Bençãos e Recompensas do Reino de Deus


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Muitas afirmações nos ensinos de Jesus sugerem que as bênçãos do Reino são uma recompensa. O pensamento judaico contemporâneo aos dias de Jesus desenvolveu bastante a doutrina do mérito e da recompensa e, à primeira vista, isto parece ter acontecido também em relação aos ensinamentos de Jesus. Haverá uma recompensa aos que sofrerem perseguição (Mt. 5:12), pela prática do amor aos inimigos (Mt. 5:46), pelas esmolas, quando feitas no espírito correto (Mt. 6:4), pelo jejum (Mt. 6: 18). A relação existente entre Deus e a humanidade é a do empregador ou senhor com seus trabalhadores ou escravos (Mt. 20:1-16; 24:45-51; 25:14-30). A recompensa parece ser postulada, algumas vezes, como um equivalente estrito de algo que foi feito (Mt. 5:7; 10:32,41 e ss.; 25:29), ou uma compensação pela perda ou auto-sacrifício (Mt.10:39; Lc.14:8-11). As recompensas são prometidas, algumas vezes, de acordo com a medida de sucesso com a qual uma atribuição é realizada (Mt. 5:19; 18:1-4; Mc. 9:41; Lc. 19:17, 19); e, algumas vezes, o mesmo ocorre com a punição (Mt. 10:15; 11:22,24; Lc.12:47 e ss.). Em tais declarações, os ensinamentos de Jesus parecem estar bem próximos do conceito judaico comum quanto aos méritos, por meio do qual a recompensa era um tipo de pagamento concebido em termos quantitativos.

Há, entretanto, outras declarações que colocam o ensino a respeito das recompensas em uma perspectiva completamente diferente. Ao mesmo tempo em que Jesus mostra a recompensa, nunca usa a ética do mérito. A fidelidade nunca deve ser exercida tendo em vista a recompensa; a própria recompensa tem sua origem exclusivamente na graça. Justamente as parábolas que mencionam recompensas, deixam claro que toda recompensa provém da graça.45 Quando um homem houver exercido a mais elevada fidelidade, ainda assim não se fez merecedor de coisa alguma, pois não fez mais do que sua obrigação (Lc. 17:7-10). A mesma recompensa é atribuída a todos aqueles que forem fiéis a despeito do resultado do seu trabalho (Mt. 25:21, 23). A recompensa é o próprio Reino dos Céus (Mt. 5:3, 10), o qual é concedido àqueles para os quais foi preparado (Mt. 20:23; 25:34). Até mesmo as oportunidades de serviço são em si mesmas dádivas divinas (Mt. 25:14 e ss.). A recompensa, portanto, torna-se uma graça livre, imerecida, e é descrita como fora de proporção em relação ao serviço prestado (Mt. 19:29; 24:47; 25:21, 23; Lc. 7:48; 12:37). Mesmo que buscar o Reino seja uma obrigação de todas as pessoas, este é, ainda assim, um dom de Deus (Lc. 12:31, 32). É o livre ato de justificação, por parte de Deus, que absolve o homem, e não a fidelidade de sua conduta religiosa (Lc. 18:9-14).

Este ato livre da graça é ilustrado pela cura do cego, do coxo, dos leprosos, do surdo, pela ressurreição dos mortos e pela pregação das boas-novas aos pobres (Mt. 11:5). A parábola dos trabalhadores na vinha tem o propósito de mostrar que o padrão divino de recompensa é completamente diferente dos padrões humanos de pagamento; é um assunto relacionado somente à graça (Mt. 20:1-16). Os trabalhadores que laboraram todo o dia receberam um dinheiro, que era o pagamento usual para um dia de trabalho; foi isto o que mereceram. Outros que foram enviados ao campo na hora undécima e trabalharam apenas uma hora, receberam o mesmo pagamento que aqueles que haviam suportado o calor e a carga do dia inteiro. E assim que Deus age: confere àqueles que não o merecem, com base na graça, o dom das bênçãos de Seu Reino. O padrão de reconhecimento do homem é: para um dia de trabalho o salário de um dia; o padrão de reconhecimento de Deus é: para uma hora de trabalho, o salário de um dia. O primeiro baseia-se no mérito e na recompensa; o último fundamenta-se na graça.

A luz desses ensinos, dificilmente poderíamos concluir que o Reino, em sua forma escatológica, seja uma recompensa conferida em troca da obediência aos ensinamentos de Jesus. Ele é o dom da graça de Deus. Contudo, o Reino não é somente um dom futuro; é também um dom presente, àqueles que renunciarem a tudo o mais e se lançarem sem reservas à graça de Deus. Para eles tanto o Reino como a sua justiça estão incluídos no dom gratuito de Deus.


FONTE: Teologia Do Novo Testamento de George Eldon Ladd.