Livro de Apocalipse — Canonicidade e Autoria

CANONICIDADE, AUTORIA, ESCRITOR, APOCALIPSE, LIVRO
O Apocalipse é fortemente atestado como obra canônica e apostólica desde o mais antigo período pós-neotestamentário da história da Igreja, a começar por Hermas, no início do século II D.C., até Orígenes, na primeira metade do século III D.C. As dúvidas surgiram somente mais tarde, mormente por causa do argumento de Dionísio, no sentido que as diferenças existentes entre o Apocalipse e o Evangelho e as epístolas de João excluem uma autoria comum: o apóstolo João, assim sendo, não poderia ter escrito o livro de Apocalipse. É verdade que do ângulo gramatical e literário, o estilo grego do Apocalipse é inferior ao do evangelho joanino e ao das três epístolas de João. Sem embargo, R.H. Charles, quiçá o maior perito sobre literatura apocalíptica, considerava a “gramática deficiente” como algo deliberado, com propósitos enfáticos e para aludir a trechos vetero-testamentários em estilo hebraico, e não por motivo de ignorância ou descuido. (R H. Charles, A Critical and Exegetical Commentary on the Revelation of St. John. The International Critical Commentary (Edimburgo T & T Clarck, 1920), vol. l, págs. cxvii-clix.) Outros estudiosos têm pensado que a “gramática deficiente” resultou de um estado emocional de êxtase por parte de João, quando recebeu suas profecias na forma de visões. A solução mais simples consiste de dizermos que, na qualidade de prisioneiro na ilha de Patmos, no mar Egeu, o apóstolo João não contava com o assessoramento de um amanuense que suavizasse o seu estilo impolido, conforme, aparentemente, sucedeu com o seu evangelho e com as suas epístolas. Não é mesmo impossível que todos os três fatores, acima citados, tenham contribuído para o estilo diferente que se nota no livro de Apocalipse.