A Adoração ao Oculto — Mundo do Novo Testamento
A Adoração ao Oculto — Mundo do Novo Testamento
Semelhante, de muitas maneiras, às religiões-mistério, era o ocultismo daqueles tempos, o acatamento e respeito supersticiosos, das massas para com aqueles poderes do universo que não podiam compreender, mas sentir de modo vago. Para eles, o mundo inteiro era povoado por espíritos e demônios que podiam ser invocados ou mandados obedecer à vontade de pessoa, desde que esta conhecesse tão somente o rito próprio e a fórmula a usar. As alusões que se encontram na literatura contemporânea e certos fragmentos dos papiros mostram a dilatada crença na magia, aliás prevalecente em todo o domínio romano. Judeus e gentios partilharam igualmente dessas crenças supersticiosas; de fato, os judeus estavam muitas vezes mais interessados na magia do que os gentios.
A confiança na magia começou em tempos primitivos. O augúrio ou predição do futuro pelo exame das entranhas dos animais depois de os matar ou pela observação do voo das aves, tinha sido praticado pelos romanos desde a fundação de Roma. Os gregos recorriam muito aos oráculos, onde supunham que os deuses comunicavam a sua vontade aos homens, por meio de sacerdotes ou das sacerdotisas que eles manejavam. O cativeiro da Babilônia pôs muitos judeus em contato com a ciência mística do Oriente, tendo-se até tornado exorcistas profissionais e necromantes. As conquistas de Alexandre estabeleceram contatos com os persas, pelos quais o misticismo oriental fluiu para o Ocidente. No reinado de Tibério atinei. O auge a mania dos horóscopos, e a magia popularizou-se através dos séculos que se sucederam, como o mostram os papiros.
O interesse dos judeus na magia aparece no Novo Testamento. Os fariseus expulsavam demônios e são feiticeiros mencionados nos Atos como rivais dos pregadores do Evangelho (At 8:9-24; 13:6-11). A magia pagã foi reconhecida pelos cristãos de Éfeso como inimiga do Cristianismo; aí, os cristãos queimaram os seus livros de feitiçaria numa fogueira que custou cinquenta mil peças de prata (At 19:19). A atitude bíblica para com o ocultismo era invariavelmente hostil. Posto que fosse reconhecida a realidade das forças demoníacas, era estritamente proibido todo o comércio com elas, tanto no Antigo como no Novo Testamento (Dt 18:10-12,20; Mq 5:12; 1 Co 10:20,21).
Nos papiros aparecem modelos de fórmulas mágicas para dominar os espíritos ou para dar boa sorte. Um destes, um excerto do grande papiro mágico Paris, do terceiro século, mostrará a curiosa mistura de fraseologia pagã, judaica e cristã, que era usada como amuleto para exorcismar um demônio:
Uma notável feitiçaria para expulsar demônios. Invocação a ser pronunciada sobre a cabeça (do possesso). Coloque diante dele ramos de oliveira e, mantendo-se de pé diante dele, diga: Salve, espírito de Abraão; salve espírito de Isaque; salve espírito de Jacó. Jesus Cristo, o santo, o espírito (aqui segue-se uma série de palavras que parece não terem significado) expulsa o demônio do homem, ate que o demônio impuro de Satanás voe diante de ti. Conjuro-te, ó demônio, quem quer que sejas tu, pelo Deus Sabarbabathioth, Sabarbathiuth, Sabarbarthoneth, Sabarbarbaphai. Sai, ó demônio, quem quer que tu sejas, e vai-te embora assim e assim imediatamente, agora! Sai, ó demônio, porque eu te prenderei com cadeias diamantinas que não podem ser soltas e eu te atirarei para o caos negro para absoluta destruição.
A fórmula precedente documenta ao mesmo tempo o respeito do mundo pagão pelo Evangelho de Cristo e a sua falsa concepção do referido Evangelho. Se não tivesse havido no Cristianismo poder real contra as influências demoníacas do paganismo, os nomes de Abraão, Isaque, Jacó e Jesus nunca teriam sido usados de maneira alguma. A falsa concepção jaz em tomar por certo que estes termos faziam um sortilégio mais mágico para ser usado segundo a conveniência do exorcista. O que usava esta fórmula repetia o erro de Simão Mago, que pensava que o poder de Deus podia ser comprado por dinheiro. Uma tal mistura de fé e superstição era vulgar entre um povo que, sendo por natureza intensamente religioso, não tinha acesso ao ensino regular das Escrituras ou a um exemplar das mesmas.
A astrologia era também popular no império durante o primeiro século. Tinha-se originado na Babilônia, onde as noites de céus claros davam inteira oportunidade à visão livre das estrelas e dos planetas. Os sacerdotes babilônicos, pelo fato de terem considerado os planetas como símbolos dos seus deuses, mantiveram um cuidadoso registo dos seus movimentos. A ordem do universo impressionou-os e, por isso, procuravam relacioná-la com o curso da vida humana. Por meio das conquistas de Alexandre, que estabeleceram contatos entre o mundo oriental e o mundo ocidental, a ciência astronômica tornou-se conhecida dos gregos. Por estes e pelos presagiadores orientais que marcharam para oeste à procura de fortunas, entrou a astrologia no império romano.
As teorias astrológicas baseavam-se na suposição de que os poderes soberanos do mundo que governam os planetas e a vida humana operavam simultaneamente em uns como noutra, e assim presagiaram muitas vezes o curso da vida dos homens pelos cursos dos planetas sob cujo signo nasceram. A fim de descobrirem o que os corpos celestiais tinham a dizer, a rota do sol e dos planetas nos céus era dividida nos doze signos de zodíaco, cada um dos quais era marcado por uma constelação especial. Conhecendo o tempo exato do nascimento de uma pessoa, podia-se averiguar sob que signo tinha nascido e podia-se calcular as posições dos vários planetas nesse momento. Das suas posições podia-se determinar a sua influência potencial na vida da pessoa; podia assim ser predito o seu futuro; ou podia a pessoa ser avisada sobre o que a esperava e o que devia evitar. A distribuição destes dados em quadros era chamado o horóscopo.
Com o aparecimento do sistema de Copérnico, que estabeleceu ser o sol o centro do sistema solar e não a terra, a astrologia decaiu em importância. No tempo de Cristo, porém, gozava de considerável atenção, não semente das classes mais baixas, mas também da aristocracia. Augusto recorria a ela em dadas ocasiões e Tibério recorria a ela com regularidade. Nunca penetrou no Cristianismo, porque os cristãos a repeliam inteiramente.