A Vaidade da Adoração e do Culto — Eclesiastes 5:1-9

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1. SABEDORIA E ESTULTÍCIA NA ADORAÇÃO A DEUS (Ec 5.1-7). Pesquisando a vaidade de todas as coisas debaixo do sol, Eclesiastes volta seu olho crítico para a religião; pois o homem secularizado de modo algum é avesso à religião; somente que a sua é uma religião secularizada e humanizada. Esse é o grande abismo da religião, contra o que é feita a advertência. Pois existe uma inveterada tendência, no homem, para tentar “usar Deus” (Deo uti, Lutero), sujeitando Deus a si mesmo e à sua própria preocupação, tratá-Lo como um aliado, um analgésico, ou uma agência de seguros. A característica dessa religião centralizada no homem é sua verbosidade; sua ansiedade para dizer o que tem a dizer se reflete numa torrente interminável de relatórios, declarações, pronunciamentos, panfletos, etc. Mas faz ouvidos poucos para a palavra de Deus. A palavra de Deus não é eco de nossas palavras. É Sua própria palavra, é Sua palavra de julgamento e de graça, e perante ela precisamos estar em silêncio e escutar. Em nossa aproximação a Deus é necessário relembrar “a qualidade de ser outro de Deus”, e respeitar “a infinita diferença qualitativa entre Deus e o homem” (Kierkegaard).

Guarda o teu pé (v.1). O sentido é excelentemente transmitido pela moderna expressão: “Cuidado por onde andas!” Anjo (v.6). O Sacerdote ou ministro. Por que razão se iraria Deus...? (v.6). É preeminentemente contra a infelicidade humana que se manifesta a ira de Deus.

2. DO MAGISTRADO CIVIL (Ec 5.8-9). O temor de Deus é geminado (naturalmente) com o respeito pela autoridade no estado. Cfr. 1Pe 2.17. Pois não existe outro poder senão o de Deus: e os poderes que porventura existam foram ordenados por Deus. Não quer dizer isso que os poderes governantes estejam acima de repreensão. Pelo contrário, existe corrupção em cada estágio da hierarquia política. Nem mesmo os mais altos na terra estão livres de pecado. Dessa maneira, a existência da injustiça e da opressão não deve ser motivo de admiração; pois seu remédio não jaz em qualquer autoridade humana. Contudo, existe uma forma relativamente melhor de governo; e Eclesiastes expressa sua preferência por uma monarquia patriarcal, onde o rei esteja intimamente familiarizado com as preocupações de seus súditos (agricultores) - um julgamento que sem dúvida é são, devido a sua ênfase sobre a agricultura e a rejeição subentendida da burocracia, ainda que de difícil aplicação nos grandes estados industrializados.

O que mais alto é do que os altos (v.8). O termo é ambíguo, talvez intencionalmente. Olhando para o alto da escada da autoridade, segundo nossa visão, podemos ver apenas “os poderes que existem”, ou então podemos ver, acima dele. Aquele que fará “justiça ao órfão e ao oprimido, a fim de que o homem, que é da terra, não prossiga mais em usar da violência” (Sl 10.18). O proveito da terra... (v.9). A melhor tradução parece ser: Proveitosa para uma terra em geral é um rei devotado ao campo arado.