A Inspiração do Novo Testamento

A Inspiração do Novo Testamento

A Inspiração do Novo Testamento

Os escritores do Novo Testamento estavam convencidos de que só em Cristo se encontrava o significado da história judaica e do Velho Testamento. Por outras palavras, que o desenrolar dos acontecimentos em Israel, desde o seu início e através de todos os tempos, bem como a composição do Velho Testamento foram orientados por Deus, tendo em vista a encarnação. As deduções desta doutrina levaram, naturalmente, à idéia teológica fundamental pela qual se entende a revelação. A idéia é esta: Deus, Criador Onipotente, que “faz todas as coisas segundo o conselho da Sua vontade” (Ef 1.11), previu a queda do gênero humano pelo pecado. Determinou, então, glorificar-Se através da Igreja; e, para isso, designou Seu Filho, que iria salvá-la, na qualidade de Ministro e Medianeiro de Deus. A história do mundo foi, e será sempre, nada mais nada menos que a execução do Plano divino, infalível sem dúvida, nos seus objetivos. Desde que o Filho de Deus apareceu para instaurar o Seu reino messiânico, foi enviado por Deus o Espírito Santo cuja missão no mundo era não só completar a revelação já começada na terra, em conformidade com os desígnios divinos, mas também, através da fé, conduzir o Seu povo à salvação prometida. A revelação do Plano de Deus era, pois, completada pelo Espírito, que o deu a conhecer aos apóstolos. Mas a plena execução só em Cristo se realizará com o Seu “aparecimento” (Gr.: parousia), quando a Igreja obtiver a sua perfeição.

Esta é, a traços largos, a doutrina do Novo Testamento acerca da revelação. Embora mais explícita nas Epístolas Paulinas (cfr. Rm 8.28-39; Ef 1.3-14; etc.) e no Evangelho de S. João (cfr. Jo 6.37-45; Jo 10.14-18; Jo 10.27-29; Jo 16.7-15; 17), não é difícil notá-la mais ou menos em todos os livros, podendo ser reduzidos a três classes os principais textos que a eles aludem.

1. TEXTOS REFERENTES À PESSOA DE CRISTO 

O Filho é a imagem do Pai (2Co 4.4; Cl 1.15; Hb 1.3), sendo assim a perfeita revelação do Pai aos que têm olhos para ver (Jo 1.18; Jo 14.7-11). Toda a “plenitude” de Deus habita no Filho encarnado (Cl 1.19; Cl 2.9). Todos aqueles que compreendem o significado da vida e morte de Cristo, reconhecerão os desígnios ou “a sabedoria” de Deus relativos à salvação da Igreja (Cl 2.2-3; 1Co 1.24; 1Co 2.7-10). Ninguém pode compreender a revelação sem uma luz espiritual vinda do alto (Jo 3.3-12; Jo 6.44-45; Mt 16.17; Gl 1.16).

2. TEXTOS REFERENTES AO PLANO DIVINO 

O Plano divino para a salvação do Seu Povo escolhido, tanto judeu como gentio, era “o mistério”, a divina “sabedoria”, que Deus concebeu antes da criação, mas conservou oculta até ao tempo dos apóstolos. Só então veio a lume o verdadeiro significado da eleição e da história de Israel, e bem assim da revelação do Velho Testamento. A finalidade de Deus foi sempre, não a salvação de uma das muitas nações do mundo, mas a criação duma nova nação, cujos membros seriam recrutados de todas as outras, e passariam por um novo nascimento espiritual (cfr. 1Pe 2.9-10). Os regenerados seriam glorificados, tal como o seu Chefe (“as primícias” do novo povo, 1Co 15.20,23), de sorte que, ao chegar ao Céu no Seu corpo glorioso, fosse um penhor e uma garantia para os que um dia partilhassem com Ele dessa glória. Várias vezes Paulo alude à revelação deste mistério (Ef 1.8-12; Ef 3.3-11; 1Co 2.7-10; Rm 16.25-26; Rm 11.25-36; 2Tm 1.9-11). A fonte desta revelação é Deus; o Mediador, Cristo (Gl 1.12; Ap 1.1); o veio de transmissão, o Espírito Santo (1Co 2.10-12; 2Co 3.15-18; 2Co 4.6; Ef 3.5). Para que pudesse ser transmitido intato à Igreja, o Espírito inspirou as palavras do testemunho apostólico (1Co 2.13), tal como inspirou as palavras de Cristo (Jo 3.34; Jo 12.48-50), de maneira a formarem um “corpo de doutrina” (typos; lit. “modelo” Rm 6.17; 2Tm 1.13). Esta é, sem dúvida, a “sã doutrina” (1Tm 1.10; 6.3; 2Tm 4.3; Tt 1.9; Tt 2.1), a “tradição” apostólica (2Ts 2.15; 2Ts 3.6), a orientadora da fé e a vida das Igrejas.

3. TEXTOS REFERENTES À EXECUÇÃO DO PLANO DIVINO 

Deus manifesta os Seus desígnios através de palavras e de ações; e cada uma destas ações, que marca um passo além no Seu Plano da história redentora pode chamar-se, apropriadamente, uma “revelação”. O Novo Testamento conhece duas revelações deste gênero, que devem ainda realizar-se: a aparição do anticristo (2Ts 2.3-8) e a parousia de Jesus (1Co 1.7; 2Ts 1.7-10; 1Pe 1.7,13). Esta última encerra a história e precede o dia do Juízo Final. Cristo revelará, então, os eternos desígnios de Deus relativos aos impenitentes e aos santos, a manifestação da ira para aqueles e a glória para estes (Rm 2.5-10; Rm 8.18; 1Pe 1.5).

Tal é, em resumo, o material bíblico em que assenta a doutrina teológica da revelação.

FONTE: O Novo Comentário da Bíblia de F. Davidson.