Comentário de John Gill: Apocalipse 10:1

Comentário de John Gill: Apocalipse 10:1Apocalipse 10:1 E vi outro anjo forte,... Não é qualquer homem simples, como Justino, o imperador, como alguns pensavam, que enviou cartas para o estrangeiro a favor da doutrina ortodoxa, contra os arianos, que suponho, possa significar o livrinho aberto na mão direita, e menos ainda o papa de Roma, quer no sentido dos papistas ou protestantes, que mais tarde será representado como um tirano, tripudiando sobre os homens, tanto nas ilhas e no continente, e apresentando o livro de cânones e decretos, mas sim, como o Sr. Daubuz pensa, Lutero, com o resto dos reformadores, é a quem destina-se esse capítulo, e especialmente a profecia deste capítulo com respeita à Reforma, que teve início antes do final da sexta trombeta, e os epítetos dados a este anjo podem denotar Sua força e coragem, a Sua divina autoridade, a proteção dEle, e claro, a doutrina de paz e reconciliação que Ele trouxe: no entanto, isso não se destina a um anjo criado: Não é o anjo que fez o anúncio para a abertura do livro, e que se deslacrou em Ap 5:2, entre as quais tem o livro em sua mão direita aberto, que é uma grande diferença, nem por quaisquer outros, embora o epíteto de “poderoso” pertença aos anjos em comum e, embora este anjo jure pelo Deus vivo, e embora fosse um anjo por quem Cristo transmitia as coisas contidas no livro de João, mas o anjo não-criado, o Senhor Jesus Cristo, parece ser designado aqui, como aparece tanto pela comparação com Dan 12:7, e que deu poder às duas testemunhas, Ap 11:3, o que não pode concordar com um anjo criado, e, além disso, sendo adequado para manter o livro aberto como aquele que desatou os selos, e abriu-o, e para quem o epíteto de “poderoso” pode ser aplicado no sentido mais elevado, como Deus; e que o homem pode ser dito como jurando pelo Deus vivo. Com quem toda essa descrição concorda? Ele é, às vezes, chamado simplesmente de Anjo, Gen 48:16; por vezes, o Anjo do Senhor, e que parece ser o próprio Jeová, a segunda Pessoa, Gen 16:7, em comparação com Gen 19:1; e às vezes o Anjo da presença de Deus, Isa 63:9; e o Anjo do grande conselho na Septuaginta em Isa 9:6; e o anjo, ou mensageiro, da aliança, Mal 3:1, e poderá ser chamado assim porque Ele é um mensageiro de Deus como homem e Mediador, sendo enviado por Ele para declarar Sua vontade e redimir o Seu povo, e Ele é alguém “poderoso”, não só como Deus, sendo o poderoso Deus, o Todo-Poderoso, que aparece pela Sua criação de todas as coisas, não apenas por apoiá-la em seus seres, mas como Mediador, tendo todo o poder no céu e na terra, e um valor muito acima de todo principado, poder e força; e, como homem, foi feito forte pelo próprio Deus e pelo Seu povo: ele aparece agora como um “outro anjo”, distinto dos sete anjos que tinham as trombetas, seis dos quais já tinham soado, e particularmente do anjo da sexta trombeta, que tinha acabado de soar, embora alguns exemplares, como a edição Complutensiana, omita a palavra αλλον “outro”, e muito oportunamente que Ele apareça para o conforto de Sua igreja, quando as trombetas que tinham sido tocadas trouxeram desolação no império, ocidental e oriental, e quando tanto os anticristos ocidentais e orientais tinham aparecido antes da sétima trombeta soar, e trouxe a desgraça maior e última, e é dito:


Descer do céu;... O que não projeta Sua encarnação, isso foi muito antes dessa época, nem a sua presença espiritual com Seu povo, que lhes é comum em todas as eras, nem a sua segunda vinda ao julgamento, que será por uma descida nas nuvens do céu, por que ainda está no futuro, mas de forma visionária, Sua aparência e para Sua igreja e as pessoas nos tempos negros do anticristo, quando afligidos pelos turcos, por um lado, e o papa do outro.

