Ester — Um Estudo Devocional

Ester — Um Estudo Devocional
Ester — Um Estudo Devocional

L
á estava, na cidade de Susã (Susa). O edifício era um palácio magnífico! Quem o construiu? Provavelmente o rei persa Dario I e seu filho Xerxes I. O material de decoração para o edifício fora trazido de lugares distantes. Por exemplo, uma inscrição de Dario diz que a madeira de cedro viera do Líbano, o ouro, de Sardes e da Bactriana, a prata e o cobre, do Egito, e o marfim, de terras tais como a Etiópia e a Índia.
O EGOÍSMO LEVA À HUMILHAÇÃO
O rei persa Assuero, cujo domínio abrangia 127 distritos jurisdicionais, desde a Índia até a Etiópia, ocupava o trono na sua residência temporária em Susã, o castelo, um conjunto de edifícios reais dentro duma área fortificada. Era então o terceiro ano do seu reinado e ele havia convocado uma conferência de seus príncipes, servos, militares e nobres. A reunião abrangeu 180 dias, possivelmente paia acomodar as numerosas autoridades, cujos deveres impediam a presença simultânea de todos. (Pode ter havido nisso um objetivo militar, porque o historiador grego Heródoto relata que, no terceiro ano do reinado de Xerxes, este rei realizou uma assembléia com o fim de planejar a guerra contra a Grécia.) — Ester 1:1-4.
No encerramento desta reunião notável, o rei deu um banquete de sete dias para todo o povo no castelo de Susã. Este banquete foi realizado no pátio do jardim palacial. E que ambiente! Ora, as decorações incluíam artigos de linho, algodão, panos azuis, seguros com cordas de tecido fino, e lã tingida de roxo, em argolas de prata. Havia colunas de mármore e leitos de ouro e prata, num piso de pórfiro, mármore, pérolas e mármore negro. — Ester 1:5, 6.
Neste banquete tomava-se o vinho em vasos de ouro de diversas espécies. Os persas eram famosos pela sua maneira de beber Mas, neste banquete não se seguia o costume de obrigar os convivas a tomar certa quantidade de bebida. — Ester 1:7, 8.
Em outra parte do conjunto real, a rainha persa Vasti dava um banquete para as mulheres. Era então o sétimo dia do banquete do rei, e seu coração estava alegre por causa do vinho. Mandou a sete oficiais da corte que trouxessem a bela Vasti perante ele e seus convidados. Mas, o que estava acontecendo? Ela se negava a acatar a palavra do rei. Enfurecido, Assuero procurou o conselho de sete dos seus príncipes mais íntimos, um conselho de sábios bem versados em assuntos jurídicos. “Segundo a lei”, perguntou o monarca, “o que se deve fazer com a Rainha Vasti?” Esta mulher egoísta era culpada de insubordinação! — Ester 1:9-15.
Ora, Memucã, como principal porta-voz dos sete príncipes, argumentou que Vasti não só cometera falta contra o rei, mas também contra os príncipes e o povo de todo o império. A conduta dela ficaria conhecida, e todas as esposas, até mesmo as princesas, desprezariam seu marido. De modo que Memucã sugeriu que o rei decretasse que Vasti não podia mais comparecer perante ele e que a dignidade real dela fosse dada a uma mulher melhor. Assim, todas as mulheres casadas honrariam seu marido. — Ester 1:16-20.
Esta recomendação agradou a Assuero. Em pouco tempo, despacharam-se documentos a todos os distritos jurisdicionais, a cada povo na sua própria língua. Inscrito assim nas leis imutáveis dos medos e dos persas, este decreto estabeleceu que “cada esposo agisse continuamente como príncipe na sua própria casa”. (Ester 1:21, 22) A insubordinação e o egoísmo de Vasti custaram-lhe a coroa real. Levaram-na à humilhação.

