Estudo Sobre Marcos 1:1-4

MARCOS, CAPÍTULO 1, ESTUDO, EVANGELHO
Estudo Sobre Marcos 1:1-4

Marcos começa a história de Jesus desde muito atrás. A história de Jesus não começa com seu nascimento na Terra; nem sequer começa com a aparição no deserto de João Batista; começou com os sonhos dos profetas, muito, muitíssimo tempo atrás; isto equivale a dizer que começou faz muito, muito tempo, na mente de Deus. Os estóicos acreditavam firmemente no ordenado intuito divino das coisas.

"As coisas de Deus", disse Marco Aurélio, "estão cheias de previsão. Todas as coisas fluem do céu". Há muito que podemos aprender aqui.

(1) Tem-se dito que "os pensamentos da juventude são pensamentos longos, muito compridos" e que assim também são os pensamentos de Deus. Deus é um Deus que realiza seus propósitos. A história não é um caleidoscópio de acontecimentos desconectados, presididos pelo azar; é um processo dirigido por um Deus capaz de ver o fim no princípio.

(2) Nós estamos inundados nesse processo, e por nossa posição podemos colaborar com Ele ou entorpecê-lo. Em um sentido é uma honra tão grande contribuir a um processo de magnitude transcendente como é um privilégio ver a meta final desse processo. A vida séria muito diferente se em lugar de suspirar por uma meta distante e inalcançável pelo. momento fizéssemos tudo o que está a nosso alcance para que essa meta esteja dia a dia um pouquinho mais perto de nós. Nunca se chegará a uma meta se faltar quem trabalhe para torná-lo possível. Como dissesse um poeta, não haveria árvores frondosas que nos cobrissem sob sua sombra, se alguém não as tivesse plantado, para que nós continuássemos regando-as.

A entrevista profética que Marcos utiliza é sugestiva.

Eis aí envio diante da tua face o meu mensageiro, o qual preparará o teu caminho. Esta passagem é de Malaquias 3:1. Em seu contexto original é uma ameaça. Nos dias do Malaquias os sacerdotes tinham descuidado seu ministério. As oferendas sacrificiais eram animais defeituosos e de segunda qualidade; o serviço do templo era desempenhado sem entusiasmo. O mensageiro viria para limpar e purificar a adoração do Templo, antes que o Ungido de Deus aparecesse sobre a Terra. Logo, a vinda de Cristo é uma purificação da vida. E o mundo necessitava essa purificação. Sêneca chamou Roma "um poço cego de iniqüidade". Juvenal se referiu a esta cidade como "o sujo esgoto na qual confluíam as correntes de águas servidas de toda . Síria e Acaia". Em qualquer lugar chega o cristianismo, traz a purificação.

Este é um fato que pode ser demonstrado. Bruce Barton relata que o primeiro trabalho que se lhe encarregou como jornalista foi uma série de artigos para denunciar ao evangelista Billy Sunday. Escolheram-se três cidades. "Falei com os comerciantes destas cidades", diz Barton, "e estes me disseram que durante as reuniões e depois de terminadas estas, muitos se tinham aproximado de seus mostradores para pagar dívidas tão antigas que desde muito tempo tinham sido "apagadas dos livros." Foi visitar presidente da câmara de comércio de uma cidade que Billy Sunday tinha visitado três anos antes. "Não sou membro de nenhuma igreja", disse-lhe. "Nunca vou ao culto ou à missa, mas posso lhe dizer uma coisa. Se se propor agora trazer Billy Sunday a esta cidade, e se soubéssemos por antecipado tanto como sabemos agora dos resultados de sua missão, e se as Igrejas não pudessem reunir os recursos necessários para trazê-lo, eu poderia conseguir todo o dinheiro necessário em meio-dia somente entre homens que jamais pisam em uma igreja. Billy Sunday levou desta cidade onze mil dólares. Mas um circo leva a mesma soma em um dia, e não deixa nada. Sunday deixou uma atmosfera moral diferente."

A denúncia que Barton se propôs escrever se converteu assim em um tributo ao poder transformador do evangelho. Quando Billy Graham pregou em Shreveport, Louisiana, as vendas de álcool diminuíram em quarenta por cento, e as vendas de Bíblias aumentaram em trezentos por cento. Durante uma missão em Seattle, entre os resultados imediatos que se obtiveram, diz-se de uma maneira muito singela: "Vários julgamentos de divórcio que estavam pendentes foram cancelados." Em Greensboro, Carolina do Norte, o relatório afirma: "Toda a estrutura social da cidade foi afetada."