Vestido de uma nuvem (n);... O que não é expressiva da natureza humana de Cristo, com que a Sua divindade foi velada em Seu estado de humilhação, de modo que poucos viram a glória de Sua Pessoa divina e da maior parte estimado como um homem simples, mas sim da obscuridade dEle, a Sua Pessoa, ofícios, e de graça, nesses tempos de trevas do anticristo, e até mesmo da luz fraca e de conhecimento que seus seguidores fiéis e verdadeiros tinham dEle naqueles tempos, que era um escuro dia nublado com eles, assim como toda a terra estava coberta com a escuridão do Papado e Maometanismo, embora pareça o melhor de tudo para interpretar esta frase da majestosa presença de Cristo em Suas aparições ao Seu povo, que ocorreu perante o povo de Israel, em uma nuvem de dia no deserto, que desceu no Monte Sinai, assim como no tabernáculo e no templo, que foi ofuscado por uma outra no monte, assim quando foi transfigurado, subiu em uma outra para o céu, e retornará também em uma, ou mais: além disso, a nuvem pode denotar o poder e a proteção de Deus presentes na Reforma, ver Sl 68:34;

E um arco-íris estava sobre sua cabeça;... Que era um sinal da aliança, ver Ap 4:3 e existe a nota nela: esta, com suas bênçãos, está sobre a cabeça de Cristo, antitípico José, que é o cabeça de sua igreja e povo, e Cristo aparece nesta forma neste momento em que o mundo estava transbordando com o papado e Maometanismo, o que mostra que Deus ainda estava consciente da Sua aliança, mesmo no pior dos tempos, e não permitiria que Sua igreja fosse esmagada, e afundada no dilúvio geral de anticristianismo, ou que as portas do inferno prevalecessem contra ela; Cristo, em tal discurso como este, muito oportunamente usa o recurso do arco-íris como aliança sobre a cabeça, como um Mensageiro da paz, que traz a boas novas, para deixar que o Seu povo saiba que dentro em pouco haveria dias felizes com eles, e haveria tempos de refrigério da presença do Senhor, que era sempre consciente de Sua aliança com eles, e que o Evangelho da paz e da reconciliação seria pregado a eles:

E o seu rosto era como o sol,... Ou parecia com o sol, como o fez no momento da Sua transfiguração, como Ele é descrito em Ap 1:16, e pode denotar clareza e pureza de Cristo, tanto como Deus, que é o brilho da glória de Seu Pai, e da expressão de Sua pessoa, e como homem, que é santo, inocente, sem contaminação, e também é expressivo de que a luta da natureza, graça e glória, que Ele transmite aos filhos dos homens, bem como da Sua beleza, amabilidade e da Sua pessoa, o que O torna como o sol, delicioso de se ver, e da majestade de Sua pessoa, e as manifestações de Si mesmo, para o grande conforto, prazer, e refrescor de seus santos;

E os seus pés como colunas de fogo;... O que pode se referir ao estado da igreja de Cristo neste momento, que estava no fogo das aflições, quando muitos dos seus membros foram convocados para as estacas, e queimados lá por causa do Evangelho, e ainda eram como “pilares”, firmes e inabaláveis. A igreja era como a sarça que Moisés viu que estava pegando fogo, mas não se consumia; Cristo estava com Seu povo quando eles passavam por isso, que não podia acender para destruí-los, assim como sua fé, o que foi achado por Ele como algo ser muito mais preciosa do que o ouro que perece: ou isso pode mostrar que Cristo era então, tanto para o Seu povo e aos seus inimigos; para Seu povo seus pés eram como “pilares” de bronze e mármore, para sustentá-los e apoiá-los em todas as suas provações e aflições, suas saídas em direção a eles de uma forma tanto de providência e graça, estavam de tal forma, como a reforçar e confirmar a fé deles contra todos os poderes do inferno e da terra, e eles eram como “fogo”, para consumir os inimigos dEle e deles, com Seus pés que Ele pisou em cima deles, e os sujeitou debaixo de Si, que eram como restolho, espinhos e abrolhos, facilmente consumido por ele, quando ao mesmo tempo, devia ser uma parede de fogo para Seu povo, e a glória no meio deles.


(n) εγκατειλημμενος τη νεφελη, Philo de Vita Mosis, l. 1. p. 608.

FONTE: John Gill’s Exposition of the Entire Bible