O Orgulho de Jó é Abatido — Jó 40:1-5

ORGULHO, ABATIDO, LIVRO, JÓ, ESTUDO BIBLICO, TEOLOGIA
Aproximamo-nos agora da resposta humana à palavra divina a qual é introduzida pelo vers. 2. Leia-se: “Porventura contenderá com o Todo-Poderoso o opositor falaz?” Aquele que argúi a Deus responda a estas coisas” (v.2). Ironicamente Deus tomara Jó à letra e aceitara-o como oponente, como adversário (ver 38.3n.). Terá Jó, o combativo opositor, alguma resposta a dar depois de escutar aquelas impressivas palavras sobre as maravilhas da natureza, tanto animadas como inanimadas, que o Deus da natureza graciosamente lhe concedera? Mas a revelação dos céus transformou o audacioso combatente num humilde adorador. Os capítulos Jó 40.3-5 e Jó 42.1-6 dão-nos uma ilustração clássica dos resultados que devem sempre seguir-se àquele momento em que se quebra o silêncio divino e o Todo-Poderoso se revela de novo ao homem que O escuta naquela atitude de fé sem a qual “é impossível agradar-Lhe”. Nesses momentos interrompe-se a torrente de palavras humanas (v.4-5); todo o discurso é vão; Jó arrepende-se amargamente das suas lamentações. Nesses momentos o homem vê-se tal qual é: eis que sou vil “eis que nada valho” (v.4). Não é uma confissão de pecado se bem que Jó não deixasse, por certo, de reconhecer imediatamente a iniqüidade de algumas das suas palavras e atitudes. É antes uma confissão da sua insignificância. Ao tirar os olhos de si próprio para os erguer para aquele Deus que agora lhe aparecia mais vividamente do que nunca. Jó via-se a si próprio através de um novo prisma.

As passagens acima mencionadas são altamente sugestivas. A Palavra de Deus operou uma transformação que a palavra humana fora totalmente incapaz de operar. Os capítulos 3 a 37 dão-nos um longo comentário à incapacidade das palavras e sabedoria do homem para explicar o mistério do sofrimento. Elifaz, Bildade, Zofar e Eliú tinham todos feito longos discursos mas sem proferirem uma única palavra que levasse Jó ao arrependimento ou lhe desse um pouco de conforto. As réplicas de Jó também haviam sido impotentes para esclarecer o mistério; também elas haviam escurecido “o conselho de Deus com palavras sem conhecimento” (Jó 38.2). Mas veio a Palavra de Deus e a tumultuosa torrente de palavras cessou. Não veio através de argumentos cuidadosamente pensados, irrespondíveis, que, pela sua inexorável lógica, vibrassem um golpe mortal nas objeções e escolhas intelectuais de Jó; não veio através de uma explicação simples, acessível, dos muitos sofrimentos que afligiam Jó. Aí, faz-se silêncio; silêncio acerca da idéia de retribuição tão largamente explorada em discurso após discurso; silêncio acerca do aspecto disciplinador do sofrimento. A Palavra veio daquele Deus poderoso e majestoso que a Jó através de uma visão de Deus-está por detrás de cada maravilha da natureza, seja ela animada ou inanimada, cuidadosamente atento ao inesperado e insignificante (ver especialmente Jó 38.26,27,39; Jó 39.30), infinitamente superior ao homem em poder e sabedoria.

A palavra que assim veio até ele convenceu Jó de que podia confiar num tal Deus. Mostrou-lhe que a Providência era algo de muito mais envolvido e complicado que ele imaginara. Era como um homem que tivesse vivido num quarto fechado cujas janelas cerradas o tivessem privado do puro e doce ar de Deus e lhe ocultassem a radiosa luz do sol. Com o aparecimento de Deus as janelas haviam-se aberto e o ar e a luz haviam entrado. Deus não respondeu aos problemas que se levantavam na sua mente mas respondeu a Jó; curou as feridas do seu coração e invadiu-o de uma doce e quieta resignação. Contudo a Jó não chegou a mais impressiva de todas as palavras divinas, a Palavra que trouxe à humanidade a mais clara e nítida visão de Deus, a mais irrefutável evidência de que Deus é e deve ser digno da nossa confiança: a Palavra da cruz. A visão do Deus da natureza incutiu em Jó o espírito de adoração. Mas quanto maior é a visão do Calvário, quanto mais deve essa visão levar aquele que sofre a prostrar-se humildemente perante o seu Deus numa atitude de profunda admiração, amor e louvor!