O Culto do Imperador — Mundo do Novo Testamento
O Culto do Imperador — Mundo do Novo Testamento
Posto que persistisse o culto das divindades locais, a progressiva consciência cosmopolitana do império preparava o caminho para um novo tipo de religião, o culto do estado. Os reinos helenísticos dos Selêucidas e dos Ptolomeus tinham durante muitos anos, elevado os seus monarcas à posição de divindade e tinham-lhes aplicado títulos tais como Senhor (Kyrios), Salvador (Soter), ou Divindade Manifesta (Epiphanes). A concentração das funções executivas do estado romano na pessoa de um homem tinha-o munido de poderes sem precedentes na história do mundo. O fato de ele ser capaz de utilizar esses poderes para o bem do império criou o sentimento de que devia existir nele algo de divino.
O culto do imperador não foi estabelecido arbitrariamente. Desenvolveu-se gradualmente da crescente atribuição de horas sobre-humanas ao imperador e do desejo de centralizar nele a obediência do povo. Júlio César foi, depois da sua morte, chamado Divus Julius. Desde o tempo de Augusto, todos os imperadores eram divinizados na sua morte por voto do Senado, posto que alguns não tomassem a honra muito a sério. Calígula ordenou que fosse erigida a sua estátua no templo de Jerusalém, mas como era considerado geralmente um louco, não pôde este seu ato ser considerado como representando a política geral dos imperadores. Até o tempo de Domiciano, no fim do primeiro século, nenhum imperador tentou forçar os seus súditos a prestar-lhe culto.
A recusa de todos os cristãos em participar de tal culto precipitou uma violenta perseguição, pois os cristãos opunham-se coerentemente ao culto de qualquer ser humano. Os politeístas romanos, que podiam sempre juntar mais um deus à lista das suas divindades, consideravam a sua recusa como falta de reconhecimento próprio do imperador e como uma clara atitude de falta de patriotismo. Não podia haver conciliação entre estes dois pontos de vista. A atitude cristã sobre o problema do culto do estado, ou do seu cabeça, manifesta-se no Apocalipse, que revela claramente a hostilidade entre as reivindicações de Cristo e as reivindicações do imperador. Não pode haver dúvida, no entanto, de que o culto do imperador tinha um grande valor para o estado. Unificava o patriotismo e o culto e tornava o sustento do estado um dever religioso. Era o totalitarismo do primeiro século.