EIDOLOLATRIA [Idolatria] — Obras da Carne
EIDOLOLATRIA B, ARC, ARA, BJ, Mar., BV; idolatria; P: o culto aos falsos deuses; BLH: a adoração de ídolos. Pela natureza das coisas, a adoração aos ídolos parece difícil de ser entendida pelo homem moderno. É difícil compreender como qualquer homem poderia considerar com reverência um pedaço de madeira, pedra ou metal, por mais bela que seja a forma em que é esculpido, e por mais dispendiosa que seja a sua ornamentação.
Torna-se ainda mais difícil entender quando nos lembramos que muitos ídolos antigos eram tudo, menos belos. Por exemplo, a imagem de Artemis ou Diana no famoso templo em Éfeso era uma figura negra, achatada, desajeitada, coberta de muitos seios, e totalmente destituída de beleza. O fato é que no início ninguém adorava o ídolo. Este tinha duas funções. Visava localizar e visualizar o deus que representava. Originalmente, nunca houve intenção de que o ídolo fosse adorado.
Seu propósito era facilitar ao homem a adoração do deus a quem o ídolo representava, dando-lhe algo visível localizado num determinado lugar. Mas, uma vez que isto foi feito, era quase inevitável que o homem passasse a adorar o ídolo em lugar do deus a quem representava. Citemos como exemplo o desenvolvimento do culto ao imperador no Império Romano. Começou como expressão de gratidão pela segurança, pela integridade física, pela justiça e pela boa ordem que Roma trouxera aos homens. Roma varreu dos mares os piratas, e das estradas os bandidos. Trouxe a justiça imparcial para substituir o capricho dos tiranos.
Os homens ficaram tão gratos a Roma pelo seu braço forte e pela sua justiça imparcial que havia reis que legaram seus países a Roma ao morrerem. A partir desta gratidão surgiu a adoração à deusa Roma, o espírito de Roma; e esta adoração existia há mais de um século antes de a adoração ao Imperador, propriamente dita, ter surgido. Mas os homens desejam algo para ver, e Roma e o espírito de Roma foram, por assim dizer, encarnados no imperador. E assim, a adoração veio a ser transferida ao próprio imperador, fenômeno este que inicialmente deixava os imperadores romanos encabulados, procurando acabar com ele. Mas para aqueles que estavam nas cercanias do Império, o Imperador não passava de um nome, de modo que a sua estátua era erigida, e a adoração era transferida à estátua. Em primeiro lugar, o espírito invisível de Roma; depois, o imperador visível; e finalmente, a estátua presente — foi este o curso do desenvolvimento.
E aqui está o primeiro erro básico da adoração aos ídolos — a adoração aos ídolos é a adoração do objeto criado ao invés da adoração do Criador de todas as coisas. É exatamente isto que Paulo viu no seu esboço da gênese da idolatria.
O que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são por isso indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes se tomaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tomaram-se loucos, e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis (Rm 1.19-23).
Este tipo de idolatria ainda existe, porque, basicamente, ela é a adoração às coisas ao invés da adoração a Deus. Pode-se dizer que o deus da pessoa, sem dúvida alguma, é aquilo a que ela dedica seu tempo, seus bens e seus talentos; é aquilo a que ela se entrega. Em tempos recentes tem entrado em nossa língua uma expressão nova: “o sinal de status”. O sinal de status é aquilo que o homem deseja como prova e garantia externa de que alcançou certo grau de sucesso. O sinal de status pode ser uma casa em certo bairro da cidade, algum tipo de móvel ou eletrodoméstico que é cobiçado por muitos, mas possuído por poucos. Pode-se dizer com muita verdade que o sinal de status é o ídolo do homem, porque dedica-se totalmente à sua obtenção. Sempre quando algum objeto no mundo começa a ocupar o lugar principal em nosso coração, mente e intenção, esse objeto torna-se um ídolo, porque tomou o lugar que pertence a Deus.
É interessante e relevante o fato de que a idolatria é alistada imediatamente depois do grupo de palavras que descrevem os pecados sexuais. No mundo antigo, a idolatria e a imoralidade sexual estavam estreitamente ligadas. O escritor da Sabedoria de Salomão, diz: “A idéia de fazer ídolos foi a origem da fornicação, sua descoberta corrompeu a vida” (Sab. 14.12 — BJ). De onde vem esta associação?
