Estudo Sobre Mateus 24:1-51

Estudo Sobre Mateus 24:1-51
por William Barclay



Estudo Sobre Mateus 24:1-51

Já vimos que uma das grandes características de Mateus é a de reunir os ensinos de Jesus sobre diferentes temas em grandes blocos. No capítulo 24 reúne coisas que Jesus disse sobre o futuro; dá-nos uma visão das coisas que virão. Mas neste capítulo reúne frases de Jesus sobre aspectos do futuro. Ser-nos-á muito mais fácil esta obscura passagem se podemos separar as diferentes partes da trama e examiná-las uma por uma. A reunião das frases de Jesus ocupa os primeiros trinta e um versículos do capítulo. O melhor será que, em primeiro lugar, exponhamos estes versículos em sua totalidade, em seguida estabeleceremos os diferentes aspectos do futuro sobre os que trata e, por último, buscaremos atribuir cada seção destes primeiros 31 versículos a seu lugar no todo. Devemos compreender que não podemos pretender que o padrão que obtenhamos seja definitivo e final, mas embora alguns detalhes fiquem obscuros, o quadro se esclarecerá em grande medida.

Estudo Sobre Mateus 24:1-31

O entrecruzamento dos fios  Aqui temos, pois, a complexa visão do futuro compilado por Mateus. Agora devemos buscar desenredar os diferentes fios que aparecem, e atribuir cada seção ao fio que corresponde. Neste momento nos limitaremos a indicar os fios e atribuí-los a seu lugar e deixaremos a explicação mais ampla para o comentário detalhado.

(1) Há seções que predizem os dias terríveis do cerco de Jerusalém por Tito, o general romano. Este foi um dos cercos mais terríveis da história. Os versículos 15-22 correspondem a este fio.

(2) Há seções que falam da destruição total de Jerusalém e sua redução a um montão de ruínas. Os versículos 1 e 3 pertencem a este fio.

(3) Há imagens extraídas da concepção judaica do Dia do Senhor. Já falamos sobre essa concepção, mas devemos voltar a sintetizá-la aqui. Os judeus dividiam o tempo em duas eras: esta era presente e a era por vir. A era atual é má, e não há nenhuma possibilidade de reformá-la com meios humanos. Só se pode consertar pela intervenção direta de Deus. Quando Deus intervier, chegará a idade de ouro, a era por vir. Mas entre as duas eras chegará o Dia do Senhor, que será uma época de conflitos terríveis e espantosos, como as dores de parto de uma nova era.

No Antigo Testamento há muitas imagens do Dia do Senhor e nos livros judeus escritos entre o Antigo e o Novo Testamento se desenvolveram mais ainda estas imagens e foram tornadas mais gráficas e terríveis. Seria um tempo de terror. “Aquele dia é dia de indignação, dia de angústia e dia de alvoroço e desolação, dia de escuridade e negrume, dia de nuvens e densas trevas” (Sofonias 1:14-18). As imagens desse terror se fizeram mais terríveis e lúgubres. Chegaria em forma repentina. “o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite” (1 Tessalonicenses 5:2, RC). ] “Três coisas”, diziam os rabinos, “são repentinas: a chegada do Messias, um descobrimento e um escorpião.” O em sangue (Joel 2:30-31; Isaías 13:10, 13). Seria uma época de caos moral em que se reverteriam as normas morais e em que até a natureza atuaria em forma contrária a si mesma; a violência, o ódio e as guerras seriam a atmosfera comum da vida.

Schürer (The Jewish People in the Time of Christ II, 154) sintetiza as ideias judaicas sobre o dia do Senhor, ideias que povoavam a literatura judia da época e que todos conheciam nos tempos de Jesus.

