Evangelho de João — Autoria [Evidencia Externa]

EVANGELHO DE JOÃO, ESCRITOR, AUTOR, EVIDENCIA, EXTERNA, ESTUDO, TEOLOGIA
O Evangelho de João, como os outros três, é anônimo. Em nenhum lugar o autor se identifica pelo nome. Contudo, a referência contida em João 21:24,25 realmente parece apontar para “o discípulo a quem Jesus amava” (13:23; 19:26; 20:2; 21:7,20). É a identificação do “discípulo a quem Jesus amava” que é o problema. Para a igreja primitiva, todavia, há praticamente uma linha ininterrupta de testemunho de que João, o filho de Zebedeu, é o autor. Embora a primeira referência explícita à autoria seja bem tardia no segundo século (Irineu), deve-se lembrar que o período anterior a Irineu é um período de comparativo silêncio no ponto de vista literário, e que a falta de testemunho positivo para a autoria de João, na primeira parte do segundo século, pode ser devida ao uso deste Evangelho pelos gnósticos heréticos. Mas o testemunho de Irineu ganha peso quando se observa que somente uma pessoa o ligava (Irineu) a João: Policarpo. O testemunho de Irineu é ainda mais fortalecido quando se reconhece que todos os subseqüentes a ele supõem, sem dúvida, que João, o filho de Zebedeu, é o autor (Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes, etc). Estes homens viveram durante a época de ativa perseguição contra o cristianismo, e seria incomum, para homens excepcionalmente bem instruídos, aceitar, sem crítica, documentos básicos para sua fé e por cuja fé suas próprias vidas iriam ser colocadas em risco. Seria improvável que eles aceitassem um Evangelho espúrio, até mesmo quando tivessem testemunhado a morte horrível de homens e mulheres, por crerem em afirmações que este Evangelho pretendesse serem historicamente verdadeiras (H. P. Nunn, The Authorship of the Gospel — A Autoria do Evangelho, p. 101).

Uma pergunta de máxima importância está relacionada com o uso gnóstico deste Evangelho. É universalmente reconhecido que os mestres heréticos do segundo século usaram o quarto Evangelho para apoiarem suas opiniões. A pergunta então surge quanto a porque o cristianismo ortodoxo, no final do século, iria atribuir tal livro a um apóstolo. É interessante notar que, embora nenhum escritor ortodoxo anterior a Irineu diga explicitamente que João escreveu o livro, não existe nenhum escritor ortodoxo que diz que João não tenha escrito este Evangelho. Teria sido de grande benefício poder-se negar a autoria desta obra na época da heresia gnóstica. Teria a igreja aceito um livro usado por um grupo herético e que era tão manifestamente diferente da tradição dos outros três, os Sinópticos, que já estavam em uso? A única circunstância concebível que explicaria isto é a indiscutível apostolicidade do quarto Evangelho.

Inácio e Justino Mártir parecem ter estado familiarizados com este Evangelho, mas não há nenhuma citação direta dele, tampouco há menção de que João escreveu um Evangelho. Isto poderia ser devido ao uso gnóstico e à relutância em dar qualquer tipo de apoio à heresia desse grupo. Deve ser observado que Valentino de Roma (ele fora considerado para a posição de pastor antes de ser excluído por heresia) escreveu sua aberração, “O Evangelho da Verdade”, usando nosso quarto Evangelho como fonte, e disse que o apóstolo João o escreveu. O primeiro comentário sobre este Evangelho foi produzido por um gnóstico, Herácleo, cerca de 170 d.C. Outros escritores gnósticos (tais como Marcião), alguns evangelhos apócrifos e escritos heréticos, tais como o Evangelho de Filipe, o Apócrifo de João e o Evangelho de Tomé, todos pressupõem o quarto Evangelho como tendo autoridade e sendo bem conhecido, e dizem que João, filho de Zebedeu, é o autor. O próprio fato de que este Evangelho foi usado pelos gnósticos do segundo século, sob o nome do apóstolo João, é importante, quando visto à luz de sua aceitação pela igreja, quando combatia esta heresia. Isto só poderia ter ocorrido se o quarto Evangelho, havia muito, tivesse sido reconhecido e aceito como sendo apostólico.

