O Quebra-Cabeça da Vida

TEOLOGIA, ESTUDOS BIBLICOS, ATEÍSMO

Encontrando a tampa da caixa do quebra-cabeça da vida


Aquele que afirma ser cético em relação a um conjunto específico de crenças é, na verdade, um verdadeiro crente em outro conjunto de crenças.
PHILLlP E. JOHNSON
O professor de religião da faculdade fez à sua classe de bacharéis, que o observava com olhos arregalados, uma clara advertência, logo no primeiro dia do semestre: “Por favor, deixem suas crenças religiosas em casa!”. E acrescentou:

“Quando estivermos analisando o Antigo Testamento (AT), é possível que eu faça algumas observações que contrariem o que vocês aprenderam na escola bíblica. Não é meu propósito ofender qualquer pessoa, mas é meu propósito ser o mais objetivo possível na análise do texto”.

Aquilo pareceu fantástico para mim. Além do mais, eu [Frank] matriculei-me naquela classe porque estava no meio de uma busca espiritual. Não queria seguir alguma linha religiosa específica. Simplesmente desejava saber se Deus existia ou não. Que lugar melhor, pensava eu, para obter alguma informação objetiva sobre Deus e a Bíblia do que uma escola secular como a Universidade de Rochester?

Desde o início, o professor assumiu um ponto de vista bastante cético em relação ao AT. Ele lançou imediatamente a teoria de que Moisés não escreveu os cinco primeiros livros da Bíblia e de que muitas das supostas passagens proféticas da Bíblia foram escritas depois de os fatos terem ocorrido. Também sugeriu que os judeus originalmente acreditavam em muitos deuses (politeísmo), mas aquele Deus único finalmente venceu porque os editores finais do AT eram “fanáticos religiosos monoteístas”.

A maioria dos alunos não tinha problema com a análise do professor, exceto um jovem que se sentava algumas fileiras na minha frente. Com o passar do semestre, aquele aluno ficou visivelmente mais irritado diante das teorias céticas do professor. Certo dia, quando o docente começou a criticar algumas partes do livro de Isaías, o aluno não conseguiu mais disfarçar seu desagrado.

— Isso não está certo! — disse ele. — Esta é a Palavra de Deus!
— Esse rapaz é muito religioso — sussurrei à pessoa sentada ao meu lado.
— Olhe — relembrou o professor a toda a classe — , eu disse a vocês no início das aulas que deveriam deixar suas crenças religiosas em casa. Não poderemos ser objetivos se vocês não fizerem isso.
— Mas o senhor não está sendo objetivo — desafiou o aluno, enquanto se colocava em pé. — Está sendo abertamente cético.

Algumas pessoas da classe começaram a resmungar com o aluno. — Deixe o professor dar a aula!

— Sente-se!
— Isto aqui não é aula de escola bíblica!

O professor procurou abrandar a discussão, mas o agitado aluno saiu da sala batendo o pé e nunca mais voltou.

Embora eu tivesse alguma simpatia por aquele aluno e pudesse ver que o professor tinha realmente sua tendência religiosa, também queria ouvir mais sobre o que ele tinha a dizer em relação ao AT e, particularmente, sobre Deus. Quando o semestre terminou, eu estava razoavelmente convencido de que o professor tinha razão: o AT não deveria ser levado a sério. Contudo, ainda não contava com uma resposta para minha pergunta mais básica: Deus existe? Senti-me completamente insatisfeito no final da última aula. Não vi nenhuma conclusão, nenhuma resposta. Assim, aproximei-me do professor, que já estava cercado por vários alunos que faziam as últimas perguntas.

— Professor — disse eu, depois de esperar que quase todo mundo saísse-, obrigado pelas aulas. Acho que descobri uma nova perspectiva. Mas ainda tenho uma enorme dúvida.

— Por favor, prossiga — disse o professor.
— Inscrevi-me nesta disciplina para descobrir se Deus realmente existe ou não. Bom ... Ele existe?
Sem hesitar, nem mesmo por um instante, o professor disse: — Não sei.
— O senhor não sabe?
— Não, não tenho a mínima idéia.

Fiquei chocado. Senti vontade de repreendê-lo, dizendo: “Espere um minuto, você está ensinando que o AT é falso e nem mesmo sabe se Deus existe? O AT poderia ser verdade se Deus realmente existisse!”. Mas, uma vez que as notas finais não estavam fechadas, resolvi pensar melhor. Em vez disso, simplesmente saí, frustrado em relação a todo aquele semestre. Ele poderia ter respondido com um “sim” ou um “não” sinceros, apresentando suas razões, mas não um “eu não sei”. Essa resposta eu poderia ter obtido de qualquer homem desinformado que encontrasse no meio da rua. Esperava muito mais de um professor universitário de religião.

Mais tarde, descobri que as minhas expectativas eram muito elevadas em relação à universidade moderna. O termo “universidade” é, na verdade, uma composição das palavras “unidade” e “diversidade”. Ao freqüentar uma universidade, espera-se que a pessoa seja guiada a encontrar a unidade na diversidade ou, mais precisamente, de que maneira todos os diversos campos do conhecimento (artes, filosofia, física, matemática etc.) se encaixam para fornecer um quadro uniforme da vida. É uma tarefa nobre, mas é algo que a universidade moderna não apenas abandonou, mas reverteu. Em vez de universidades, temos hoje as pluriversidades. São instituições que consideram todos os pontos de vista tão válidos como quaisquer outros, por mais ridículos que possam ser, com exceção do ponto de vista de que apenas uma religião ou visão de mundo possa ser verdadeira. Esse é o único ponto de vista considerado intolerante e fanático na maioria das universidades.

A despeito da corrente de negações de nossas universidades, acreditamos que existe uma maneira de descobrir a unidade na diversidade. Descobrir tal unidade seria como olhar para a tampa da caixa de um quebra-cabeça. Assim como é difícil juntar todas as peças de um quebra-cabeça sem ter a imagem impressa na tampa da caixa, as diversas partes da vida não fazem sentido se não tiverem algum tipo de quadro unificador. A pergunta é: Será que alguém tem a tampa da caixa deste quebra-cabeça que chamamos de vida? Muitas religiões mundiais afirmam que a possuem. Será que alguma delas está certa?


Fonte: Não tenho fé suficiente para ser ateu de Norman Geisler & Frank Turek.