Conselhos para a Juventude — Eclesiastes 11:9-12.8
Conselhos para a Juventude
Conselhos para a Juventude (Leia Eclesiastes 11:9-12.8)
1. REGOZIJA-TE (Ec 11.9-10). Um corolário da ênfase dada por Eclesiastes sobre o presente, é seu conselho à juventude para que desfrute do período juvenil, enquanto o possuem, não procurando colocar cabeças idosas sobre ombros jovens, nem tentando prolongar a juventude além de seus limites, mas aceitando a juventude com as suas bênçãos e oportunidades no sóbrio reconhecimento e a juventude e a idade avançada são ambas determinadas por Deus e ambas estão sujeitas a Seu julgamento. Alegra-te... pela vista dos teus olhos (9). Nada existe nessas palavras para sustentar a interpretação que Eclesiastes está recomendando aqui que a juventude semeie suas aveias silvestres (dar largas aos impulsos da mocidade); nem podemos deduzir delas qualquer apoio para a atual idolatração da juventude, com suas ridículas ilusões de vestuário. Sabe, porém (v.9). “O grande Porém” no qual se cristaliza a sabedoria da Bíblia (Barth). “Todos os caminhos do homem são limpos aos seus olhos, mas o Senhor pesa os espíritos” (Pv 16.2).
2. RELEMBRA-TE (Ec 12.1-8). O homem é uma criatura do tempo. No fim, sua situação de criatura se evidencia inequivocamente em sua dissolução. Certamente que é sabedoria elementar tomar em consideração esse “horizonte” último (Heidegger) em qualquer tentativa de traçar o padrão da existência. Eclesiastes recomenda o franco reconhecimento de nosso estado de criaturas, mesmo na juventude, o período em que isso parece menos evidente e quando a vida parece inextinguível. É somente quando vista nessa perspectiva é que a juventude pode ser corretamente entendida e corretamente desfrutada. O “problema da juventude” que tem assumido proporções tão grandes em nossa época é, em grande escala, conseqüência de uma falsa perspectiva, em que o horizonte fica indefinido, é a brincadeira de um homem cego com a morte, o que é uma das principais estultícias de nossa era.
Lembra-te do teu Criador (v.1). É notório como Eclesiastes mostra sua mão aqui. A visão da idade e da morte produz nele não memento morti (lembra-te que deves morrer), mas memento Creatoris (lembra-te do teu Criador). Por esse conceito ele se distingue claramente de todos os céticos, cínicos e epicureus, com quem ele freqüentemente tem sido confundido.
Os versículos seguintes (v.2-7) contém uma descrição figurada da decadência e da dissolução da vida, mas o quadro é difícil de ser interpretado detalhadamente. O quadro da tempestade que se avizinha (v.2) talvez tenha a intenção de sugerir a aproximação da morte de modo geral ou, mais particularmente, à decadência das faculdades internas. A imagem dos vers. 3 e 4 mui provavelmente tenciona representar a decadência dos órfãos corporais: os guardas da casa seriam as mãos, os homens fortes seriam as pernas, os moedores seriam os dentes, os que olham pelas janelas seriam os olhos, e as duas portas seriam os ouvidos. As cláusulas restantes do vers. 4 parecem referir-se todas à decadência dos poderes da fala e do canto. E se levantar à voz das aves (v.4). Se o ele (oculto) significa um homem idoso, isso envolveria a inserção abrupta de uma declaração literal no meio de uma alegoria elaborada. Mas, excetuando isso, não é verdade que o indivíduo idoso se levante à voz de um pássaro. Os idosos são menos facilmente despertados que os jovens, especialmente em vista que freqüentemente são surdos (as duas portas da rua se fecharem)! É provável que o texto tenha sido corrompido e que o original dissesse que a voz do indivíduo idoso se torna débil e tende a parecer-se com o trêmulo gorjear de um pássaro.
A alegoria é abandonada no vers. 5, e a descrição literal toma o seu lugar: as pessoas idosas têm medo das alturas, e têm receio de aventurar-se seja no que for. Em vista da grande e fantástica variedade de interpretações que têm sido sugeridas para a amendoeira, o gafanhoto e o apetite, parece melhor seguir Wetzstein e Hertzberg, e tomar literalmente as três cláusulas como descrições dos fenômenos da primavera e do verão: a amendoeira floresce, o gafanhoto se carrega (de alimento), e quanto ao “apetite”, nem todas as versões dão tal sentido a essa palavra, mas consideram-na também uma árvore-mas todas essas alegres visões nada significam para o homem de idade, que após a dissolução de sua casa terrestre (v.3; cfr. 2Co 5.1), segue para sua habitação eterna.
A alegoria é reiniciada no vers. 6. As figuras da cadeia de prata quebrada e do copo de ouro despedaçado parecem referir-se à dissolução da alma e do corpo. A vida de um homem se assemelha primeiramente a um copo de ouro (contendo azeite para a lâmpada), suspenso por uma corrente de prata; e então é comparada com um cântaro despedaçado com o qual a água é tirada de um poço. A lâmpada e o cântaro eram símbolos familiares da vida, na antigüidade. O espírito volte a Deus, que o deu (v.7). Parece que Eclesiastes avançou um tanto além da posição assumida em Ec 3.21, mas suas palavras aqui, apesar de sugestivas, não são de tal ordem que formem o fundamento de uma esperança de imortalidade. Ele está vendo a dissolução do corpo e do espírito do ponto de vista “debaixo do sol”, e ele simplesmente declara que cada qual volta à origem onde teve início-o corpo para o pó e o espírito para Deus (Gn 2.7). Quanto ao destino final do espírito, depois do retorno a Deus, Eclesiastes não se ocupou a falar disso.
Vaidade de vaidades... (v.8). O autor “fez todas as coisas terrenas ficarem pequenas, e finalmente permanece sentado nesse montão de poeira de vanitas vanitatum” (Delitzsch). Seu argumento, tal como todas as coisas debaixo do sol (Ec 1.3-11), deu uma volta completa, e ele repete o teorema que se abalançou a demonstrar (Ec 1.2) com um ar de finalidade, como que a dizer: quod erat demonstrandum.