Significado de Deuteronômio 4

Deuteronômio 4

4:1 O conselho a Israel para ouvir os estatutos do Senhor incluía um encorajamento à obediência (Dt 5.1; 6.3, 4; 9.1; 20.3; 27.9). A finalidade de o povo ouvir e cumprir os mandamentos divinos, para que vivais, contrasta com o fato de que Moisés morreria, ou seja, não entraria na terra (v. 22). Todavia, os israelitas conseguiram compreender que o presente de Deus, Sua Lei, fora moldado para o bem deles. Obedecendo à Lei, certamente experimentariam uma vida vitoriosa.

4:2 Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela. Os israelitas deveriam aprender a viver por meio da palavra de Deus sem tentar corrompe-la ou justificar sua desobediência deturpando ensinamentos divinos (Ap 22.18, 19).

4:3, 4 Quanto a Baal-Peor, veja Deuteronômio 3.29. Para ressaltar a importância de obedecer às ordenanças do Senhor, Moisés lembrou os israelitas de que a todo homem que seguiu a Baal-Peor o Senhor, teu Deus, consumiu do meio de ti. Esta afirmação se refere à praga que dizimou 24 mil pessoas nesse lugar (Nm 25.9). A lembrança desse evento também objetivava rememorar ao povo quão terrível era o julgamento divino.

4:5-8 Todos que vivessem pelos estatutos de Deus dariam testemunho dele e atrairiam os outros ao Senhor, Aquele que concederia cada bênção.

4:5 Moisés não concebia as palavras ditas ao povo, apenas as recebia de Deus e transmitia (compare com 2 Pe 1.20, 21). Prova disso é a sentença como me mandou o Senhor, usada por Moisés ao longo de Deuteronômio para lembrar que o Senhor era a fonte de suas mensagens.

4:6-8 Esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos. Ao viver em obediência a Deus, Israel se tornaria uma força contracultural por causa de seu estilo de vida, de seu governo e da organização do povo (Rm 12.2). As bênçãos de Deus sobre Israel fariam com que todas as nações buscassem a ciência que norteava seu viver. Visto que o Senhor estaria tão próximo e prometeu responder às orações dos israelitas, estes poderiam achegar-se a Ele com todo tipo de petição. Contudo, relacionar-se de maneira tão íntima com Deus significava que Seu povo deveria viver para Ele, exatamente como revelado na aliança estabelecida no Sinai, seguindo estatutos e juízos justos.

4:9-14 Em Horebe, Yahweh demonstrou Sua maravilhosa glória a todos os israelitas, fez uma aliança com eles e entregou-lhes a Lei por intermédio de Moisés.

4:9 Dizendo tão somente guardaste a ti mesmo e guarda bem a tua alma, Moisés advertiu o povo a respeito do pecado da soberba. Se os israelitas testemunharam a libertação e os livramentos divinos, a revelação do Senhor acerca de Sua Lei e a instituição de Sua graciosa aliança, eles teriam de viver segundo as instruções contidas nesse concerto, transmitindo a seus filhos as coisas que seus olhos [tinham] visto. Além de testemunhar os feitos de Deus, o povo deveria zelar para que essas coisas não se apartassem do seu coração. Este termo alude ao âmago do ser, à fonte que direciona os pensamentos, as atitudes e os discursos do ser humano (Mt 12.34; 15.18, 19).

4:10 E os farei ouvir as minhas palavras. Essas palavras de Deus eram os Dez Mandamentos (v. 13).

4:11 A manifestação da presença de Deus geralmente é descrita acompanhada de fogo e escuridão (Ex 19.18). O fogo alude à santidade, à majestade e à transcendência divina, mas também ao julgamento de Deus sobre a perversidade (v. 24). A escuridão faz referência ao impedimento imposto a nós de aproximarmo-nos da natureza santa do Senhor, a qual não permite que Ele conviva com o pecado, às nossas transgressões e à possibilidade do julgamento iminente. Um grande estudioso diz que essa linguagem remete à “elusiva [imprecisa] presença” de Yahweh. O fato de a presença de Deus ser percebida por nós é um sinal de Sua condescendente graça, e de Ele ser reconhecido por Seus feitos no passado é uma lembrança da comunhão entre o Todo-poderoso e Suas criaturas.

