Atos dos Apóstolos — Interesse Apologético

Atos dos Apóstolos — Interesse Apologético

Interesse Apologético em Atos dos Apóstolos


Embora o principal e declarado objetivo da história de Lucas seja apresentar a Teófilo uma narrativa fidedigna da origem do Cristianismo, outros alvos podem ser descobertos. Um deles, aliás patente, é demonstrar que o movimento cristão não se constituía ameaça à lei e à ordem no império romano. E demonstra-o citando os testemunhos de representantes do governo imperial. Como Pilatos declara nosso Senhor isento de culpa no tocante às três acusações que lhe fizeram de rebelião, sedição e traição (Lc 23.4,14,22), assim, quando acusações semelhantes são feitas aos Seus seguidores, Lucas mostra que não são bem sucedidas. É verdade que os pretores de Filipos prendem Paulo e Silas por ameaçarem a propriedade alheia, porém logo mais os soltam, desculpando-se humildemente por seu arbitrário excesso de jurisdição. (At 16.19 e segs., At 16.35 e segs.). Os politarcas de Tessalônica alegram-se por encontrar cidadãos naquela cidade que sirvam de fiadores da boa conduta dos missionários (At 17.6-9). Gálio, procônsul da Acaia e irmão do influente Sêneca, que foi tutor e consultor de Nero no início do governo deste, recusa ouvir as acusações feitas a Paulo pelos judeus coríntios, reconhecendo não serem acusações de que as leis romanas pudessem conhecer, senão questões particulares da teologia judaica (At 18.12-17). Em Éfeso, Paulo goza da boa vontade dos asiarcas, principais das cidades da Província da Ásia (At 19.31). E quando um tumulto se levanta pelo alarido de interesses particulares versus a ameaça implícita do Cristianismo ao culto da Ártemis efésia, o escrivão da cidade testifica que Paulo e seus companheiros não são réus de nenhum crime com relação ao culto da grande deusa (At 19.35-41). Em Jerusalém, inimigos acérrimos de Paulo fazem o que podem para conseguir sua condenação pelos governadores romanos Félix e Festo, com notável fracasso; Festo e o minúsculo rei Agripa II concordaram que o apóstolo não cometera ofensa digna de morte ou prisão, e que podia ser solto não fora, a fim de assegurar um julgamento imparcial do que aquele que temia receber na Palestina, haver apelado para o supremo tribunal do Imperador em Roma (At 26.32). E os Atos concluem com uma nota de triunfo, é verdade apresentando Paulo preso, porém a continuar sua obra missionária, sem ser molestado, na própria Cidade Imperial. É improvável que essa nota triunfante fosse tão sem reservas como é, se Lucas houvesse escrito após o desencadeamento da perseguição neroniana ou a execução de Paulo.