Gálatas 2:1-21 — Comentário de Matthew Henry

COMENTÁRIO, GÁLATAS 2, ESTUDO BIBLICO
Comentário de Gálatas 2:1-10

Note-se a fidelidade do apóstolo ao dar um relato completo da doutrina que tinha pregado entre os gentios, e que ainda estava resolvido a pregar, a do cristianismo, livre de toda mistura com o judaísmo. Esta doutrina seria desagradável para muitos, mas ele não temia reconhecê-la. Sua preocupação era que não decaísse o êxito de seus trabalhos passados, ou fosse estorvado em sua utilidade futura. Enquanto dependamos claramente de Deus para o êxito em nossas tarefas, devemos usar a cautela necessária para eliminar erros, e contra os opositores. Há coisas que podem ser cumpridas licitamente, porém quando não podem ser feitas sem trair a verdade, devem rejeitar-se. Não devemos dar espaço a nenhuma conduta pela qual seja rejeitada a verdade do evangelho.

Embora Paulo falava com os outros apóstolos, não recebeu deles nada novo para seu conhecimento ou autoridade. Eles perceberam a graça que lhe tinha sido dada, e deram a ele e a Barnabé a destra da companhia, pela qual reconheciam que tinha sino nomeado no ofício e dignidade de apóstolo como eles mesmos. Concordaram que os dois primeiros deviam ir aos gentios enquanto eles seguiam pregando aos judeus; julgaram que agradava a Cristo a idéia de dividir-se assim na obra.

Aqui aprendemos que o evangelho não é nosso, senão de Deus, e que os homens somos somente seus custódios; por isso devemos louvar a Deus. o apóstolo mostrou sua disposição caridosa e quão disposto estava para aceitar como irmãos os judeus convertidos, apesar de que muitos deles dificilmente permitiriam igual favor aos gentios convertidos; mas a só diferença de opinião não era razão para que não os ajudasse. Eis aqui um padrão da caridade cristã, que devemos estender a todos os discípulos de Cristo.

Comentário de Gálatas 2:11-14

Apesar do caráter de Pedro, quando Paulo o viu agindo como para estragar a verdade do evangelho e a paz da igreja, não teve temor de repreendê-lo. quando viu que Pedro e os outros não viviam conforme com o princípio que ensina o evangelho, e que eles professavam, a saber, que pela morte de Cristo fora derrubado o muro divisório entre judeu e gentio, e a observância da lei de Moisés deixava de ter vigência; como a ofensa de Pedro era pública, ele o repreendeu publicamente. Existe uma enorme diferença entre a prudência de são Paulo, que sustentou, e usou durante um tempo, as cerimônias da lei como não pecaminosas, e a conduta tímida de são Pedro que, por afastar-se dos gentios, levou a outros a pensarem que estas cerimônias eram necessárias.

Comentário de Gálatas 2:15-19

Tendo assim demonstrado Paulo que ele não era inferior a nenhum apóstolo, nem ao mesmo Pedro, fala da grande doutrina fundamental do Evangelho. Para que acreditamos em Cristo? Não foi para que fossemos justificados pela fé em Cristo? De ser assim, não é néscio voltar à lei, e esperar ser justificados pelo mérito de obras morais, dos sacrifícios ou das cerimônias? A ocasião desta declaração surgiu sem dúvida da lei cerimonial; mas o argumento é tão forte contra toda dependência das obras da lei moral para lograr justificação. Para dar maior peso a isso, aqui se agrega: "Pois, se nós, que procuramos ser justificados em Cristo, nós mesmos também somos achados pecadores, é porventura Cristo ministro do pecado? De maneira nenhuma" (versículo 17). Isto seria muito desonroso para Cristo e também muito prejudicial para eles. Considerando a própria lei, entendeu que não devia esperar a justificação pelas obras da lei, e que agora já não havia mais necessidade dos sacrifícios e de suas purificações, já que tinham sido eliminados por Cristo ao oferecer-se Ele como sacrifício por nós. Não esperava nem temia nada disso; não mais que um homem morto para seus inimigos. Mas o efeito não era uma vida descuidada e ilícita. Era necessário que ele pudesse viver para Deus e dedicado a ele por meio dos motivos e da graça do evangelho. Não é objeção nova, porém é sumamente injusto que a doutrina da justificação pela só fé tenda a estimular a gente a pecar. Não é assim, porque aproveitar-se da livre graça, ou de sua doutrina, é viver em pecado, é tratar de fazer de Cristo ministro do pecado, idéia que deveria estremecer a todos os corações cristãos.

Comentário de Gálatas 2:20-21

Aqui, em sua própria pessoa, o apóstolo descreve a vida espiritual e oculta do crente. O velho homem tem sido crucificado (Rm 6.6), mas o novo homem está vivo; o pecado é mortificado e a graça é vivificada. Tem as consolações e os triunfos da graça, mas essa graça não é de si mesmo, senão de outro. Os crentes se vêem vivendo num estado de dependência de Cristo. Daí que, embora viva na carne, contudo, não vive segundo a carne. Os que têm fé verdadeira, vivem por essa fé; e a fé se afirma em que Cristo se deu a si mesmo por nós.

Ele me amou e se deu por mim. Como se o apóstolo dissesse: O Senhor me viu fugindo mais e mais dEle. Tal maldade, erro e ignorância estavam em minha vontade e entendimento, e não era possível que eu fosse resgatado por outro meio que por tal preço. Considere-se bem este preço.

Aqui note-se a fé falsa de muitos. Sua confissão concorda: têm a forma da piedade sem o poder dela. Pensam que crêem bem os artigos da fé, mas estão enganados. Porque crer em Cristo crucificado não é só crer que foi crucificado, senão também crer que eu estou juntamente crucificado com Ele. isto é conhecer a Cristo crucificado. Daí aprendemos qual é a natureza da graça. A graça de Deus não pode estar unida ao mérito do homem. A graça não é graça a menos que seja dada livremente em toda forma. Quanto mais simplesmente o crente confie em Cristo para tudo, mais devotamente andará diante dEle em todas suas ordenanças e mandamentos. Cristo vive e reina nele, e ele vive aqui na terra pela fé no Filho de Deus, que opera por amor, produz obediência e muda a sua santa imagem. Deste modo, não abusa da graça de Deus nem a faz vã.