4:12 Além da voz, não vistes semelhança nenhuma. O Senhor revelou Sua glória aos israelitas, mas eles não puderam ver nenhuma imagem além da escuridão e do fogo. Entretanto, ouviram a voz de Deus (v. 15). Este versículo nos lembra que Deus é espírito (Jo 4:24).

4:13 A obediência aos comandos de Deus era uma expressão de lealdade e amor àquele que estabeleceu o concerto com Israel mediante os Dez Mandamentos, revelados e impressos em duas tábuas de pedra (Ex 31.18). Uma ideia antiga, popularizada em obras de arte, é a de que uma parte dos mandamentos foi grafada na primeira tábua (talvez aqueles que tinham relação com os deveres do povo para com Deus) e a outra, os mandamentos restantes (relativos aos deveres do homem para com seu próximo), foi escrita na segunda tábua.

4:14 O Senhor me ordenou que vos ensinasse. Moisés entregou a revelação de Deus ao povo. Na condição de “instrutor” dos israelitas, ele aplicou a Lei (Êx 20.19).

4:15-24 A fé no Senhor excluía qualquer tipo de idolatria a outros deuses (compare com Dt 12.1-4), conforme a revelação no monte Horebe. Visto que Deus não se manifestou por imagens ou outra forma de representação material de si mesmo, Ele rejeitou todo tipo de adoração que fizesse uso de objetos para reproduzir o que é divino. O Senhor em si deveria ser adorado, e não Suas obras ou coisas criadas pelo homem.

4:15, 16 Não havia nenhuma maneira de descrever ou esculpir a presença de Deus no Sinai (Ex 20.18), pois Israel não viu a forma “física” do Senhor. Assim, o povo não poderia elaborar qualquer representação material dela. Embora o ser humano tenha sido criado à imagem e semelhança de Deus, não há figura de macho ou de fêmea, isto é, objeto confeccionado pelo homem que consiga reproduzir Deus (Gn 1.26, 27).

4:17-19 Figura de algum animal[...] o sol, e a lua, e as estrelas. Os animais e os corpos celestes foram criados por Deus (Gn 1.20-25). Por serem criações, e não o Criador, não poderiam de forma alguma ser adorados nem servir de representação de Deus (Gn 1.14-19; Sl 19.1).

4:20 Este versículo revela uma espécie de “slogan da redenção”: o Senhor vos tomou e vos tirou do forno de ferro do Egito. Deus escolheu Israel para ser o Seu povo e estabeleceu uma aliança com ele. Por isso, libertou-o da escravidão egípcia, período aludido nesta passagem pela expressão forno de ferro (Is 48.10; Jr 11.4). O resultado do êxodo e do cumprimento da Lei seria um povo hereditário, visto que a nação de Israel pertencia a Deus e, por isso, teria um glorioso futuro ao Seu lado.

4:21, 22 Eu morrerei. Quão difíceis devem ter sido essas palavras para Moisés! O profeta teve de encorajar o povo a entrar na terra, enquanto a ele mesmo isso não foi permitido.

4:23, 24 O Senhor, teu Deus, é um fogo que consome. O Criador goza de total liberdade para destruir os desobedientes e rebeldes. Israel testemunhara a justa ira do Senhor durante a jornada no deserto, assim como a veria em Canaã (Hb 12.29). Deus não apenas punia, como também era zeloso (hb. ganna, também traduzido como ciumento) quanto à santidade. Tanto em Sua ira como em Seu amor, Deus permanece santo. Nesta passagem, a ênfase na ira divina deve ser balanceada com Sua infinita misericórdia (Dt 4:31).

4:25-31 Deus julga severamente os idólatras, mas sempre tem compaixão daqueles que o buscam. Moisés antecipou o futuro, o período em que aquela geração se distanciaria do Senhor. Ela seria julgada e exilada da terra. Entretanto, mesmo no exílio, o povo deveria voltar-se para Deus, pois Ele é cheio de graça e compaixão. Esse ensinamento é a base da proclamação profética do povo remanescente e do ensinamento apostólico da graça de Deus para a nação decadente de Israel (Rm 9 11).

