Hebraico Bíblico — A Questão da Estabilidade do Idioma

HEBRAICO, BÍBLICO, DESENVOLVIMENTO, ORIGEM, ESTUDO
A história está repleta de exemplos de línguas que mudaram no decorrer de longos períodos de tempo. O inglês falado na época de Alfredo, o Grande (do nono século EC), pareceria ser uma língua estrangeira para a maioria dos que hoje falam o inglês. Portanto, parece provável que o idioma falado originalmente por Adão já tivesse mudado substancialmente na época em que Moisés começou a escrever as Escrituras Hebraicas. A vida longa usufruída naquele período de 2.500 anos, porém, seria um fator definitivo contrário a tais mudanças. Assim, precisava haver apenas um só elo humano, Metusalém, para ligar Adão com os sobreviventes do Dilúvio. Além disso, Sem, que evidentemente fora contemporâneo antediluviano de Metusalém por diversos anos, viveu ainda bastante tempo durante o período de vida de Isaque. E desde a morte de Isaque (1738 AEC) até o nascimento de Moisés (1593 AEC) decorreram menos de 150 anos. Esta sobreposição de vida de pessoas distanciadas por várias gerações serviria para manter o idioma uniforme. Naturalmente, nem sempre é conhecido até que ponto esses elos humanos, tais como Sem e Abraão, viveram numa proximidade geográfica. A comunicação regular é um fator importante na estabilidade dum idioma.

Que nem todos os descendentes de Sem continuaram a falar o “um só idioma” dos tempos antediluvianos, na sua forma mais pura, é evidente nas diferenças que se desenvolveram nos idiomas semíticos, inclusive no hebraico, no aramaico, no acadiano e nos diversos dialetos árabes. No século 18 AEC (por volta do ano 1761 AEC), o neto e o sobrinho-neto de Abraão usaram termos diferentes para o montão de pedras que haviam erigido como memorial ou testemunho entre eles. Jacó, pai dos israelitas, chamou-o de “Galeede”, ao passo que Labão, habitante da Síria ou de Arã (embora não fosse descendente de Arã), usou o termo aramaico “Jegar-Saaduta”. (Gên 31:47) A diferença entre estes dois termos, porém, não indica necessariamente uma grande diferença entre o aramaico e o hebraico naquela época, visto que Jacó não parece ter tido grandes problemas em comunicar-se ali na Síria. Sem dúvida, ao surgirem novas circunstâncias e situações, e ao se produzirem novos artefatos, cunhavam-se certas palavras para descrever esses desenvolvimentos. Tais termos talvez diferissem de lugar em lugar entre grupos da mesma família linguística, mas geograficamente separados, ao passo que a própria estrutura de seu idioma permanecesse bastante inalterada.

Entre os próprios israelitas desenvolveram-se pequenas variações de pronúncia, conforme evidencia a pronúncia diferente dada à palavra “Xibolete” pelos efraimitas durante o período dos juízes (1473 a 1117 AEC). (Jz 12:4-6) No entanto, isto não constitui base para se afirmar (conforme fizeram alguns) que os israelitas então falavam dialetos diferentes.

No oitavo século AEC, a diferença entre o hebraico e o aramaico ficara suficientemente grande para que fossem reconhecidos como idiomas distintos. Isto se evidencia na solicitação que os representantes do Rei Ezequias fizeram aos porta-vozes do rei assírio, Senaqueribe: “Por favor, fala com os teus servos em sírio [aramaico], pois podemos escutar; e não nos fales no idioma judaico, aos ouvidos do povo que está sobre a muralha.” (2Rs 18:17, 18, 26) Embora o aramaico fosse então a língua franca do Oriente Médio e fosse usado nas comunicações diplomáticas internacionais, não era entendido pela maioria do povo de Judá. Os mais antigos documentos não-bíblicos escritos em aramaico, de que há conhecimento, são de aproximadamente daquele período, e eles confirmam a diferença entre os dois idiomas.

Será que tanto o hebraico como o aramaico divergiam daquele “um só idioma” original, ou preservou um deles a pureza daquele idioma original? Embora a Bíblia não diga isso especificamente, subentende-se que o idioma em que Moisés começou a escrever o inspirado Registro Sagrado era o mesmo que o falado pelo primeiro homem.

Se a história fosse assentada por escrito antes do Dilúvio, ela contribuiria muito para a preservação da pureza da língua original. Mesmo transmitindo-se esta história por tradição oral, ainda assim serviria para manter a estabilidade da fala original. O extremo cuidado com que os judeus de tempos posteriores se empenhavam em preservar a verdadeira forma do Registro Sagrado ilustra a preocupação que certamente se teria mostrado nos tempos patriarcais para transmitir com exatidão os mais antigos registros dos tratos de Deus com os homens.

Um motivo adicional para crer que o hebraico da Bíblia representa com exatidão o “um só idioma” dos tempos antes de Babel é a notável estabilidade do idioma hebraico durante o período de mil anos em que se escreveram as Escrituras Hebraicas. Conforme declara The International Standard Bible Encyclopedia (A Enciclopédia Bíblica Padrão Internacional):

“Um dos fatos mais notáveis relacionados com o hebraico do V[elho] T[estamento] é que, embora essa literatura se estenda por um período de mais de mil anos, a língua (gramática e vocabulário) das partes mais antigas difere pouco daquela das mais recentes.” — Editada por G. W. Bromiley, 1982, Vol. 2, p. 659.