“O Sol e a Lua escurecerão, aparecerão espadas no céu, haverá exércitos de cavalos e soldados partirão pelas nuvens. Toda a natureza cai em uma comoção e confusão muito grandes. O Sol aparece de noite, a Lua de dia. Da madeira flui sangue, a pedra fala, e se encontra sal na água potável. Os lugares que se semearam aparecem como se não estivessem semeados, os celeiros repletos aparecerão vazios e se deterão as vertentes dos poços. Desaparecerão entre os homens todas as restrições da ordem, o pecado e a falta de temor de Deus governarão a Terra. E os homens lutarão entre si como se estivessem enlouquecidos, o amigo contra o amigo, o filho contra o pai, a filha contra a mãe. Levantar-se-á-se nação contra nação e à guerra se acrescentará o terremoto, o fogo e a fome que causarão a morte do homem.”

Essas eram as terríveis imagens do dia do Senhor. A este fio correspondem os versículos 6-8 e 29-31 de nossa passagem.

(4) Há alguns versículos que falam da perseguição que haverão de suportar os seguidores de Cristo. Os versículos 9 e 10 correspondem a este fio.

(5) Há versículos que tratam sobre as ameaças que se desenvolverão contra a vida e a pureza da Igreja. A este fio correspondem os versículos 4 e 5, 11-13, 23-26.

(6) Por último, há versículos que falam diretamente da segunda vinda de Cristo. A este fio correspondem os versículos 3, 14, 27 e 28.

Assim, pois, nos trinta e um primeiros versículos deste capítulo surpreendente e difícil de Mateus temos uma visão do futuro que conta com seis aspectos. Agora passaremos a estudar essa visão mas não tomaremos os versículos tal como aparecem, antes analisaremos em conjunto os que pertencem a cada união dos fios que detalhamos. E começaremos com os versículos nos quais Jesus prediz a queda da cidade de Jerusalém.

Estudo Sobre Mateus 24:1-2

Pode ser que alguns dos discípulos não tivessem visitado a cidade de Jerusalém com frequência. Vinham da Galileia, eram homens das montanhas e do campo, eram pescadores que conheciam o lago muito melhor que a cidade. Pelo menos alguns deles seriam como gente do campo que vai visitar uma grande cidade; sentiam-se esmagados pelo que viam, e era muito natural, porque não havia nada semelhante ao templo no mundo da antiguidade. Cavou-se o topo do monte Sião para deixar uma planície de 300 metros quadrados. Ao fundo dessa planície se encontrava o templo propriamente dito (a naos). Estava construído em mármore recoberto com lâminas de ouro e brilhava e refulgia ao Sol de tal maneira que era difícil contemplá-lo. Entre a cidade baixa e o monte do templo estava o vale de Tiropeom e uma ponte monumental cruzava esse vale. Os arcos tinham uma luz de doze metros e os blocos de pedra com que estava construído tinham sete metros de comprimento por quinze centímetros de espessura.

A área do templo estava rodeada por grandes pórticos; o Pórtico de Salomão e o Pórtico Real. Estes pórticos eram sustentados por colunas de uma só peça de mármore. Tinham onze metros de altura e eram tão largas que três homens juntos com os braços estendidos apenas podiam abraçá-los. Encontraram-se pedras angulares nas esquinas do templo que medem de seis a doze metros de comprimento e que pesam mais de 100 toneladas. Como foram cortadas e posicionadas em seus lugares é um dos mistérios da engenharia antiga. Não deve nos surpreender, então, que os pescadores da Galileia contemplassem fascinados essas pedras imensas e esses edifícios surpreendentes e que chamassem a atenção de Jesus sobre eles.

Jesus respondeu que chegaria o dia em que não ficaria pedra sobre pedra nesses edifícios, e tinha razão. Porque no ano 70 d. C. os romanos, cansados da rebeldia intransigente dos judeus abandonaram todo intento de pacificação e se entregaram à destruição e Jerusalém e o templo ficaram devastados. De maneira que a profecia de Jesus se cumpriu ao pé da letra.

Aqui fala Jesus, o Profeta. Jesus sabia que o caminho da política de poder só pode terminar em um desastre. O homem e o país que recusam seguir o caminho de Deus se encaminham para o desastre, até nas coisas materiais. O homem e o país que rejeitam o sonho de Deus verão destroçados também seus próprios sonhos.