4:25 Quando, pois, gerardes filhos e filhos de filhos [...] e corromperdes. Esta é uma referência à futura rebelião, quando a geração vindoura desobedeceria a Deus.

4:26 Tomo por testemunhas contra vós o céu e a terra. Esta afirmação indica que toda a criação serviria de testemunha para Deus contra a rebeldia e a obstinação do povo (Dt 30.19; Is 1.2). Além disso, por causa de sua perversidade, os israelitas [pereceriam] depressa e [seriam] de todo destruídos, visto que as maldições da aliança recairiam sobre eles (Sl 1.6). O Senhor os disciplinaria e os exilaria da terra.

4:27 O Senhor vos espalhará entre os povos. Esta é uma profecia sobre os exílios que aconteceriam em 722 e 586 a.C.

4:28, 29 Moisés advertiu acerca da idolatria, assegurando a impotência dos ídolos, que não veem, nem ouvem, nem comem, nem cheiram (SI 115.6; Is 40.19, 20:41.7, 22-24). Esses “deuses” não eram deuses menores que o Senhor. Eles simplesmente não existiam. Estavam mortos. Assim, deixar de adorar o Deus vivo e passar a prestar culto a deuses falsos e inexistentes era, na verdade, trocar a vida pela morte (1 Ts 1.9, 10). Entretanto, buscar o verdadeiro Deus, e apenas Ele, trazia vida para um indivíduo. Muitas vezes ouvimos as pessoas dizerem que apenas por meio do Novo Testamento pode-se alcançar uma verdade interior e que no Antigo Testamento tudo é aparente e simbólico. Declarações como buscarás ao Senhor, teu Deus, e o acharás, quando o buscares de todo o teu coração e de toda a tua alma desfazem esse errôneo conceito.

4:30 A sentença e todas estas coisas te alcançarem faz referência às maldições da aliança, que atingiriam o povo no fim de dias, ou seja, em dias futuros. Todavia, a expressão no fim de dias também foi empregada pelos profetas como a designação de um novo tempo, caracterizado pelas bênçãos de Deus: a era do Messias. Após o período de angústia, os israelitas [se virariam] para o Senhor, e, quando isso acontecesse, Deus abençoaria a nação.

4:31 Deus misericordioso: o futuro do povo de Deus dependia de Seu amor. A ênfase na misericórdia divina (hb. rahum, termo relacionado com a palavra usada para útero, no hebraico, sugerindo aqui amor materno e profunda compaixão) é necessária para amenizar o realce que Moisés conferiu à ira de Deus (v. 24). O Senhor tinha total liberdade para dispersar Seu povo. Entretanto, após disciplinar os israelitas, Ele os reuniria e lhes mostraria Sua generosidade; não os desampararia nem os destruiria. Deus era e permanece fiel às Suas promessas. Logo, não se esquecerá do concerto que jurou a teus pais, o que significa que a aliança com os antepassados de Israel era a garantia do cumprimento de Suas promessas (Gn 17.6-8:22.16, 17; Êx 3.15:17).

4:32-40 As palavras reveladas de Yahweh eram uma expressão singular de Seu comprometimento com a aliança. Mais uma vez, Moisés falou de modo notável acerca da excelência da revelação divina. Yahweh foi mostrado como um Deus incomparável (Dt 3.24; Is 40.25, 26), porque os ídolos pagãos jamais poderiam revelar aos seus seguidores uma mensagem como essa. Além disso, a libertação de Israel da servidão no Egito e a preservação desse povo para testemunhar o cumprimento das promessas comprovam a unicidade do Senhor.

4:32-34 O Criador de toda a terra é o mesmo Deus que falou aos israelitas no monte Sinai. Com provas, com sinais, e com milagres, e com peleja, e com mão forte, e com braço estendido, e com grandes espantos, Ele demonstrou Seu poder no Egito e usou-o para salvar Israel.

