, é a luz dos homens. A função de João Batista consistia em assinalar aos homens essa luz que estava em Cristo. Em duas ocasiões Jesus se denomina a si mesmo a luz do mundo (8:12; 9:5). Esta luz pode estar nos homens (11:10), convertendo-os assim em filhos da luz (12:36). Disse Jesus: “Eu que sou a luz, vim ao mundo” (12:46, Trad. Brasileira).

Vejamos se podemos compreender algo desta idéia da luz que Jesus traz para o mundo. Sobressaem-se três pontos:

(1) A luz que Jesus traz é a luz que faz desaparecer o caos . No relato da criação, Deus se movia sobre o abismo escuro e sem forma que existia antes do princípio do mundo, e disse: “Haja luz” (Gên. 1:3). A luz recém-criada por Deus, chegando ao caos vazio, eliminou-o. Assim, pois, Jesus era a luz que resplandece nas trevas (1:5). Jesus é a única pessoa que pode evitar que a vida se converta em um caos. Entregues a nossas próprias forças estamos à mercê de nossas paixões, desejos, temores e medos. Quando Jesus aparece na vida, vem a luz. Um dos temores mais antigos do mundo é o temor à escuridão. A vida está em trevas, cheia de temores sem nome, instintiva, até que vem Jesus.

Há um conto de um menino que devia dormir em uma casa alheia. A proprietária de casa, acreditando ser amável, ofereceu-lhe deixar a luz acesa quando ele fosse para a cama. Com toda cordialidade, ele declinou o oferecimento. “Pensei”, disse a proprietária da casa, “que você poderia ter medo da escuridão.” “Oh, não”, disse o garotinho, “sabe, é a escuridão de Deus”.

Com Jesus, a noite é luz ao nosso redor, o mesmo que o dia.

(2) A luz que Jesus traz é uma luz reveladora . A condenação dos homens consiste em que amaram as trevas mais do a luz; e foi assim porque suas ações eram más, e aborreceram a luz para que ela não repreendesse as suas obras (3: 19-20). A luz Jesus que traz é algo que nos mostra as coisas tais quais são. Tira suas máscaras e disfarces; mostra as coisas em sua nudez, em seu verdadeiro caráter e valor. Faz muito tempo, os cínicos afirmavam que os homens odeiam a verdade porque a verdade é como a luz aos olhos doentes.
No poema do Caedmon há uma imagem estranha. Trata-se de uma imagem do último dia e no centro da cena há uma cruz; e a cruz irradia uma curiosa luz cor de sangre e a qualidade misteriosa dessa luz é que mostra as coisas tais quais são. Tiram-se os véus, os disfarces, o envoltório exterior, e todas as coisas se encontram reveladas na nua e terrível solidão do que são em essência.

Nunca nos vemos a nós mesmos até que nos vemos através dos olhos de Jesus. Jamais vemos como são nossas vidas até que as vemos à luz de Jesus. Muito freqüentemente Jesus conduz a Deus ao revelar-nos a nossa própria natureza.
(3) A luz que Jesus traz é uma luz que guia . Quem não possui essa luz anda em trevas e não sabe para onde vai (12:35). Quando um homem recebe essa luz e crê nela, já não anda em trevas (12:46). Um dos rasgos dos Evangelhos que ninguém pode passar por cima é a quantidade de gente que se aproxima de Jesus correndo para perguntar-lhe: “O que devo fazer?” Quando Jesus vem à vida termina o tempo de adivinhar e procurar provas, acaba-se o momento da dúvida, da incerteza e da vacilação. O caminho que era escuro se enche de luz; a decisão que estava envolta em uma noite de incerteza se ilumina.

Sem Jesus, somos como homens que procuram tateando em um caminho desconhecido durante um apagão. Com ele o caminho é claro.

Fonte: O NOVO TESTAMENTO Comentado por William Barclay