Estudo Sobre Mateus 24:15-22

O cerco de Jerusalém foi um dos mais terríveis da história. Jerusalém era uma cidade difícil de ser tomada, porque está localizada sobre uma colina e a defendiam fanáticos religiosos; de maneira que Tito decidiu fazê-la render-se pela fome.

Ninguém sabe muito bem o que é a abominação desoladora. A frase pertence a Daniel 11:31; 12:11. Ali diz que a abominação desoladora se instalou no templo. A referência de Daniel é muito clara. Ao redor do ano 170 A. C. Antíoco Epifanes, rei de Síria, planejou fazer desaparecer o judaísmo e introduzir os deuses e os costumes religiosos dos gregos na Judéia. Capturou Jerusalém e profanou o templo ao erigir um altar ao Zeus Olímpico no pátio do templo, oferecendo nele carne de porco. Também converteu os dormitórios dos sacerdotes e as habitações do templo em bordéis públicos. Foi um intento deliberado de erradicar e destruir a religião judaica. Jesus profetizou que voltaria a suceder o mesmo e que uma vez mais se profanaria o templo: e isso foi o que aconteceu. Jesus via que em Jerusalém voltariam a acontecer as coisas terríveis que tinham tido lugar duzentos anos antes. Só que desta vez não surgiria nenhum Judas Macabeu, desta vez não haveria liberação, nem purificação; a única coisa que se veria seria uma devastação total.

Jesus predisse que se os dias desse sítio não fossem abreviados, nenhum ser humano teria sobrevivido. É estranho ver como Jesus deu conselhos práticos, conselhos que não foram atendidos e cujo rechaço duplicou o desastre. Jesus aconselhou que quando chegasse esse dia as pessoas deviam escapar às montanhas; e não o fizeram; de todas as partes do país chegaram pessoas para aglomerar-se na cidade e dentro dos muros de Jerusalém e essa loucura aumentou cem vezes o horror da fome imposta pelo sítio.

Quando nos remetemos à história de Josefo, o historiador judeu, vemos quanta razão tinha Jesus a respeito desse futuro terrível. Josefo escreve sobre esses espantosos dias de sítio e fome: "A fome aumentou seu progresso e devorou as pessoas em casas e famílias inteiras. Os aposentos superiores estavam cheios de mulheres e meninos que morriam de fome, as avenidas da cidade estavam cheias de cadáveres de anciãos, os meninos e os jovens caminhavam pelas praças como sombras, inchados pela fome e caíam mortos em qualquer lugar que os surpreendesse sua miséria. Quanto a seu enterro, os que estavam doentes não podiam fazê-lo, e os que estavam bem se sentiam desalentados pela enorme quantidade de cadáveres e pela insegurança de saber quão logo eles mesmos morreriam porque havia muitos que faleciam enquanto enterravam a outros e muitos foram à sua gaveta antes de que chegasse a hora fatal. Tampouco se escutava nenhum lamento pelas calamidades que aconteciam nem se escutavam queixas dolorosas. A fome confundia todas as paixões naturais porque os que estavam a ponto de morrer olhavam os que tinham morrido antes com os olhos secos e a boca aberta. Também se tinha instaurado um silêncio profundo e uma espécie de noite mortal sobre a cidade... E cada um deles morria com os olhos fixos no templo" (Josefo, Guerras dos Judeus, 5.12.3). Josefo relata a horrível história de uma mulher que nesses dias matou, assou e comeu a seu filho de peito (6.3.4). Conta-nos que inclusive os romanos, uma vez que tinham tomado a cidade e estavam por saqueá-la, sentiram-se tão aterrados pelo que viam que não puderam menos que deter suas mãos. Quando chegaram os romanos às casas para saqueá-las, encontraram nelas famílias inteiras de mortos e as habitações superiores cheias de cadáveres... paralisaram-se pelo horror do espetáculo e foram embora de mãos vazias, sem ter tocada em nada (6.8.5). Já vimos de que maneira este horror aumentou pelo fato de que as pessoas escaparam para a cidade em vez de ir para as montanhas. O próprio Josefo participou deste sítio e nos conta que 97.000 pessoas foram capturadas e convertidas em escravos; 1.100.000 morreram.

