Atos dos Apóstolos — Introdução Literária

Atos dos Apóstolos — Introdução Literária

Atos dos Apóstolos — Introdução Literária



De todos os livros do Novo Testamento, o livro Atos dos Apóstolos (ou simplesmente Atos) ocupa uma posição singular. É o único que tenta apresentar uma narrativa histórica dos tempos imediatamente seguintes à ascensão de Jesus Cristo. Já foi ressaltado que esse livro é o segundo volume de uma obra de dois volumes de Lucas, o médico amado. O primeiro volume é um Evangelho, onde se encontra a história do fundador do movimento cristão. O segundo inicia-se onde o outro terminou. A informação encontrada nele não se encontra em nenhum outro livro do Novo Testamento. Alguma informação pode ser colhida das epístolas, acerca da igreja primitiva; mas, é somente quando colocamos essas epístolas dentro da estrutura de Atos que podemos reconstruir, até certo ponto, a história da igreja que emergia. Muita coisa do Novo Testamento só é entendível quando vista à luz do cenário histórico encontrado em Atos. Sem este livro, não teríamos quase nenhum registro dos acontecimentos ligados à expansão do cristianismo após a ressurreição e ascensão de Jesus. Atos forma uma ponte entre os Evangelhos e as Epístolas; o Evangelho prevê a igreja, e as Epístolas pressupõem a igreja. O livro de Atos foi escrito para descrever o surgimento e desenvolvimento da igreja. Atos, juntamente com as epístolas de Paulo, são nossas úni¬cas fontes de estudo do cristianismo primitivo e, como tal, o valor do estudo do livro de Atos é evidente. Adolf Harnack (The Acts of the Apostles — Os Atos dos Apóstolos) disse que Atos foi colocado entre os Evangelhos, e as Epístolas, na ordem canônica atual.

Em Nossas Bíblias, este segundo volume escrito por Lucas é intitulado “Atos dos Apóstolos”. Este título é encontrado nos manuscritos do quarto século (Codex Vaticanus e Codex Sinaiticus). O Cânon Muratoriano (cerca de 170 d.C.) afirma que “os Atos de todos os apóstolos foram escritos em um livro”. Irineu, por volta de 190 d.C, foi o primeiro a usar o título simples de “Atos dos Apóstolos”. Provavelmente, este segundo volume de Lucas não tinha um título, assim como o primeiro volume. Os títulos foram acrescentados posteriormente, para distinguir esses escritos dos outros escritos do Novo Testamento e para dar alguma idéia quanto ao conteúdo de cada um. Contudo, há de se ver que esse título é enganoso. Esse livro não pretende ser obra dos apóstolos; é a história do crescimento do movimento cristão, conforme visto e entendido por uma pessoa que estava grandemente interessada em seu desenvolvimento histórico.

Conforme foi sugerido acima, no capítulo sobre o terceiro Evangelho, um estudo de Atos, necessariamente, está ligado a um estudo do Evangelho de Lucas. Que o mesmo autor escreveu os dois livros, é largamente reconhecido. No início de cada volume, o autor endereça cada um deles à mesma pessoa, Teófilo (Luc. 1:1-4; At. 1:1). No prefácio de Atos, o autor indica que escreveu um volume anterior, acerca da vida de Jesus Cristo. Juntamente com a semelhança de estilo e vocabulário, em toda parte evidente, numa comparação dos dois livros, um exame da parte final do Evangelho e do início de Atos mostrará como o autor habilmente entrelaçou os materiais para provar que um acompanha o outro.

Estudantes do Novo Testamento, contudo, sentem que a relação entre os dois volumes é mais profunda do que o fato de os dois terem sido escritos pela mesma pessoa. É, de maneira geral, reconhecido que os dois livros formam volumes conexos, de uma única obra, sobre a história primitiva do cristianismo: seus primórdios e desenvolvimento. O primeiro volume relata os primórdios, e o segundo conta acerca do surgimento e desenvolvimento da igreja. Juntos, os dois relatam os dois estágios do cristianismo, conforme apresentado em Lucas 24:46,47: um cumprido na vida de Jesus (o Evangelho) e o outro na missão da igreja (Atos). O Evangelho (primeiro volume) relata o que “Jesus começou a fazer e ensinar” (At. 1:1), e Atos (segundo volume) descreve o desenvolvimento lógico dos elementos básicos nesse ministério, que se iniciava.