Escravos e Criminosos — Mundo do Novo Testamento

Escravos e Criminosos — Mundo do Novo Testamento

Escravos e Criminosos — Mundo do Novo TestamentoOs escravos eram em grande número no império romano. Não é possível dar números exatos; mas os homens livres do mundo romano eram, sem dúvida, menos de metade da sua população total, e relativamente poucos desses se podiam considerar cidadãos com todos os direitos. A guerra, as dívidas e o nascimento mantinham as fileiras da população escrava em rápido crescimento. Nem todos eles eram ignorantes. Muitos eram, de fato, médicos, peritos contabilistas, professores, artistas hábeis de várias espécies. Epicteto, o célebre filósofo estóico, era um deles. Realizavam a maior parte do trabalho nas grandes propriedades agrícolas; exerciam também a função de criados, a de empregados comerciais e de copistas. Onde as modernas empresas operam por máquinas, usavam as antigas o trabalho barato.

Os efeitos da escravidão eram degradantes. A propriedade de escravos tornava os senhores dependentes do trabalho e da capacidade dos seus servidores, a ponto de perderem toda a sua própria capacidade e ambição. A moralidade e o respeito próprio eram impossíveis entre aqueles cuja única lei era a vontade dum senhor arbitrário. A impostura, a adulação, a fraude e a obediência servil eram os melhores meios de o escravo obter o que queria dos seus superiores. Em muitos casos, as crianças eram confiadas ao cuidado destes criados, que lhes ensinavam todos os vícios e falsos artifícios que conheciam. E assim a corrupção dominante nas classes oprimidas da sociedade comunicava-se aos seus senhores.

Havia indubitavelmente muitos exemplos de senhores e senhoras que tratavam bem os seus servidores, como havia também muitos escravos que trabalhavam no vínculo da amizade mais do que no do terror. Alguns deles conseguiam juntar pecúlios por meio das gratificações e dádivas, e com esses pecúlios compravam a sua liberdade; outros recebiam carta de alforria dada pelos seus donos, ou durante a vida destes, ou por sua morte. Consequentemente, uma firme corrente de homens livres entrava na vida do império, enchendo com trabalhadores competentes as fileiras das classes baixa e média, dizimadas pela guerra.

Muitos destes libertos, como Palas, no reinado de Cláudio, tornaram-se proeminentes no governo e importantes no desenvolvimento da burocracia. Há no Novo Testamento alusões à escravidão: nele se usa frequentemente o termo escravo e se fazem referências ocasionais à possessão de escravos. Em nenhuma parte das suas páginas é atacada ou defendida a escravatura. Segundo as cartas de Paulo às igrejas, havia, entre os crentes, tanto escravos como donos de escravos. Os escravos eram exortados a obedecerem aos seus senhores e aos senhores mandavam que não fôssem cruéis para com eles. Tal era, no entanto, o poder da sociedade cristã que a escravatura foi gradualmente enfraquecendo com o seu choque e, finalmente, desapareceu.

As incessantes hordas de desempregados, os gatunos que marchavam para as cidades com o fim de roubar a sociedade, os desesperados e os deserdados — todos êstes constituíam um terreno fértil para a criação do criminoso. Talvez seja injusto dizer que o crime prevalecia no império, pois havia nele um grande número de bons cidadãos; mas, em vista do caráter imoral e sem escrúpulos de muitos imperadores e altos funcionários, não é surpreendente que a sociedade em geral estivesse cheia de toda a espécie de males. O horrível quadro do mundo pagão que temos em Romanos 1:18 a 32, não é nenhum exagero. Não havia padrão inerente no paganismo que reprimisse o impulso da queda moral.


FONTE: O Novo Testamento Sua Origem e Análise - Merrill C. Tenney