Isso foi o que previu Jesus, e isso foi o que profetizou e sobre o qual deu seus conselhos. Jamais devemos esquecer que não são só os homens mas também as nações que têm necessidade da sabedoria de Cristo. A menos que os líderes das nações sejam conduzidos por Cristo não podem fazer mais que levar os homens ao desastre não só espiritual mas também físico. Jesus não era um sonhador, estabeleceu as únicas leis que podem fazer prosperar uma nação e cuja desobediência só pode conduzi-la à ruína.

Estudo Sobre Mateus 24:6-8, 29-31

Já vimos que uma parte essencial do pensamento judeu sobre o futuro era o dia do Senhor. Nesse dia Deus interviria de maneira direta na história e na era atual, com todo seu incurável mal, começaria a ser transformada e re-criada até converter-se na era por vir.

Com toda naturalidade, os autores do Novo Testamento identificaram, em grande medida, a Segunda Vinda de Cristo com o Dia do Senhor. E fizeram uso de todas as imagens e representações relacionadas com o Dia do Senhor e as aplicaram à Segunda Vinda. Ao lembrar disso, recordaremos algo essencial: nenhuma destas figuras deve ser tomada em sentido literal; são figuras e são visões; são intentos de expressar o indescritível com palavras humanas e de encontrar algum tipo de imagem para referir-se a coisas para as quais a linguagem humana carecia de descrição.

Mas de todas estas imagens surgem algumas verdades fundamentais.

(1) Dizem-nos que Deus não abandonou o mundo. Apesar de toda sua iniquidade, o mundo ainda é o cenário no qual se desenvolve o plano de Deus. O que Deus tem em mente não é o abandono, mas sim a intervenção.

(2) Dizem-nos que não devemos nos sentir desanimados mesmo que o mal pareça aumentar. Uma parte essencial da ideia judia sobre o Dia do Senhor é que deve ser precedido por um desmoronamento total de todos os valores morais e uma aparente desintegração total do mundo. Mas, apesar de tudo, não se trata de um prelúdio da destruição, mas sim da recriação.

(3) Dizem-nos que tanto o julgamento como a nova criação são algo seguro. Dizem-nos que Deus contempla o mundo com justiça e com misericórdia. E que o plano de Deus não é fazer desaparecer o mundo, e sim criar um mundo que esteja mais perto do desejo de seu coração.

Sempre devemos lembrar que o valor destas imagens não está em seus detalhes – que no melhor dos casos não são mais que símbolos, e que empregam as únicas imagens que as mentes dos homens podiam conceber – e sim nas verdades eternas que conservam; e a verdade essencial é que, seja como for o mundo, Deus não o abandonou.

Estudo Sobre Mateus 24:9-10

Estas é uma das passagens que deixam claro a absoluta honestidade de Jesus. Jamais prometeu um caminho fácil a seus discípulos; prometeu-lhes a morte, o sofrimento e a perseguição. Há um sentido no qual uma igreja autêntica sempre será perseguida, enquanto viver em um mundo que não é cristão. De onde vem essa perseguição?

(1) Cristo oferece uma nova lealdade; e afirma de vez em quando que essa nova lealdade deve transcender todos os laços terrestres. A maior causa de ódio na época da Igreja primitiva estribava no fato de que o cristianismo dividia os lares e as famílias quando um membro deles decidia seguir a Cristo e outros não. O cristão é um homem que prometeu dar a Jesus Cristo o primeiro lugar em sua vida, e isso pode produzir muitos choques entre os homens.

(2) Cristo oferece uma nova escala de valores. Há costumes, hábitos e formas de vida que podem ser muito corretos aos olhos do mundo, mas que estão muito longe de ser corretos quando julgados segundo a nova escala de valores do cristianismo. O que é difícil do cristianismo para muita gente é que este é um julgamento sobre eles mesmos e sua forma de conduzir-se nos negócios ou com suas relações. O que é embaraçoso sobre o cristianismo é que qualquer pessoa que não quer ser mudada o odeia e se sente ofendido.

