Características do Sacrifício de Cristo — Hebreus 9:11-10.18

CARACTERÍSTICAS, SACRIFÍCIO, CARTA, JESUS, HEBREUS, ESTUDO BIBLICOS
A seguir o escritor descreve as características distintivas do sacrifício de Cristo, bem como os grandes benefícios eternos que se tornaram nossos por meio do mesmo. Seguindo seu agora familiar método, ele ilustra e confirma essas verdades, primeiramente lançando mão tanto de comparação como de contraste, e em segundo lugar, referindo-se às cerimônias levíticas de culto e sacrifício, após o que, passa a citar e expor algumas das palavras proféticas, transmitidas por Deus, nas Escrituras do Antigo Testamento.

Essas conseqüências são sumarizadas em poucas palavras. Primeiramente, ao oferecer-se a Si mesmo, Cristo entrou decisivamente, uma vez por todas (12; cfr. Hb 7.27), até à presença de Deus, na qualidade de Sumo Sacerdote de homens pecaminosos. O alvo de todo ministério sacerdotal é garantir o acesso e a aceitação perante a presença de Deus; é restaurar e garantir a manutenção ininterrupta de comunhão imediata e sem obstáculos com Deus. Em segundo lugar, Cristo obteve eterna redenção (12). Ele efetuou uma obra de livramento que livrou permanentemente o povo de Deus de qualquer contaminação, de qualquer separação entre suas pessoas e Deus, e da inevitável condenação a que, doutro modo, estariam sujeitos por causa do pecado. Em terceiro lugar, mediante o derramamento de Seu sangue (isto é, em razão da inexaurível e permanente virtude de Seu sacrifício de Si mesmo, que não conhece repetição), Cristo é capaz de expurgar a consciência do poder paralisante da culpa, libertando os homens a fim de que sirvam ao Deus vivo (14). Desse modo Ele nos proporciona livramento ou remissão de nossos pecados, que doutra maneira nos impediriam de ter contacto com Deus, e então podemos agora servi-lo no santuário de Sua presença. Cfr. Hb 9.22-10.22. Em quarto lugar, tais realizações significam que Ele é o Mediador da nova aliança (15), que é capaz de garantir, a todos aqueles que por Deus são chamados, a possessão real de herança eterna que Ele promete. Finalmente, esse resultado ainda é mais certo em vista de Sua morte haver assegurado o livramento da penalidade das transgressões sob o antigo pacto (15). Isso desimpede o terreno para uma nova obra da graça divina, solucionando plenamente as diferenças notáveis entre Deus e Seu povo. Apaga todos os pecados do passado. Igualmente significa que os homens de fé dos dias do Antigo Testamento, que através da lei não podiam encontrar perfeição ou realização autêntica de tudo quanto esperavam, e que contemplavam o dia do cumprimento de Deus como ainda futuro, agora podem ser aperfeiçoados, passando a possuir a herança. Em outras palavras, a morte de Cristo foi retrospectiva em sua eficácia. Incluiu todos os pecados cometidos antes de Sua vinda. Cfr. Hb 11.13,39,40; Hb 12.23; Mt 27.51-53; Rm 3.25.

Disse Jesus a respeito de Sua morte: “... assim deve suceder” (Mt 26.54). Todavia, a crucificação do Messias continuava sendo uma pedra de tropeço para os judeus. Estes necessitavam de muito esclarecimento se tivessem de perceber por que tal morte era necessária. Portanto, o escritor sagrado salienta aqui duas razões de sua necessidade. Primeiramente, isso foi requerido a fim de dedicar, instituir ou ratificar a nova aliança. Tal morte santificou ou consagrou solenemente a Pessoa que entrou no Pacto (no caso de Cristo Ele realmente o cumpriu) para que observasse seus termos, ao prometer obediência até à morte. Em segundo lugar, tal morte era necessária a fim de limpar ou purificar o povo que seria coberto pela aliança, garantindo-lhes o livramento ou remissão dos pecados que, não fora isso, os tornaria alienados ou afastados do lugar da presença de Deus. Pois, sem derramamento de sangue não há remissão (22). Portanto, em um sacrifício dessa espécie única e surpreendente, era necessária a morte do próprio Cristo a fim de ser assegurada uma melhor purificação (moral), e a fim de ser estabelecida uma melhor (e realmente eficaz) aliança.

Nas referências que aqui encontramos quanto à necessidade da morte intervir em conexão com um testamento ou aliança (16), provavelmente se encontram combinadas duas ou três idéias diferentes. De conformidade com a prática antiga, os pactos eram selados por meio de sangue, pela introdução simbólica da morte do interessado ou interessados no pacto. Portanto, os vers. 16 e 17 falam sobre a necessidade da “intervenção” da morte, em vista de uma aliança só ter valor no caso de mortos (17), isto é, provavelmente por causa dos pedaços divididos das vítimas sacrificadas, entre os quais pedaços os pactuados passavam. Ver Gn 15.7-21; Jr 34.18-19. Isso proporcionava confirmação visível - um voto de fidelidade até à morte-e provavelmente era acompanhado pela oração que a vida do pactuado que falhasse fosse tirada, em penalidade contra o rompimento do pacto assim selado. Uma vez que fosse cometida transgressão contra tal obrigação pactuada, portanto, tornava-se necessária a morte por um segundo motivo, a saber, pagar a penalidade devida por tal fracasso. Portanto, o vers. 22 assevera que, sob a antiga lei, esse era o preço comum da redenção-e sem derramamento de sangue não há remissão. Acresce ainda que, em vista da nova aliança de Deus falar de uma herança que incluía perdão total (ou seja, esquecimento por parte de Deus) dos pecados, era impossível que isso fosse posto à disposição dos homens enquanto a morte não houvesse ocorrido para efetuar a remissão dos pecados, isto é, “para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança” (15). Nessa conexão, por conseguinte, a nova aliança funciona tal qual um testamento (no grego, o termo aqui empregado tem o duplo sentido de “pacto” e “testamento”). Seus benefícios só se tornaram disponíveis para os envolvidos depois que a morte do benfeitor teve lugar, pois ele foi Quem dispôs o testamento. Pois Ele (isto é, Cristo) só poderia preparar o perdão de nossos pecados se morresse e igualmente pagasse a penalidade devida por nossos pecados.

Essa oferta de si mesmo a Deus, que Cristo efetuou de uma vez para sempre em Sua morte humana, é igualmente perfeita e final. Realizou, de modo pleno, a finalidade verdadeira de tal sacrifício. Portanto, não é possível haver sacrifício maior; como também nenhum outro é necessário. Conforme disse o próprio Jesus: “Está consumado”. (Jo 19.30). “Já não há oferta pelo pecado” (Hb 10.18).