UMA MOÇA SUBMISSA OBTÊM FAVOR

Passou-se algum tempo antes de a ira de Assuero se aplacar. Daí, em harmonia com as recomendações dos ministros do rei, comissários designados procuraram belas virgens jovens, em todos os distritos jurisdicionais. Essas moças foram levadas ao castelo de Susã e entregues aos cuidados do eunuco Hegai. Essas virgens escolhidas deviam receber massagens, e, por fim, a moça que mais agradasse a Assuero seria feita rainha em lugar de Vasti. (Entre a deposição de Vasti e a escolha de sua substituta decorreram uns quatro anos, demora que evidentemente resultou da ausência do rei, enquanto travava guerra contra os gregos.) — Ester 2:1-4, 16, 17.
Quem estava muito interessado nesta busca duma nova rainha era Mordecai, servo do rei. Este judeu devoto, da tribo de Benjamim, era descendente de certo Quis, a quem o monarca babilônico, Nabucodonosor, levara de Jerusalém ao exílio, junto com o Rei Joaquim (Jeconias) e outros (em 617 A.E.C.). Algum tempo atrás, Mordecai tornara-se guardião da órfã judia Hadassa, cujo nome significa “murta”. Também conhecida por Ester (significando “murta fresca”), era filha do falecido tio de Mordecai, Abiail. E ela se tornara uma moça muito linda! Ora, ela era “bonita de figura e bela de aparência”. Não era de surpreender que Ester estivesse entre as moças reunidas no castelo de Susã, aos cuidados de Hegai, quando se procurou uma substituta para Vasti. — Ester 2:5-8, 15.
Ester agradou a Hegai, que se apressou a dar-lhe as massagens prescritas e o alimento apropriado. De fato, sete moças foram escolhidas para assisti-la na melhor parte da casa das mulheres. Ester não revelou que era judia, acatando assim as instruções de seu primo mais velho, Mordecai. As virgens escolhidas receberam durante seis meses massagens com óleo de mirra, seguindo-se mais seis meses de massagens com óleo de bálsamo. Daí, cada moça entrou até Assuero, voltando depois para a “segunda casa das mulheres”, a cargo de Saasgaz, guardião das concubinas do rei. — Ester 2:9-14.
Ester era despretensiosa, não confiando em adorno ostentoso, e por isso não pediu nada que Hegai não mencionasse. Durante todo este tempo, ela granjeara favor aos olhos de todos que a viam. Era então tebete (dezembro-janeiro), o décimo mês do sétimo ano de Assuero. Era grande a tensão quando Ester foi levada perante o rei. Será que ele se agradou dela? Agradou-se, sim! O governante persa veio a amar Ester mais do que a todas as outras mulheres, tornando-a rainha em lugar de Vasti. O rei feliz deu para todos os seus príncipes e servos um grande banquete, “o banquete de Ester”. Além disso, concedeu anistia aos distritos jurisdicionais (talvez redução de tributos, isenção de serviço militar ou prisão, ou uma combinação disso). Assuero distribuiu presentes que só a riqueza dum monarca podia tornar possível. Quanta alegria! — Ester 2:15-18.
Uma moça realmente submissa havia obtido favor. Embora Ester se sentasse então como rainha persa, acatava as instruções de Mordecai. (Ester 2:19, 20) Olhando para trás, podemos imaginar Ester como bela mulher, em vestimenta régia. Mas o seu principal ‘adorno era a pessoa secreta do coração, na vestimenta incorrutível dum espírito quieto e brando, que é de grande valor aos olhos de Deus’. (1 Ped. 3:3, 4) As mulheres cristãs do século vinte têm bons motivos para evitar o egoísmo da deposta Vasti e imitar as qualidades submissas, altruístas da piedosa Ester.
É também digno de nota que, quando Ester foi feita rainha, houve grande alegria, na qual participou de todo o coração Mordecai, seu primo mais velho. Ele deve ter achado que isso resultaria por fim em benefício de todos os judeus nas províncias persas.

LEAL, MAS INTRANSIGENTE

Ester havia mantido contato com Mordecai e seguido suas instruções. Enquanto ele estava sentado no portão do rei, Bigtã e Teres, oficiais da corte (que parecem ter guardado a porta do apartamento particular do rei), ficaram indignados e procuraram deitar a mão em Assuero. Mordecai, que ficou sabendo da trama, avisou imediatamente Ester, a qual falou ao rei em seu nome. As declarações dela dão início a uma investigação. Logo depois, os dois traidores foram executados e seus cadáveres expostos em público, numa estaca ou poste, porque seus crimes haviam sido contra o rei. Embora Mordecai não recebesse nenhuma recompensa, seu ato de lealdade foi registrado na crônica do dia. — Ester 2:21-23.
Embora Mordecai fosse leal e tivesse o devido respeito pela autoridade governamental, era intransigente. Passou-se tempo, e Assuero, por algum motivo, nomeou certo rico Hamã como primeiro-ministro. Também, por ordem real, todos os servos do monarca, no portão da área palaciana, curvavam-se e prostravam-se diante de Hamã. Mas não Mordecai! Ele se negou persistentemente a se prostrar diante do recém-nomeado primeiro-ministro. Isto encheu Hamã de fúria. — Ester 3:1-5.
Por que adotou Mordecai tal atitude resoluta? Acontece que Hamã era agagita, provavelmente amalequita real. Yahweh havia decretado o ulterior extermínio dos amalequitas, porque haviam mostrado ódio a Deus e seu povo, atacando os israelitas no ermo. (Êxo. 17:8, 14-16; Deu. 25:17-19; 1 Sam. 15:1-33) Por este motivo, o piedoso Mordecai negou-se terminantemente a se prostrar diante de Hamã. Curvar-se não indicaria meramente respeito, mas paz e possivelmente homenagem a este amalequita. Mordecai não cedeu, porque era uma questão de manter a integridade para com Deus.
Enfurecido, Hamã começou a procurar o aniquilamento tanto de Mordecai como de seu povo, os judeus, em todo o império. Para este fim, durante nisã, primeiro mês do 12.° ano de Assuero, o inescrupuloso agagita recorreu à adivinhação. Fez com que ‘alguém [evidentemente um astrólogo] lançasse Pur, isto é, a Sorte’. Fez isso para saber o dia mais favorável para o extermínio do povo de Yahweh. — Ester 3:6, 7.
Falando então ao Rei Assuero, Hamã retratou de maneira mentirosa os israelitas como indesejáveis, como violadores da lei. Acrescentando um atrativo econômico, o agagita disse: “Escreva-se que sejam destruídos; e eu pagarei dez mil talentos de prata [valendo dezenas de milhões de cruzeiros] nas mãos dos que fizerem a obra, trazendo-os ao tesouro do rei.” — Ester 3:8, 9.
Acreditou Assuero nas acusações falsas? Acreditou! Tirando seu anel de sinete, usado para selar documentos oficiais, o rei o entregou a Hamã. “Dá-se-te a prata, também o povo, para fazer com eles conforme for bom aos teus próprios olhos”, disse o governante persa. Em pouco tempo, sob a direção de Hamã, os secretários reais escreveram cartas com o decreto da destruição dos judeus. O iníquo agagita, por sua vez, usou o anel de sinete com o símbolo distintivo do monarca. Hamã imprimiu o anel em lacre ou alguma outra substância mole nestes documentos, a fim de autenticá-los. — Ester 3:10-12.
Os documentos estavam logo nas mãos de correios em velozes cavalos de posta. O decreto, publicado em diversas línguas e levado através do império, autorizava o saque e o aniquilamento dos judeus. Quando? No dia 13 do mês hibernal de adar (fevereiro-março). É compreensível que, enquanto Assuero e Hamã estavam sentados e bebiam, houvesse confusão na cidade de Susã, onde havia muitos judeus. — Ester 3:13-15; 9:18.

