Significado do Livro de Josué
O livro de Josué descreve a conquista israelita de Canaã desde a invasão inicial, atravessando o rio Jordão, até a divisão final da terra. Como a maioria das histórias militares, o livro de Josué foca em seu comandante, ainda que nesta guerra singular o Comandante tenha sido o próprio Deus (Js 5.15). O livro enfatiza repetidamente que a vitória dos israelitas se deu em razão da intervenção divina (capítulos 10 e 11). A extraordinária vitória sobre Jericó demonstrou isso de forma dramática (cap. 6). Agora, Deus decisivamente agia conforme as promessas que fez a Abraão: Ele estava dando a terra de Canaã ao Seu povo.
Logo, o livro de Josué descreve um Deus que cumpre fielmente Suas promessas. Os acontecimentos em Josué ocorreram em um intervalo de tempo de menos de uma década, 40 anos após o êxodo, provavelmente por volta de 1406 a.C. Calebe relata que (Js 14.7-10) havia 45 anos que ele fora mandado a Cades-Barnéia para espionar a terra (Nm 13). Considerando que os israelitas passaram 38 anos vagando no deserto (Dt 2.14), da época em que eles atravessaram o rio Jordão até a data da declaração de Calebe, houve um intervalo de sete anos. A maioria dos acontecimentos do livro provavelmente ocorreu neste período. Muitos estudiosos sugerem que a conquista de Canaã se deu entre 1250 e 1150 a.C., porque há evidências arqueológicas da destruição de cidades cananeias nesta época. Entretanto, existem alguns problemas nesta concepção, sendo o mais expressivo o fato de que os israelitas destruíram apenas três cidades — Jericó, Ai e Hazor — durante a conquista. Deus prometeu que eles viveriam em cidades que não construíram, gozariam de campos que não plantaram e de colheitas de frutos que não cultivaram (Dt 6.10,11). Portanto, os israelitas lutaram, na maior parte das batalhas, em áreas que ficavam fora das cidades. A generalizada destruição das cidades cananeias, cujos vestígios foram encontrados pelos arqueólogos, pode datar do tempo dos Juízes. Durante este período, Deus permitiu que muitas invasões estrangeiras devastassem os campos e as cidades, a fim de disciplinar Seu povo rebelde.
Algumas narrativas em Josué geralmente passam a impressão de que a conquista dos israelitas prevaleceu sobre os cananeus com uso de uma força superior, infligindo aos habitantes uma série de derrotas absolutas. O capítulo 10 é um exemplo disso. Entretanto, o livro de Josué como um todo não descreve Israel ganhando um ataque frontal ofensivo por meio de uma força superior. Em vez disso, sob o comando divino, Israel usou diversos meios para derrotar seus inimigos, tais como emboscadas e táticas de desvio de atenção. Além disso, Josué 16.10 e Juízes 1 sugerem que a vitória dos israelitas sobre Canaã foi incompleta. Ainda havia cananeus morando lá. Todavia, Deus deu a maior parte da terra para os israelitas após uma série de batalhas dramáticas em um período de tempo relativamente curto. Deus foi fiel às Suas promessas.
Os dois temas mais proeminentes em Josué são: a posse da terra e a aliança. Deus, por diversas vezes, prometeu a terra de Canaã a Abraão (Gn 12.7; 13.14,15,17; 15.18-21; 17.8; 22.17), a Isaque (Gn 26.3,4), a Jacó (Gn 28.4,13; 35.12) e às gerações sucessoras (Gn 48.4-22; 50.24) O livro de Josué enfatiza que a conquista de Canaã foi o cumprimento direto dessa promessa. O Senhor estava lutando pelos israelitas e dando-lhes a terra nesta operação. Visto que Deus demonstrava Sua fidelidade a Israel, Ele esperava que o povo fosse fiel à aliança que tinha com Ele. A posse da terra estava baseada na submissão dos israelitas à Lei (Js 23.9-13, 15,16; Dt 4.1,25-27,40; 6.17,18). Na verdade, o livro de Josué retrata a posse completa da terra como resultado da obediência de Josué à Lei e aos comandos de Deus (Js 10.40; 11.20,23; 23.9-13). A conquista da terra permitiu que Israel experimentasse o repouso de Deus, o qual Ele prometera aos israelitas desde o início (Js 1.13,15; 11.23; 14.15; 21.44; 22.4; 23.1). E o Senhor lhes deu repouso em redor, conforme tudo quanto jurara a seus pais (Js 21.44). O autor de Hebreus compara este conceito de repouso do Antigo Testamento com a entrada no repouso de Cristo, isto é, em Seu Reino de paz (Hb 3; 4). Além de enfatizar a importância da fidelidade à aliança (Qs 1-7,8; 22.5; 23.6,16; 24.15), Josué registra duas cerimônias dedicadas à renovação desta. A primeira aconteceu no monte Ebal. Lá, Josué construiu um altar para o Senhor, ofereceu sacrifícios e leu a Lei de Moisés (Js 8.30-35).
A segunda foi em Siquém (cap. 24), onde ele escreveu as palavras da renovação da aliança no livro da Lei de Deus e erigiu uma grande pedra como testemunha e memorial do acordo (Js 24.25-27). Ambas as cerimônias incutiram na mente e no coração dos israelitas a responsabilidade de seguir apenas a Deus e obedecer às Suas instruções. Ao final da conquista, Israel tinha um novo desafio diante de si. Visto que a intensidade da batalha acabara, os israelitas deveriam demonstrar sua fidelidade a Deus inclusive nas atividades corriqueiras da vida cotidiana. Este livro é nomeado Josué em razão de este homem figurar de forma proeminente na narrativa como o sucessor de Moisés e o líder de Israel durante a conquista de Canaã. De forma bastante apropriada, o nome Josué em hebraico significa o Senhor salva ou o Senhor pode salvar. O livro de Josué não expõe quem o escreveu. O próprio Josué, sem dúvida alguma, registrou partes do livro, visto que no versículo 26 do capítulo 24 declara: e Josué escreveu estas palavras no livro da Lei de Deus. Entretanto, não se sabe o quanto do restante do livro ele redigiu. Quanto à data da composição, Josué 6.25 registra que Raabe estava morando em Israel. Isso pode indicar que seções do livro (se não todo ele) foram escritas pouco depois dos acontecimentos registrados. Mas também pode significar que os descendentes de Raabe ainda estavam vivendo em Israel na época das Escrituras.