Podemos ver esta conexão no AT. Emerge de modo vivido, impressionante e dramático na poesia do segundo capítulo de Oséias. A mãe, ou seja: Israel, disse: “Irei atrás de meus amantes, que me dão o meu pão e a minha água, a minha lã e o meu linho, o meu óleo e as minhas bebidas.” Então, a voz de Deus continua: “Ela, pois, não soube que eu é que lhe dei o grão, e o vinho, e o óleo” (Os 2.5, 8). Na Palestina, no antigo culto pré-israelita, os baalins eram deuses da fertilidade. Eram os deuses das forças por trás do crescimento da ceifa. Eram eles que davam o trigo, o vinho e o óleo. Israel voltou-se para eles, e, visto que Israel era a noiva de Deus, podia-se dizer que estava adulterando com deuses estranhos; logo, o adultério veio a ser o símbolo da apostasia, pois a apostasia era a infidelidade mediante a qual Israel se desviou de Deus, que era seu verdadeiro marido, para procurar um marido entre os deuses falsos.
Ora, conforme já notamos, entre todos os poderes de crescimento, o do sexo é o mais vivido, o mais vital e o mais poderoso. Tendo em vista este fato, o ato sexual veio a ser um ato de adoração e de glorificação a Deus; e, portanto, equipar os santuários antigos com prostitutas sagradas tornou-se um costume e as relações sexuais com elas vieram a ser um tipo de ato de adoração do poder da força da vida.
A atração que uma adoração deste tipo exerce sobre a parte mais baixa da natureza humana é bem óbvia. O homem natural preferiria isto muito mais às rigorosas austeridades da adoração verdadeira. Achava-se nisto o perigo terrível do culto de Baal contra o qual os profetas pleiteavam e bradavam.
A tragédia da idolatria era dupla. Nela, os homens adoravam o objeto criado ao invés do Criador de todas as coisas, e nela os homens usavam como adoração um ato, belo em si mesmo, de tal maneira que se tornou em pecado. Com um só golpe, a idolatria destruiu a adoração verdadeira e a pureza que é a mais sublime adoração.
FONTE: Obras da Carne e Frutos do Espírito de William Barclay.
Torna-se ainda mais difícil entender quando nos lembramos que muitos ídolos antigos eram tudo, menos belos. Por exemplo, a imagem de Artemis ou Diana no famoso templo em Éfeso era uma figura negra, achatada, desajeitada, coberta de muitos seios, e totalmente destituída de beleza. O fato é que no início ninguém adorava o ídolo. Este tinha duas funções. Visava localizar e visualizar o deus que representava. Originalmente, nunca houve intenção de que o ídolo fosse adorado.
Seu propósito era facilitar ao homem a adoração do deus a quem o ídolo representava, dando-lhe algo visível localizado num determinado lugar. Mas, uma vez que isto foi feito, era quase inevitável que o homem passasse a adorar o ídolo em lugar do deus a quem representava. Citemos como exemplo o desenvolvimento do culto ao imperador no Império Romano. Começou como expressão de gratidão pela segurança, pela integridade física, pela justiça e pela boa ordem que Roma trouxera aos homens. Roma varreu dos mares os piratas, e das estradas os bandidos. Trouxe a justiça imparcial para substituir o capricho dos tiranos.
Os homens ficaram tão gratos a Roma pelo seu braço forte e pela sua justiça imparcial que havia reis que legaram seus países a Roma ao morrerem. A partir desta gratidão surgiu a adoração à deusa Roma, o espírito de Roma; e esta adoração existia há mais de um século antes de a adoração ao Imperador, propriamente dita, ter surgido. Mas os homens desejam algo para ver, e Roma e o espírito de Roma foram, por assim dizer, encarnados no imperador. E assim, a adoração veio a ser transferida ao próprio imperador, fenômeno este que inicialmente deixava os imperadores romanos encabulados, procurando acabar com ele. Mas para aqueles que estavam nas cercanias do Império, o Imperador não passava de um nome, de modo que a sua estátua era erigida, e a adoração era transferida à estátua. Em primeiro lugar, o espírito invisível de Roma; depois, o imperador visível; e finalmente, a estátua presente — foi este o curso do desenvolvimento.