(3) O cristão, se for um cristão autêntico, introduz um novo exemplo no mundo. Há uma beleza diária em sua vida que converte a vida de outros em algo escuro. O cristão é a luz do mundo, não no sentido de que critica e condena a outros, mas pelo manifestar em sua própria vida a beleza de uma vida que está impregnada de Cristo e, assim traz à luz a escuridão e fealdade de uma vida sem Cristo.

(4) Tudo isto significa que o cristianismo introduz uma nova consciência na vida. Nem o indivíduo cristão nem a Igreja cristã podem participar jamais de um ocultação ou um silêncio covardes. A Igreja e o indivíduo cristão devem constituir em todo momento a consciência do cristianismo – e o que caracteriza os homens é que em mais de uma ocasião gostariam de silenciar a consciência.

Estudo Sobre Mateus 24:4-5, 11 -13, 23-26

Jesus via que nos tempos futuros dois perigos ameaçariam à Igreja.

(1) Os perigos dos falsos líderes. Um falso líder é um homem que se empenha em propagar sua própria versão da verdade antes que a verdade tal como está em Jesus Cristo. É um homem que deseja disseminar suas próprias ideias antes que a verdade de Deus. E, acima de tudo, é um homem que trata de reunir a outros a seu redor antes que levá-los a Jesus Cristo. O resultado inevitável é que um líder falso é alguém que propaga a divisão em lugar de construir a unidade. A prova de qualquer líder é sua semelhança com Cristo.

(2) A segunda ameaça é a do desalento. Há aqueles cujo amor se esfriará devido à carência cada vez maior de lei no mundo. O cristão autêntico é aquele que se aferra à sua crença, quando esta passa por maiores dificuldades e aquele que, nas circunstâncias mais adversas, nega-se a acreditar que o braço de Deus se encurtou ou que seu poder decresceu.

Estudo Sobre Mateus 24:3, 14, 27-28

Aqui Jesus fala sem rodeios de sua Segunda Vinda. O Novo Testamento nunca emprega a frase a Segunda Vinda. A palavra que usa para descrever o retorno de Cristo em toda sua glória é muito interessante. Trata-se da palavra Parousia (vinda); esta palavra passou à nossa linguagem como uma descrição da Segunda Vinda. É muito comum no resto do Novo Testamento, mas este é o único capítulo em que aparece nos evangelhos (vv. 3, 27, 37, 39). O interessante é que se trata do termo que se emprega para referir-se à chegada do governador a seus domínios, ou do rei a seus súditos. Descreve a chegada de alguém com autoridade e poder.

O resto do capítulo terá muito a nos dizer sobre a Segunda Vinda de Cristo; mas no momento devemos assinalar que, quaisquer que sejam as verdades que se nos diga a respeito da segunda vinda, indubitavelmente conserva dois grandes feitos.

(1) Conserva o fato do triunfo final de Cristo. Aquele a quem os homens uma vez crucificaram, será algum dia Senhor de todos os homens. Para Jesus Cristo, o final é algo seguro: e esse final é o reinado geral do mundo.

(2) Conserva o fato de que a história se dirige para uma meta. Em mais de uma oportunidade os homens sentiram que a história se afundava em um caos cada vez maior, que não se trata mais que do “registro dos pecados e as loucuras dos homens”.

Às vezes os homens têm sentido que a história era cíclica e que as mesmas coisas voltariam a acontecer de vez em quando. Os estóicos criam que há determinados períodos fixos e que no final de cada um desses períodos o mundo ficava destruído devido a uma conflagração universal, e que depois disso, voltava-se a repetir a mesma história até em seus detalhes mais ínfimos. Crisipo diz:

“Então o mundo volta a recompor-se em uma ordem idêntica à anterior. As estrelas voltam a mover-se em suas órbitas, cada uma leva a cabo sua revolução em um período igual ao anterior, sem a mais mínima variação. Sócrates, Platão e cada um dos homens voltarão a existir com os mesmos amigos e concidadãos. Passarão pelas mesmas experiências e desenvolverão as mesmas atividades. Cada cidade, aldeia e campo voltará a existir, tal como era antes. E esta restauração do universo não se dá uma só vez, antes se repete muitas vezes; de fato, volta a suceder durante toda a eternidade.”