Após Irineu, há uma linha ininterrupta de testemunhos de que João, um dos doze, foi o autor do quarto Evangelho. Houve, todavia, alguma controvérsia sobre a autoria das três cartas atribuídas a João, bem como do Apocalipse. Isto é especialmente assim com relação ao último livro do nosso Novo Testamento. Dionísio de Alexandria sugeriu que, por causa de diferenças lingüísticas e de vocabulário, a mesma pessoa não poderia ter escrito ambos, o Evangelho e o Apocalipse. Sugeriu ele, então, que um outro “João” escreveu o último livro, e o apóstolo João, o anterior. Ele ainda afirma que havia dois túmulos em Éfeso que exibiam o nome João. Eusébio aceitou o relato acerca de dois João em Éfeso e achou uma declaração de Papias com base suficiente para apoiar seu argumento. Contudo, a escola moderna está se afastando desta interpretação, feita por Eusébio, da afirmação de Papias. Quando se é lembrado que ambos, Dionísio e Eusébio, aceitavam o apóstolo como o autor do Evangelho, o argumento contra João como o autor desse livro perde alguma parte de sua força. Ambos estes homens estavam combatendo problemas doutrinários (Dionísio com o quiliasmo e Eusébio com o montanismo) e tenta¬ram cortar pela raiz a base dessas doutrinas, lançando dúvida sobre a apostolicidade do Apocalipse. Se conseguissem isto, estariam bem em seu caminho para a destruição da oposição.

Usando a afirmação de Dionísio e a citação de Papias por Eusébio, muitos críticos modernos tentaram construir uma base para negar que João escreveu nosso quarto Evangelho. Embora a afirmação de Papias não se refira, necessariamente, a dois João, alguns interpretaram assim. A afirmação, conforme preservada por Eusébio, é:

Se, alguma vez, qualquer homem que houvesse sido um seguidor dos presbíteros viesse, eu o interrogaria acerca dos dizeres dos presbíteros: o que disse André, ou Pedro, ou Tomé, ou Tiago, ou João, ou Mateus, ou qualquer outro dos discípulos do Senhor; e o que diz Aristão, e o que diz João, o presbítero, que são discípulos do Senhor. Pois eu não suponho que obtenha tanto proveito dos livros quanto da palavra de uma voz viva e presente. (H. E. III.39).

Esta afirmação está longe de ser clara, e assim sua evidência não é muito impressiva. O termo “presbítero” é usado da primeira lista, bem co¬mo em relação ao segundo, “João”. Em ambas as listas são chamados os “discípulos do Senhor”. Poderia ser que o mesmo homem seja visto em dois aspectos: como associado com outros apóstolos que trabalham na Palestina, e depois vivendo e trabalhando em Éfeso. Eusébio usou esta declaração para lançar dúvida sobre o Apocalipse, não sobre o quarto Evangelho. Outra vez, há a tradição não quebrada de que o apóstolo João escreveu este Evangelho.

Para alguns críticos, a declaração preservada por Eusébio obtém apoio pela afirmação de que João foi um mártir primitivo. A evidência em favor disto, contudo, é extremamente fraca. Por causa da profecia de Jesus acerca do martírio de Tiago e João (Mar. 10:39), tal tradição é facilmente entendida. O livro de Atos relata realmente a morte prematura de Tiago, mas Paulo (Gál. 2:9) relata que João estava ativo em Jerusalém alguns anos mais tarde. Mesmo se a tradição e a profecia devam ser tomadas como verdadeiras, a época do martírio de João não é mencionada. O máximo que é dito é que Tiago e João, ambos, foram mortos pelos judeus. Nada é mencionado quanto à ocasião ou local ou se os dois morreram juntos ou separadamente. Negar-se a autoria joanina em bases tão débeis não é muito convincente.