4:35 Nenhum outro há, senão ele. Moisés enfatiza a afirmação de que o Deus vivo é o único Deus que existe (Dt 4-39; 5.7; 6.4; 32.39).

4:36 A revelação de Deus aos israelitas foi feita na intenção de ensinar-lhes e guiá-los para seguirem o caminho da verdade (compare com 2 Tm 3.16, 17).

4:37 Porquanto amava teus pais, e escolhera a sua semente depois deles. Essas palavras ditas por Moisés indicam a grandiosidade de Deus em relação à escolha de Israel e também definem o conceito de presciência divina, registrado no Novo Testamento (Rm 8.29). O amor de Deus pelos patriarcas continua. Sendo assim, o verbo amar pode ser traduzido no tempo presente: porquanto ama teus pais.

4:38 Gentes maiores e mais poderosas do que tu. As Escrituras têm duas formas diferentes de considerar o tamanho da nação de Israel no tempo do êxodo: seu crescimento miraculoso durante a permanência no Egito (Êx 1.7, 9, 10) e seu pequeno número de pessoas quando comparada a outras nações que a cercavam. Neste sentido, Deus merece toda a glória pelas conquistas de Israel.

4:39 Só o Senhor é Deus em cima no céu e embaixo na terra. Visto que Deus é o Criador, o Senhor da história, o Mestre, aquele que amava Seu povo, Israel deveria obedecer apenas a Ele. Este é um assunto fundamental em Deuteronômio e nos livros dos profetas. A incomparabilidade de Yahweh é também o fator que norteava a fé de Israel, o Shemá Israel [as duas primeiras palavras da seção da Torá que- constitui a profissão de fé central do monoteísmo judaico, Ouve Israel, conforme consta em Dt 6.4].

4:40 E guardarás os seus estatutos e os seus mandamentos, que te ordeno hoje, para que bem te vá a ti e a teus filhos depois de ti. O conceito fundamental da Torá de que Deus derramaria Suas bênçãos sobre Seu povo se este observasse a Lei é maravilhoso. Essas bênçãos se estenderiam aos filhos porque os pais eram os responsáveis pelo bem-estar deles. Neste sentido, ninguém tem mais a oferecer a seus descendentes do que aquele que acredita no Deus vivo. A promessa da bênção na terra era condicional, pois requeria obediência aos estatutos divinos (Dt 5.29; 6.24; 14:23; 19.9; 28.29, 33).

4:41-43 As regras acerca das cidades para onde um homicida poderia ser exilado são mais bem explicadas em Deuteronômio 19.1-13. A narrativa a respeito da divisão da terra (Dt 3.12-20) é retomada com a designação de três cidades de refúgio na Transjordânia (Nm 35.9-28; Js 20): Ramote, entre os rios Jarmuque e Jaboque, em Gileade, Bezer e Golã, cujas localizações são indeterminadas.

4:44-11.32 Esta seção delineia a Lei, as promessas e a aliança de Deus com Seu povo. Nela, Moisés explica não só a natureza da Lei, como também os estatutos e os juízos relacionados a ela.

4:44-49 Estes versículos funcionam como um prólogo histórico, fazendo a transição entre o repasse da história de Israel (Dt 1.64:43) e a revelação de Deus (Dt 5.1 11.32). Novamente, observamos um começo de capítulo fora do lugar, pois esses textos deveriam abrir o capítulo 5.

4:44 A lei faz referência às ordenanças detalhadas nos capítulos 5-26. Lei significa, fundamentalmente, instrução. Deus aponta o caminho da retidão para aqueles com os quais fez a aliança.

4:45 Estes são[...] os estatutos. A Lei aqui citada é a mesma entregue à geração anterior no monte Sinai. Logo, Deuteronômio é a perpetuação da Lei para aqueles que ocupariam a Terra Prometida.

4:46-49 Na terra de Seom[...] como também a terra de Ogue. Israel recentemente conquistara as terras do lado leste do Jordão e agora estava preparando-se para atravessar o rio e entrar em Canaã.

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