E aqui está o primeiro erro básico da adoração aos ídolos — a adoração aos ídolos é a adoração do objeto criado ao invés da adoração do Criador de todas as coisas. É exatamente isto que Paulo viu no seu esboço da gênese da idolatria.
O que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são por isso indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes se tomaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tomaram-se loucos, e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis (Rm 1.19-23).
Este tipo de idolatria ainda existe, porque, basicamente, ela é a adoração às coisas ao invés da adoração a Deus. Pode-se dizer que o deus da pessoa, sem dúvida alguma, é aquilo a que ela dedica seu tempo, seus bens e seus talentos; é aquilo a que ela se entrega. Em tempos recentes tem entrado em nossa língua uma expressão nova: “o sinal de status”. O sinal de status é aquilo que o homem deseja como prova e garantia externa de que alcançou certo grau de sucesso. O sinal de status pode ser uma casa em certo bairro da cidade, algum tipo de móvel ou eletrodoméstico que é cobiçado por muitos, mas possuído por poucos. Pode-se dizer com muita verdade que o sinal de status é o ídolo do homem, porque dedica-se totalmente à sua obtenção. Sempre quando algum objeto no mundo começa a ocupar o lugar principal em nosso coração, mente e intenção, esse objeto torna-se um ídolo, porque tomou o lugar que pertence a Deus.
É interessante e relevante o fato de que a idolatria é alistada imediatamente depois do grupo de palavras que descrevem os pecados sexuais. No mundo antigo, a idolatria e a imoralidade sexual estavam estreitamente ligadas. O escritor da Sabedoria de Salomão, diz: “A idéia de fazer ídolos foi a origem da fornicação, sua descoberta corrompeu a vida” (Sab. 14.12 — BJ). De onde vem esta associação?
Podemos ver esta conexão no AT. Emerge de modo vivido, impressionante e dramático na poesia do segundo capítulo de Oséias. A mãe, ou seja: Israel, disse: “Irei atrás de meus amantes, que me dão o meu pão e a minha água, a minha lã e o meu linho, o meu óleo e as minhas bebidas.” Então, a voz de Deus continua: “Ela, pois, não soube que eu é que lhe dei o grão, e o vinho, e o óleo” (Os 2.5, 8). Na Palestina, no antigo culto pré-israelita, os baalins eram deuses da fertilidade. Eram os deuses das forças por trás do crescimento da ceifa. Eram eles que davam o trigo, o vinho e o óleo. Israel voltou-se para eles, e, visto que Israel era a noiva de Deus, podia-se dizer que estava adulterando com deuses estranhos; logo, o adultério veio a ser o símbolo da apostasia, pois a apostasia era a infidelidade mediante a qual Israel se desviou de Deus, que era seu verdadeiro marido, para procurar um marido entre os deuses falsos.
Ora, conforme já notamos, entre todos os poderes de crescimento, o do sexo é o mais vivido, o mais vital e o mais poderoso. Tendo em vista este fato, o ato sexual veio a ser um ato de adoração e de glorificação a Deus; e, portanto, equipar os santuários antigos com prostitutas sagradas tornou-se um costume e as relações sexuais com elas vieram a ser um tipo de ato de adoração do poder da força da vida.
A atração que uma adoração deste tipo exerce sobre a parte mais baixa da natureza humana é bem óbvia. O homem natural preferiria isto muito mais às rigorosas austeridades da adoração verdadeira. Achava-se nisto o perigo terrível do culto de Baal contra o qual os profetas pleiteavam e bradavam.
A tragédia da idolatria era dupla. Nela, os homens adoravam o objeto criado ao invés do Criador de todas as coisas, e nela os homens usavam como adoração um ato, belo em si mesmo, de tal maneira que se tornou em pecado. Com um só golpe, a idolatria destruiu a adoração verdadeira e a pureza que é a mais sublime adoração.
FONTE: Obras da Carne e Frutos do Espírito de William Barclay.