Trata-se de uma idéia lúgubre, a noção de que os homens estão atados a uma roda eterna em que não existe progresso e da qual não podem escapar.

Mas a segunda vinda implica esta verdade essencial: que há “um acontecimento divino e longínquo para o qual se dirige toda a criação” e esse acontecimento não é a dissolução – trata-se nada menos que do governo universal e eterno de Deus.

Estudo Sobre Mateus 24:32-41

Há poucas passagens que nos apresentam tantas dificuldades como esta. Está dividida em duas seções que parecem contradizer-se entre si. A primeira seção (vv. 32-35) parece indicar que, assim como o homem pode dizer quando está por chegar o verão fixando-se nos sinais da natureza, também pode dizer, pelos sinais do mundo, quando está por produzir-se a Segunda Vinda. E logo parece passar a afirmar que a Segunda Vinda se produzirá durante a vida da geração que está escutando a Jesus nesse momento.

A segunda seção (vv. 36-41) diz com toda clareza que ninguém sabe o momento da Segunda Vinda, nem os anjos, nem Jesus; só Deus sabe. E afirma que chegará aos homens em uma forma tão imprevista como uma tormenta que aparece em um céu azul.

Aqui nos encontramos com uma dificuldade muito real, dificuldade que, embora não possamos resolver por completo, devemos enfrentar de todos os modos.

Tomemos o versículo 34 como ponto de partida: “Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça.” Quando analisamos esta frase, surgem três possibilidades.

(a) Se Jesus se referiu à Segunda Vinda, equivocou-se, porque não voltou durante a vida da geração que O estava ouvindo. Há muitos que aceitam este ponto de vista e consideram que Jesus, sendo humano, tinha limitações em sua sabedoria e que em realidade acreditava que voltaria o ciclo vital dessa geração. Podemos aceitar sem hesitações o fato de que Jesus tinha limitações em sua sabedoria devido a seu caráter humano; mas é difícil crer que estava equivocado a respeito de uma verdade espiritual tão grande como esta.

(b) É possível sustentar que Jesus disse algo semelhante e que, na transmissão oral, mudaram-se suas palavras. Em Marcos 9:1 se afirma que Jesus disse o seguinte: “Em verdade vos afirmo que, dos que aqui se encontram, alguns há que, de maneira nenhuma, passarão pela morte até que vejam ter chegado com poder o reino de Deus.” Isso foi certo em forma gloriosa e triunfal. Durante essa geração o reino de Deus se disseminou em forma poderosa até que houve cristãos que ao longo de todo mundo conhecido. Ora, os primeiros cristãos esperaram, em realidade, a chegada iminente da Segunda Vinda. Em sua situação de sofrimento e perseguições esperavam e desejavam a libertação que lhes traria a Segunda Vinda de seu Senhor e às vezes tomaram palavras cuja intenção era uma referência ao Reino e as relacionaram com a Segunda Vinda que é algo muito distinto. Aqui pode ter acontecido algo parecido. O que Jesus pode haver dito é que seu Reino viria com poder antes que terminasse essa geração.

(c) Mas há uma terceira possibilidade. O que acontece se Jesus não disse isto com referência à Segunda Vinda? O que acontece se a frase até que tudo isto aconteça não se refere absolutamente à Segunda Vinda? O que acontece se a frase se refere à profecia com a qual começa o capítulo? O que acontece se se refere ao cerco e queda de Jerusalém? Se aceitarmos isto, desaparecem as dificuldades. O que diz Jesus é que suas terríveis advertências a respeito da condenação de Jerusalém se cumprirão durante a vida dessa mesma geração, e ocorreram quarenta anos depois. Pareceria que o melhor caminho é tomar os versos 32-35 como uma referência, não à Segunda Vinda, e sim à queda de Jerusalém; nesse caso, as dificuldades desaparecem.

Então os versículos 36-41 sim se referem à Segunda Vinda; e dizem algumas verdades de fundamental importância a respeito desse acontecimento.

