ASELGEIA [Lascívia] — Obras da Carne
ASELGEIA B, ARC, ARA; lascívia; BJ: libertinagem; Mar.: desonestidade; P.: sensualidade; BLH: as ações indecentes; BV, ansiedade pelo prazer carnal. Outras traduções: P: impureza (2 Co 12.21). Lightfoot vê um clímax do mal nas três palavras com que a lista das obras da carne começa. Porneia indica o pecado dentro de urna área específica da vida, a área das relações sexuais; akatharsia indica uma contaminação geral da pessoa inteira, maculando todas as esferas da vida; Aselgeia indica um amor ao pecado tão desenfreado e tão audaz que o homem deixou de importar-se com aquilo que Deus ou os homens pensam a respeito das suas ações. Um homem, diz ele, pode ser akathartos, impuro, sujo, e esconder o seu pecado, porque a opinião e a decência públicas ainda têm algum domínio sobre ele; mas o homem não se torna aselges (o adjetivo) até que choque a decência pública Conforme lightfoot entende, a essência de aselgeia é que chegou a uma etapa do pecado que não faz o mínimo esforço para ocultar ou mascarar o seu pecado; é o pecado que perdeu toda a vergonha. Passemos, portanto, ao exame da palavra.
Não aparece de modo algum nos livros canônicos do AT grego. Nos livros apócrifos ocorre duas vezes. Em Sab. 14.26 a perversão sexual, a desordem dentro do casamento, o adultério e a devassidão (aselgeia) estão vinculados e ali a conexão é com o pecado sexual. Em 3 Mac. 2.26 é usada de modo mais gera para atos audazes de impiedade.
No NT ocorre em Rm 13.13, onde está escrito que o cristão não pode viver em orgias e bebedices, nem em impudicícias e dissoluções, nem em contendas e ciúmes. Ali, as palavras aparecem em pares, e aselgeia está no par que tem a ver com o pecado sexual. Em 2 Coj2.21 ocorre em trio: “impureza, prostituição e lascívia” e ali, também, a referência diz respeito ao excesso sexual. Em Ef 4.19 há uma referência mais ampla, porque ali se diz que a dissolução é ávida por praticar todos os tipos de impureza. No NT parece mesmo estar ligada com o excesso sexual.
Quando nos voltamos à palavra nos escritores clássicos, seu alcance é muito mais amplo. Platão a usa para a pura insolência da iniqüidade (República 424 E.) Demóstenes a usa a respeito da brutalidade do homem mau, e da insolência arrogante de Filipe da Macedônia (Contra Meidias 21; Primeiro Filípico 4). Os próprios gregos a definiam como “violência audaz e ofensiva”. Basílio define-a como “uma disposição da alma que não possui nem pode suportar a dor da disciplina” (Basílio:Reg. Brev. Int. 67). É definida com o significado da “disposição de entregar-se a qualquer prazer.”
Há certos usos da palavra que dão vividamente a sua qualidade. Plutarco a usa a respeito de Alcebíades, que na sua libertinagem desenfreada desconsiderava totalmente a decência e a opinião públicas (Plutarco: cebiades 8). Josefo a usa duas vezes de modo muito revelador. Usa-a a respeito de Jezebel (Antigüidades dos Judeus 8.13.1). Usa-a a respeito de um ato infame de um soldado romano no recinto do Templo. 0 soldado em serviço durante certas festividades do Templo satisfaz publicamente suas necessidades fisiológicas, ofendendo, assim, a decência pública comum, e, o que era pior, contaminando desavergonhadamente o lugar santo (Antigüidades dos Judeus 20.5.3). Talvez o modo de Demóstenes empregar a palavra aselgõs, o advérbio, seja o mais revelador de todos. Fala de um homem que estava vivendo aselgõs, e diz acerca dele que era o tipo de homem para cuja convivência nenhum homem levaria a filha em hipótese alguma (Demóstenes: Contra Boeto 2.57).
Aqui, pois, temos o significado de aselgeia; denota o pecado tão aberto e atrevido que deixa de ter a mínima consideração por aquilo que alguém possa pensar, sentir ou dizer. Podemos, portanto, distinguir três características de aselgeia.
i. É a ação libertina e indisciplinada. É a ação do homem que está à mercê das suas paixões, impulsos e emoções, e em quem a voz calma da razão foi silenciada pelas tempestades da obstinação.
ii. Não respeita a pessoa nem os direitos dos outros, quem quer que seja. É violenta, insolente, abusiva, audaz. Qualquer consideração e simpatia pelos sentimentos dos outros deixou de existir.
iii. É completamente indiferente à opinião e à decência públicas. É bem possível que um homem comece a fazer uma coisa errada em segredo; no início, seu único alvo e desejo talvez seja ocultá-la aos olhos dos homens. Pode amar a coisa errada, e pode até ser dominado por ela, mas, mesmo assim, ainda tem vergonha dela. Mas lhe é perfeitamente possível chegar a uma etapa em que faz aberta e atrevidamente aquilo que fazia secretamente e às ocultas. Pode chegar a uma etapa do pecado em que perdeu de tal maneira a vergonha que já não se importa com aquilo que os outros vêem, nem com o que dizem, nem com o que pensam. O que há de terrível na aselgeia é que é o ato de uma personalidade que já perdeu aquilo que deveria ser sua melhor defesa — seu respeito-próprio, e seu senso de vergonha.
