Comentário de Romanos 14:1-23 (J. W. Scott)

Comentário de Romanos 14:1-23 (J. W. Scott)

Comentário de Romanos 14


Romanos 14

Agora Paulo refere a uma situação especial da comunidade romana, acerca da qual foi informado com segurança. Em toda igreja sempre há irmãos que alimentam idéias menos corretas da verdade cristã, e comumente são pertinazes na defesa do seu credo falho. Os tais não devem ser humilhados. A consciência deles, iluminada parcialmente quanto à liberdade que os cristãos gozam em Cristo, deve ser respeitada, e o comportamento dos outros membros da sociedade cristã não deve ofendê-los. Por outro lado, esses irmãos importunos não devem criticar os demais, nem apresentar suas ideias como padrão para os outros e exigir destes uniformidade. Evidentemente o apóstolo estava acostumado com esse tipo de mentalidade, visto como em outras igrejas havia irmãos sob as suas vistas, especialmente em Corinto (cfr. 1Co 8.1; 1Co 10.33) e em Colossos (cfr. Cl 2.16-23). Duas das questões muito debatidas, em torno das quais havia opiniões diferentes no tempo de Paulo, eram a guarda do dia de descanso e o comer carne. Provavelmente a igreja de Roma recusava aceitar como membros aqueles que mantinham opiniões excêntricas. Paulo, então, se esforçou por inculcar uma atitude mais branda, no sentido de que os tais fossem recebidos, na condição de confessarem os pontos essenciais da fé cristã, para depois serem instruídos no Senhor. Muitos tinham escrúpulos em torno daqueles assuntos, e o apóstolo então procurou evitar cisma na igreja, bem como aconselhar tolerância sob a lei do amor.

1. O IRMÃO MAIS FRACO NÃO DEVE SER DESPREZADO (Rm 14.1-12) - Paulo, primeiro que tudo, salienta o ponto de cada pessoa ter suas próprias convicções. Por elas regulará seu comportamento, com honestidade intelectual e moral, e deixará que o seu próximo faça o mesmo. Cada um vive não na presença dos seus companheiros, senão diante do Senhor, em cujo tribunal todos compareceremos. Débil na fé (1) implica falta de equilíbrio em discernir o essencial e o não-essencial da fé salvadora e santificadora. Paulo, com autoridade apostólica, manda receber tais irmãos fracos na companhia cristã, porém não para discutir opiniões (1); isto é, sem entrar em críticas ou não para condenar os escrúpulos deles. Preconceitos de somenos importância não são fundamento bastante para que a alguém se neguem os privilégios dos sacramentos. Então passa a notar os dois problemas em lide, o comer carne (3-4) e os dias santos (5). Há, provavelmente, o caso do ex-judeu que ainda é favorável à carne cerimonialmente pura, diferindo do ex-pagão que entende poder comer de qualquer carne, se quiser. Não está claro se se trata de abstinência de carne, só por ser carne, ou se entrava em consideração o estar ela manchada por ter sido consagrada a ídolos (1Co 10.25). É provável que o preconceito girasse em torno de ambas as hipóteses. Em qualquer caso quem comia não devia criticar quem não comia. Diante de Deus somente, e não de seus companheiros, o que come está em pé ou cai (4) a saber, é absolvido ou condenado, ou, se tomado o caso subjetivamente, fica moralmente firme em sua liberdade, ou se torna imoral na licença. Todavia, Paulo acrescenta que o livre não estará em perigo, porque o Senhor pode preservá-lo, tendo-o já acolhido (3). A outra questão há de se resolver no mesmo espírito de liberdade e tolerância. Uma pessoa defende a santidade de certos dias; outra considera iguais todos os dias. Cada qual deve acertar o modo de encarar tais assuntos para o Senhor (6). Este motivo de culto torna justa a observância ou a não-observância. Paulo firma-se neste princípio normativo da inspiração do culto e o desenvolve nos vers. 7-12. O Domínio de Cristo é supremo e abrange tudo, a vida, a morte e o juízo. Quando os cristãos se lembram de que todos darão contas de si mesmos a Deus (12), outros assuntos adquirem sua exata perspectiva .

2. A CONSCIÊNCIA DO IRMÃO MAIS FRACO DEVE SER RESPEITADA (Rm 14.13-23) - Do seu sábio conselho aos cristãos romanos, para que não se julguem uns aos outros, o apóstolo passa a sugerir que a liberdade de crítica, eles podiam empregá-la melhor voltando-a contra si mesmos. Nunca deviam pôr tropeço no caminho dos irmãos mais débeis, ostentando sua própria liberdade na questão de comidas e bebidas. Tal liberdade, na presença daqueles cuja consciência desaprovava aquela atitude, podia tornar-se um obstáculo ou uma ocasião de queda (13), isto é, um laço na senda do progresso moral. Iniciativa tomada contra a luz da consciência, por pobre que seja essa luz, é fracasso moral. Quando o apóstolo declara estar persuadido de que nenhuma carne é de si mesma impura (14), está-se referindo apenas a coisas comestíveis proibidas pela lei cerimonial, ou por algum costume. Alguns pensam diferentemente, e para eles, quanto para todos, a sua opinião é que deve servir de norma. O motivo do afastamento dessa norma, para se atentar na opinião de um irmão débil, é o princípio dominante do amor, que Paulo já expôs (Rm 12.9-13), e ao qual ele agora acrescenta o fato de que tal irmão é amado pelo Senhor, participante dos benefícios de Sua morte expiatória (15). Não faças perecer (15). Paulo emprega esta frase impressiva para descrever o que resulta afinal quando um irmão fraco é levado a proceder contra sua própria consciência. Permitir alguém que o seu bem (16), isto é, sua liberdade danifique ou faça perecer os outros desse modo, seria levar o evangelho a ser vituperado. No que diz respeito ao reino de Deus, o amor é mais importante de que questões de comida e bebida. Sua expressão em justiça, paz e gozo é o que mais importa. O apóstolo evidentemente combate aqui os conceitos materialistas dos judeus concernentes ao reino messiânico. Não destruas (20); verbo diferente do que foi usado no vers. 15. É o oposto de edificar (19). O princípio de abstinência total de tudo quanto escandaliza é recomendado como norma cristã de viver a vida de justiça-pela-fé, a fim de que um irmão não seja tentado, não tanto para a degradação carnal, quanto para a ruína moral e espiritual pelo sufocamento da consciência. Em certas circunstâncias, nossa fé pode ter de se expressar não abertamente, senão secretamente em nossa comunhão com Deus. Homem feliz é o de consciência clara. Mas o que procede contra sua consciência condena-se a si mesmo. O fator de todo importante é a fé. Mudar alguém o seu procedimento neste particular sem crer que está certo é, de fato, um pecado (23).

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