TEMPO PARA CORAGEM
Quando Mordecai soube da trama genocida, rasgou as suas vestes, vestiu-se de serapilheira e pôs cinzas, em símbolo de luto, fazendo um clamor alto e amargo. De maneira similar, a iminente calamidade produziu grande lamento entre os judeus em todos os distritos jurisdicionais. Mas, havia também jejum e certamente muitas orações eram feitas a  Deus. — Ester 4:1-3.
Ester também ficou muito condoída. Enviou a Mordecai vestes para substituir a sua serapilheira, mas ele não as aceitou. Em resposta a uma indagação, enviou à rainha uma cópia da lei que acabava de ser emitida e ordenou-lhe que comparecesse perante o rei, para implorar pelo seu povo. Qual foi a reação dela? ‘Todos sabem que qualquer homem ou mulher que entrar até o rei, sem ser chamado, será morto. Apenas se o rei lhe estender o cetro de ouro é que ficara vivo. Quanto a mim, não fui chamada a ele já por trinta dias.’ (Ester 4:4-11) Sim, Ester perderia sua vida, se o Rei Assuero não aprovasse especificamente sua presença por estender para ela seu cetro, o bastão que usava como insígnia de sua autoridade real. Certamente, exigia coragem e fé em Yahweh para comparecer perante o monarca sem ser convidada.
Todavia, Mordecai respondeu: “Não imagines no íntimo da tua própria alma que dentre todos os outros judeus escaparão os da casa do rei. Pois se tu, neste tempo, ficares completamente calada, o próprio alívio e livramento, procedentes de outro lugar, pôr-se-ão de pé para os judeus; mas, quanto a ti e a casa de teu pai, vós perecereis. E quem sabe se não foi para um tempo como este que atingiste a realeza?” (Ester 4:12-14) Mordecai tinha fé em que Ester tinha sido elevada à realeza naquela época específica com um fim especial — a libertação do povo de Deus. Mas, iria ela demonstrar altruísmo, coragem e fé?
Em resposta, Ester instou com Mordecai para que ajuntasse todos os judeus em Susã e que jejuassem a favor dela. “Também eu”, disse ela, “jejuarei igualmente, e então entrarei até o rei, o que não é segundo a lei; e se eu tiver de perecer, terei de perecer.” Ester estava prestes a arriscar a sua própria vida, mas esta mulher discreta estava decidida a agir com coragem e altruísmo a favor de seu povo. De modo que Ester, Mordecai e os judeus em Susã conjugaram as orações com um jejum e esperavam que  Deus lhes provesse a libertação. — Ester 4:15-17.

Nos tempos modernos, também, os seguidores de Jesus Cristo, ungidos com o espírito, que são judeus espirituais, bem como seus companheiros, precisam enfrentar com bravura provações e adversários. (Rom. 2:28, 29) O Rei governante, Jesus Cristo, pode permitir que os inimigos do povo de Deus vão até o limite no seu esforço de destruí-los. Quão vital é, portanto, que os cristãos ungidos e seus dedicados companheiros atuem corajosamente, orando pela sabedoria divina e mostrando fé vitoriosa! Mas, continuará Yahweh a defender seu povo? Julgue por si mesmo, ao passo que continuamos a acompanhar os eventos dramáticos dos dias de Ester.