FONTE: As Obras da Carne e o Fruto do Espírito de William Barclay.
Não aparece de modo algum nos livros canônicos do AT grego. Nos livros apócrifos ocorre duas vezes. Em Sab. 14.26 a perversão sexual, a desordem dentro do casamento, o adultério e a devassidão (aselgeia) estão vinculados e ali a conexão é com o pecado sexual. Em 3 Mac. 2.26 é usada de modo mais gera para atos audazes de impiedade.
No NT ocorre em Rm 13.13, onde está escrito que o cristão não pode viver em orgias e bebedices, nem em impudicícias e dissoluções, nem em contendas e ciúmes. Ali, as palavras aparecem em pares, e aselgeia está no par que tem a ver com o pecado sexual. Em 2 Coj2.21 ocorre em trio: “impureza, prostituição e lascívia” e ali, também, a referência diz respeito ao excesso sexual. Em Ef 4.19 há uma referência mais ampla, porque ali se diz que a dissolução é ávida por praticar todos os tipos de impureza. No NT parece mesmo estar ligada com o excesso sexual.
Quando nos voltamos à palavra nos escritores clássicos, seu alcance é muito mais amplo. Platão a usa para a pura insolência da iniqüidade (República 424 E.) Demóstenes a usa a respeito da brutalidade do homem mau, e da insolência arrogante de Filipe da Macedônia (Contra Meidias 21; Primeiro Filípico 4). Os próprios gregos a definiam como “violência audaz e ofensiva”. Basílio define-a como “uma disposição da alma que não possui nem pode suportar a dor da disciplina” (Basílio:Reg. Brev. Int. 67). É definida com o significado da “disposição de entregar-se a qualquer prazer.”
Há certos usos da palavra que dão vividamente a sua qualidade. Plutarco a usa a respeito de Alcebíades, que na sua libertinagem desenfreada desconsiderava totalmente a decência e a opinião públicas (Plutarco: cebiades 8). Josefo a usa duas vezes de modo muito revelador. Usa-a a respeito de Jezebel (Antigüidades dos Judeus 8.13.1). Usa-a a respeito de um ato infame de um soldado romano no recinto do Templo. 0 soldado em serviço durante certas festividades do Templo satisfaz publicamente suas necessidades fisiológicas, ofendendo, assim, a decência pública comum, e, o que era pior, contaminando desavergonhadamente o lugar santo (Antigüidades dos Judeus 20.5.3). Talvez o modo de Demóstenes empregar a palavra aselgõs, o advérbio, seja o mais revelador de todos. Fala de um homem que estava vivendo aselgõs, e diz acerca dele que era o tipo de homem para cuja convivência nenhum homem levaria a filha em hipótese alguma (Demóstenes: Contra Boeto 2.57).
Aqui, pois, temos o significado de aselgeia; denota o pecado tão aberto e atrevido que deixa de ter a mínima consideração por aquilo que alguém possa pensar, sentir ou dizer. Podemos, portanto, distinguir três características de aselgeia.
i. É a ação libertina e indisciplinada. É a ação do homem que está à mercê das suas paixões, impulsos e emoções, e em quem a voz calma da razão foi silenciada pelas tempestades da obstinação.
ii. Não respeita a pessoa nem os direitos dos outros, quem quer que seja. É violenta, insolente, abusiva, audaz. Qualquer consideração e simpatia pelos sentimentos dos outros deixou de existir.
iii. É completamente indiferente à opinião e à decência públicas. É bem possível que um homem comece a fazer uma coisa errada em segredo; no início, seu único alvo e desejo talvez seja ocultá-la aos olhos dos homens. Pode amar a coisa errada, e pode até ser dominado por ela, mas, mesmo assim, ainda tem vergonha dela. Mas lhe é perfeitamente possível chegar a uma etapa em que faz aberta e atrevidamente aquilo que fazia secretamente e às ocultas. Pode chegar a uma etapa do pecado em que perdeu de tal maneira a vergonha que já não se importa com aquilo que os outros vêem, nem com o que dizem, nem com o que pensam. O que há de terrível na aselgeia é que é o ato de uma personalidade que já perdeu aquilo que deveria ser sua melhor defesa — seu respeito-próprio, e seu senso de vergonha.
FONTE: As Obras da Carne e o Fruto do Espírito de William Barclay.