(1) Dizem-nos que a hora desse evento só Deus a conhece e nada mais que Deus. É evidente, pois, que toda especulação sobre o momento da segunda vinda é nada mais nada menos que uma blasfêmia, porque o homem que especula sobre esse tema está tentando arrancar de Deus segredos que só pertencem a Ele. Não é dever de ninguém fazer especulações, nosso dever é preparar-nos e estar atentos.

(2) Diz-nos que esse momento virá em uma forma alarmante e repentina para aqueles que estão submersos nas coisas materiais. No relato antigo, Noé se preparou durante o tempo bom para o dilúvio que viria depois e quando este chegou, ele já estava preparado. Mas o resto da humanidade estava perdida comendo, bebendo, casando-se e dando-se em casamento e o dilúvio tomou as pessoas de surpresa e portanto desapareceram nele. Estes versículos nos advertem que nunca devemos envolver-nos tanto no tempo em tal forma que esqueçamos a eternidade, não devemos permitir jamais que nossa preocupação pelas coisas do mundo, por mais necessárias que sejam, faça-nos esquecer por completo que há um Deus, que as decisões sobre a vida e a morte estão em suas mãos e que quando queira que chegue seu chamado, pela manhã, à tarde ou à noite, deve nos encontrar preparados.

(3) Dizem-nos que a Vinda de Cristo será um momento de separação e de julgamento no qual Jesus Cristo congregará a seu redor àqueles que lhe pertencem.

Além disto não podemos ir – porque Deus reservou o conhecimento final a si mesmo e à sua sabedoria.

Estudo Sobre Mateus 24:42-51

Aqui temos o resultado prático de tudo o que lemos. Se ninguém mais que Deus conhece o dia e a hora da Vinda de Cristo, toda a vida deve ser uma preparação constante para essa vinda. E, se é assim, há alguns pecados básicos e fundamentais.

(1) Viver sem estar alerta conduz ao desastre. O ladrão não envia uma carta na qual anuncia quando pensa assaltar uma casa, sua arma principal em seus obscuros propósitos é a surpresa. Portanto, o dono de casa que tem coisas valiosas em seu lar deve manter uma vigilância constante. Mas a fim de compreender bem esta imagem, devemos lembrar que a guarda que o cristão monta enquanto espera a Vinda de Cristo não é a guarda do medo e a apreensão que paralisam. Trata-se de uma ansiosa expectativa do advento da glória e da alegria.

(2) O espírito que convida ao desastre é aquele que diz que há muito tempo pela frente. É a confortável ilusão do servo da segunda parábola que diz que terá tempo de sobra para arrumar as coisas antes de que chegue seu senhor. Segundo sua opinião, não havia necessidade de pensar na chegada de seu senhor durante muito tempo.

Há uma fábula que conta a história de três aprendizes de diabo que estavam para vir à Terra para completar sua aprendizagem. Falavam com Satanás, o chefe dos demônios, sobre seus planos para tentar e arruinar os homens. O primeiro disse: “Direi a eles que não há Deus.” Satanás disse: “Isso não enganará a muitos, porque sabem que há um Deus.” O segundo disse: “Direi aos homens que não há inferno.” Satanás respondeu: “Não enganará a ninguém assim; os homens sabem até agora que existe um inferno para o pecado.” O terceiro disse: “Direi a eles que não há pressa.” “Vai”, disse Satanás, “e arruína a milhares de homens.”

A mais perigosa das ilusões é acreditar que sobra tempo. O dia mais perigoso na vida de um homem é quando aprende que há uma palavra como amanhã. Há coisas que não se podem adiar, porque ninguém sabe se viverá amanhã.

(3) A rejeição se apoia em fracassar no cumprimento do dever e a recompensa se apoia na fidelidade ao dever. O servo que cumpriu seu dever com fidelidade recebeu um cargo mais alto, e aquele que fracassou em seu dever foi tratado com toda severidade. A conclusão inevitável é que quando Cristo chegar a melhor ocupação na qual pode nos encontrar é no cumprimento de nosso dever. Se o homem está cumprindo o seu dever, por mais simples que seja, regozijar-se-á-se quando Cristo chegar.

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