Quem Escreveu o Livro de Jonas?
Quem Escreveu o Livro de Jonas?
A opinião antiga, conforme a qual o próprio profeta Jonas teria escrito o livro que traz o seu nome, já foi quase totalmente abandonada, também pelos autores católicos. Por causa de 3,3 (Nínive não existe mais), dos muitos aramaísmos e da ideia principal (o universalismo da salvação), o livro é geralmente datado depois do cativeiro; precisando mais: cerca de 400 (Robinson) ou: entre 400 e 200 (Weiser). O “terminus ad quem” é em todo caso 200 aC (Eclo 49,10). A unidade é hoje em dia universalmente aceita, também pelos não católicos. Apenas o salmo do cap. 2, que não condiz muito bem, talvez, com a situação concreta, é por muitos considerado como um trecho independente, já existente, inserido na obra por um redator posterior (ou pelo próprio autor?).
Desde a antiguidade, a exegese judaica (cf. 3Mac 6,8; Fl. Jos. Ant. 9,10,2) e cristã foi em favor da historicidade. O conteúdo não suscitava dúvidas, nem mesmo os milagres. Esses, de fato, para um exegeta crente, não constituem, em si, motivo decisivo de dúvida. Alegavam-se também as palavras de Jesus em Mt 12,38-42 par. que pareciam favorecer uma interpretação histórica do todo. Por causa do personagem principal que é um profeta, e por causa da tendência didática (a pregação da salvação universal), esse livro histórico teria sido colocado entre a literatura profética. A atividade de Jonas em Nínive era datada no tempo de Adadnirari I I I (809-781) ou de um dos seus três sucessores, pelo menos antes de Teglat-Falasar I I I (745-726), e tentava-se explicar o sucesso da sua pregação junto ao rei e ao povo pelas circunstâncias do tempo, das pessoas e do lugar (p. ex., J. B. Schaumberger, Das Bussedikt des Kõnigs von Ninive bei Jonas 3,7.8 in keilschriftlicher Beleuchtung [Misc. Bibl. 2, Roma 1934,123-134]). Alguns procuram demonstrar a permanência dentro de um peixe, durante alguns dias, seja por casos paralelos (p. ex., J. Mair, Jonas im Bauche des Fisches [ThpQ 85,1932, 829-832]), seja por exames biológicos (A. J. Wilson, The Sign of the Prophet Jonah and its modem Confirmations [Princeton Theol. Rev. 25,1927,630-642; 26,1928,618-621]), explicando então o caso como um “miraculum quoad modiun”. — Sinal.
Um número cada vez maior de autores vê o livro Jonas como uma parábola, apresentando, não um fato histórico, mas uma doutrina (a universalidade da salvação). Contra o caráter histórico do livro alegam a acumulação de milagres, não motivados, no espaço de apenas 50 w (a tempestade repentina; a sorte que indica Jonas; a bonança imediata, quando Jonas é lançado ao mar; o monstro marinho enviado por Deus; a permanência incólume no peixe; o ser jogado de novo na terra; a planta que cresce numa só noite e seca na noite seguinte); depois, é muito inverossímil, historicamente falando, que toda a cidade de Nínive se tenha convertido, fazendo penitência, pela pregação de um profeta estrangeiro, e logo um israelita! O valor de Mt 12,38-42 para provar a historicidade não é aceito. Jesus ter-se-ia adaptado à interpretação (errônea) de seus contemporâneos, ou então, teria lançado mão de uma tipologia literária, como H br o faz com a figura de Melquisedeque em relação a Cristo. Para Feuillet (B ibl.) o caráter fictício da narrativa evidencia-se sobretudo pelo fato de o autor imitar textos mais antigos (Jon 1: Ez 26-28; Jon 3: Jer 36; Jon 4: lRs 19; Jon 2 é um florilégio de textos do salterio), e pelo fato de ele fazer uma aplicação, às vezes, exagerada e pouco feliz de temas conhecidos, enquanto omite todo detalhe histórico.