Uma das maiores histórias sobre o que pode fazer o cristianismo a encontramos no fato real do motim da tripulação do Bounty. Os amotinados foram desembarcados na ilha Pitcairn. Havia nove amotinados, seis nativos, dez mulheres nativas e uma moça de quinze anos de idade. Um dos homens conseguiu fabricar uma espécie muito primitiva de álcool. A situação que resultou deste fato foi terrível. Morreram todos, exceto Alexander Smith. Smith encontrou uma Bíblia. Leu-a e se propôs fundar um Estado, com os nativos da ilha, apoiado exclusivamente nos ensinos da Bíblia; todos fariam o que a Bíblia dizia que devia fazer-se. Passaram vinte anos antes que um navio americano infiltrasse na ilha. Encontraram uma comunidade completamente cristã. Não havia cárcere, porque não se cometiam crimes. Não havia hospital, porque ninguém adoecia. Não havia manicômio, porque ninguém ficava louco. Não havia analfabetos; em nenhum lugar do mundo a vida humana e a propriedade privada eram tão invioláveis e seguras como ali. O cristianismo tinha limpado aquela sociedade. Ao vir Cristo, o antídoto da fé cristã limpa o veneno moral que infecta a sociedade e a deixa pura e sã.

João veio anunciando o batismo de arrependimento. O judeu conhecia muito bem os lavamentos rituais. Levítico 11-15 os descreve em detalhe. "O judeu", diz Tertuliano, "lava-se todos os dias, porque todos os dias contrai impureza." As bacias de bronze e a purificação simbólicas estavam entretecidas na trama mais íntima do ritual judeu. Um gentil era necessariamente impuro, porque nunca tinha obedecido as leis judias. portanto, quando um gentio se convertia em partidário, quer dizer, quando se convertia ao judaísmo, devia cumprir com três coisas.

Em primeiro lugar, devia circuncidar-se, porque esse era o sinal do povo da aliança; em segundo lugar devia oferecer um sacrifício por ele, porque, como pagão, necessitava expiação, e somente o sangue derramado podia expiar o pecado; em terceiro lugar, devia batizar-se, ação que simbolizava a purificação de toda a impureza de sua vida anterior. Era natural, portanto, que o batismo não fosse uma simples aspersão com água, e sim ser um verdadeiro banho, no que se lavava todo o corpo. O judeu conhecia o batismo; mas o mais surpreendente do batismo de João era que ele, um judeu, pedia aos judeus que se submetessem a esse ritual que somente era obrigatório para os gentios. João fazia a tremendo descoberta de que ser judeu no sentido racial não significava necessariamente pertencer ao povo escolhido de Deus; o judeu podia estar exatamente na mesma posição que o gentio; não era a vida judia, a não ser a vida purificada a que pertencia a Deus. O batismo ia acompanhado pela confissão. Em todo ato de volta a Deus devia haver confissão ante três pessoas diferentes.

(1) Alguém deve confessar-se a si mesmo. Forma parte da natureza humana que fechemos os olhos ao que não queremos ver, e sobretudo, por essa mesma razão, fechamos os olhos a nossos pecados. Alguém conta o primeiro passo de um homem para a graça. Uma manhã, ao barbear-se, olhando-se ao espelho, repentinamente exclamou: "Rato imundo!" E desde esse dia começou a ser um homem diferente. Sem dúvida quando o filho pródigo abandonou seu lar se imaginou que era um personagem aventureiro e ousado. antes de dar o primeiro passo de volta ao lar, teve que olhar-se a si mesmo atentamente e dizer-se: “Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti” (Lucas 15:17-18). Não há ninguém no mundo que nos resulte tão difícil enfrentar como nós mesmos. E o primeiro passo para o arrependimento e para uma correta relação com Deus é admitir nosso pecado ante nossa própria consciência.

(2) Deve-se confessar a todos aqueles a quem se ofendeu. Não valeria de muito dizer a Deus que lamentamos nosso passado, a menos que também vamos com as mesmas palavras a todos aqueles a quem tenho causar pena, ofendido ou machucado. É necessário eliminar as barreiras humanas antes de que caiam as barreiras que nos separam de Deus. No reavivamento da Igreja do Este Africano a confissão de pecados foi uma das características mais típicas. Um marido e sua esposa eram membros do mesmo grupo. Um deles veio à reunião e no momento da confissão disse que tinham tido uma briga em casa. O ministro nativo disse imediatamente: "Não deveria ter vindo a confessar esta briga agora; primeiro deveria ter arrumado o problema e depois, sim, podia confessá-la." Pode, com muita freqüência, ocorrer que seja muito mais fácil confessar um pecado a Deus que confessá-lo aos homens. Mas não pode haver perdão sem humilhação.

(3) Deve confessar-se diante de Deus. O fim do orgulho é o princípio do perdão. Quando alguém diz: "pequei", é quando Deus tem a oportunidade de dizer: "Eu te perdôo." O homem que quer encontrar-se ante Deus em igualdade de condições não descobrirá o arrependimento, a não ser aquele que em humilde contrição e murmurando envergonhado diz: "Deus, tenha misericórdia por mim, pecador."