Evangelho de Lucas — Origem

LUCAS, LIVRO, EVANGELHO, ORIGEM, ESTUDO BIBLICO, TEOLOGIA
Lucas é aquele dos três Evangelhos Sinóticos que nos apresenta maior quantidade de informações acerca do seu próprio começo. O seu autor, que não dá o seu nome, fornece uma introdução literária que declara os seus objetivos ao escrevê-lo, os métodos que empregou, e as suas afinidades com os seus contemporâneos que tinham empreendido a mesma tarefa. Esta introdução (Lc 1:1-4) é a chave do livro, e também do livro de Atos, se Lucas-Atos fossem considerados como uma unidade.

Da introdução, podem tirar-se várias referências, como seguem:

1. Havia no tempo do escritor várias obras que continham apenas uma relação parcial ou truncada da vida e obra de Jesus. O autor não teria escrito, como obra sua, um Evangelho, desde que tivesse ficado plenamente satisfeito com qualquer daqueles que conhecia.

2. Essas narrações tinham tentado um arranjo sistemático dos fatos disponíveis (“pôr em ordem a narração” 1:1).

3. Esses fatos eram bem conhecidos do mundo cristão e eram admitidos independentemente das narrações. Lucas diz “entre nós se realizaram” (1:1) .

4. O autor sentia-se tão bem informado, pelo menos, como os outros e tão capaz como eles de escrever uma narração de sua própria responsabilidade (“também a mim me pareceu bem”).

5. As suas informações vieram de fidedignas fontes oficiais, “os que foram deles testemunhas oculares desde o princípio, e ministros da palavra” (1:2).

6. O autor estava familiarizado com os fatos, por observação ou por inquirição, e era sem dúvida contemporâneo do curso principal da ação no sentido de ter vivido na geração daqueles que tinham presenciado os acontecimentos. A expressão traduzida “de pois de haver investigado tudo” (1) é a mesma que é usada em 2 Tm 3:10,11, onde Paulo disse que Timóteo tinha “seguido” o seu “ensino, procedimento... coisas que me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra”. Esta linguagem não implica que Timóteo estivesse presente com Paulo, na própria ocasião, nessas cidades, mas indicava que ele era contemporâneo de Paulo e que tinha qualquer conhecimento de primeira mão sobre esses assuntos.

A palavra anothen, traduzida “desde o princípio” (2), tem sido objetivo de controvérsia. Nas obras joaninas e em Tiago (1:17) significa quase invariavelmente “do alto”. É usada só duas vêzes por Lucas, aqui e em Atos 26:5. Na última passagem que, é um discurso de Paulo, não pode significar “do alto”, mas sim “antecipadamente”, “e de algum tempo antes”. Knowling diz que Paulo se referia ao princípio da sua educação pública em Jerusalém (3). Muito singularmente o único uso da palavra nas epístolas Paulinas (GI 4:9) significa “de novo para trás”, referência ao tempo pretérito. Conquanto pudesse ser traduzido “do alto” em Lc 1:3, tal tradução não é exigida pelo contexto, e não seria indubitavelmente uniforme com outra linguagem de Lucas e de Paulo.

A tradução dum termo ambíguo determina-se sempre melhor pelo uso que correntemente lhe dá o autor; e a tradução de Almeida é aqui mantida, exatamente porque está de acordo com esse uso.

Nesta base deve ser compreendido que o autor está a reivindicar um conhecimento contemporâneo dos fatos que não tinha sido adquirido recentemente. O seu conhecimento de Cristo datava de há um bom número de anos passados da sua vida durante os quais ele tinha cooperado com os apóstolos, com testemunhas oculares, e possivelmente com amigos pessoais ou parentes do Senhor Jesus. O impulso do Espírito Santo que o tinha feito autor, dirigiu as escolhas dos incidentes que ele registava e a linguagem em que os escreveu.

O conhcimento de Lucas abrangia todos os fatos de maior relevo. O seu Evangelho contém muitos particulares que não aparecem nos outros e é em geral a mais representativa vida de Cristo.

8. Ele declarou escrever acuradamente e com ordem lógica. O seu uso da expressão “em ordem” não pressupõe necessariamente ordem cronológica; mas significa que tinha um plano definido de trabalho e que tencionava manter-se dentro dele.

9. O destinatário de Lucas era provavelmente um homem de alta categoria, que pode ser chamado aqui pelo seu próprio nome, Teófilo, que significa literalmente “o que ama a Deus” ou “amado por Deus”. O axiónimo “excelentíssimo” (4) era, em geral, aplicado semente a funcionários ou membros da aristocracia. Talvez tivesse sido levado a Cristo por Lucas, ou patrono da obra, isto é, que ajudasse a publicação das obras de Lucas.

10. Este destinatário tinha sido já informado oralmente a respeito de Cristo, talvez pela pregação que ele tivesse ouvido; mas precisava de mais conhecimentos que o firmassem e o convencessem da verdade.

11. O óbvio propósito de Lucas era dar ao seu amigo completo conhecimento da verdade. Das precedentes deduções podemos concluir que o autor era um homem que tinha dons literários e que sabia como usá-los na apresentação da mensagem de Cristo. Quem era ele?