Mateus 24 — Comentário de Matthew Henry

Mateus 24


Versículos 1-3: Cristo anuncia a destruição do templo; 4-28: Desastres anteriores à destruição de Jerusalém; 29-41: Cristo anuncia outros sinais e desgraças do fim do mundo; 42-51: Exortações a vigiar.

Vv. 1-3. Cristo predisse a total ruína e a destruição futura do templo. Uma crédula visão em fé, da desaparição de toda a glória mundana, nos servirá para que evitemos admirá-la e super valorizá-la. O corpo mais belo se tornará imediatamente em alimento para os vermes, e o edifício mais magnífico, um montão de escombros. Não vemos estas coisas? Nos fará bem que as olhemos como vendo através delas, e vendo o fim delas.

Nosso Senhor, havendo se retirado juntamente com seus discípulos para o Monte das Oliveiras, colocou diante deles a ordem dos tempos quanto aos judeus, até a destruição de Jerusalém, e quanto aos homens em geral até o fim do mundo.

Vv. 4-28. Os discípulos perguntaram acerca dos tempos. Quando serão estas coisas? Cristo não lhes respondeu esta pergunta, mas eles também haviam perguntado: Qual será o sinal? Ele respondeu esta pergunta completamente. A profecia trata primeiro os acontecimentos mais próximos: a destruição de Jerusalém, o fim do estado judeu, o chamado aos gentios e o estabelecimento do reino de Cristo no mundo; mas também contempla o juízo geral; fala também sobre o que deve acontecer em breve, com mais detalhes. O que Cristo disse aqui a seus discípulos, tendia mais a incitar a cautela que a satisfazer sua curiosidade; mais a prepará-los para os acontecimentos que sucederiam, do que a dar-lhes uma idéia clara dos já ocorridos. Este é o bom entendimento dos tempos que todos devemos almejar, para disto inferir o que Israel deve fazer.

Nosso Salvador adverte a seus discípulos que se acautelem contra os falsos mestres. Anuncia guerras e grandes comoções entre as nações. Desde o tempo em que os judeus rejeitaram a Cristo e Ele deixou a sua casa desolada, a espada nunca tem se apartado deles. Observe o que acontece por se rejeitar o Evangelho. Aqueles que não ouvirem os mensageiros da paz, será feito com que ouçam os mensageiros da guerra. Aqueles que mantém o seu coração confiando em Deus se mantém em paz e não se assustam. É contrário a mente de Cristo que seu povo tenha seus corações perturbados mesmo em tempos turbulentos.

Quando olhamos adiante e vemos a miséria eterna que está diante dos obstinados que rejeitam a Cristo e seu Evangelho, podemos dizer na verdade: os maiores juízos terrenos são somente o princípio de dores. Que perseveremos até o fim. Nosso Senhor predisse a pregação do Evangelho em todo o mundo. O fim do mundo só virá quando o Evangelho tiver realizado a sua obra.

Cristo anuncia a ruína que sobrevirá ao povo judeu; e o que disse aqui servirá para a conduta e o consolo de seus discípulos. Se Deus abre uma porta de escape, devemos passar por ela; caso contrário, não confiamos em Deus, mas o tentamos. Em tempos de transtornos públicos, os discípulos de Cristo devem estar orando muito; isso nunca é inoportuno, mas toma-se especialmente oportuno quando somos angustiados por todos os lados. Mesmo que devamos aceitar aquilo que Deus envie, ainda assim devemos orar contra os sofrimentos; e algo que prova muito ao homem bom é ser retirado do serviço e adoração solenes a Deus no dia de repouso, por causa de algum outro trabalho ou necessidade. Aqui há uma palavra de consolo, que por amor aos eleitos estes dias serão abreviados, em relação ao que conceberam seus inimigos. Estes teriam destruído a todos, se Deus, que usou estes inimigos para servir aos seus propósitos, não tivesse colocado limite à ira deles.

Cristo anuncia a rápida difusão do Evangelho no mundo. É visto simplesmente como o raio. Cristo pregou o seu Evangelho abertamente. os romanos eram como águias, e a insígnia de seus exércitos era a águia. Quando um povo, por seu pecado, se torna como asquerosos esqueletos, nada pode ser esperado, senão que Deus envie inimigos para destruí-lo. Isto é muito aplicável ao dia do juízo, à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo nesse dia (2 Ts 2.1,2). Sejamos diligentes para fazer segura a nossa eleição e vocação; deste modo, poderemos saber que nenhum inimigo nem enganador prevalecerá contra nós.

Vv. 29-41. Cristo predisse a sua Segunda vinda. É habitual que os profetas falem de coisas próximas e que estejam à mão para expressar a grandeza e certeza delas. Quanto à Segunda vinda de Cristo, anuncia-se que haverá uma grande mudança para fazer novas todas as coisas. Então verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens. Em sua Primeira vinda, foi posto como sinal que seria contraditado; porém, em sua Segunda Vinda, um sinal que deve ser admirado.

Cedo ou tarde, todos os pecadores se lamentarão, mas os pecadores arrependidos olham para Cristo e se condoem de maneira santa; os que semeiam com lágrimas colherão com gozo dentro de pouco tempo. Os pecadores impenitentes verão àquEle que transpassaram, e ainda que agora riam, lamentarão e chorarão com horror e desespero intermináveis.

Os eleitos de Deus estão dispersos por todas as partes e nações; mas quando chegar o grande dia desta reunião, não faltará sequei um deles. A distância do lugar não deixará ninguém fora do céu. Nosso Senhor declara que os judeus nunca deixarão de ser um povo distinto, até que se cumpram todas as coisas que Ele havia predito. Sua profecia finalmente chega ao dia do juízo final; portanto, aqui, no versículo 34, Ele anuncia que Judá nunca deixará de existir como povo distinto, enquanto durar este mundo.

Os homens do mundo fazem complôs e planejam de geração em geração, mas não fazem nenhum plano em relação ao acontecimento mais seguro, que é a Segunda Vinda de Cristo. Esta se aproxima de modo que surpreenderá os homens, o qual dará fim a todo estratagema humano e apartará para sempre tudo o que é proibido por Deus. Esse dia será de tão grande surpresa quanto foi o dilúvio para o mundo antigo.

Isto deve ser primeiramente aplicado aos juízos temporais, particularmente ao que na ocasião chegava de modo apressado ao povo e à nação judaica. Em segundo lugar, ao juízo eterno. Aqui Cristo mostra o estado do mundo antigo quando o dilúvio chegou; e eles não criam. Se nós soubéssemos corretamente que todas as coisas terrenas devem passar dentro de pouco tempo, não colocaríamos nossos olhos e coração nelas tanto quanto o fazemos.

Que palavras podem descrever com mais impacto a súbita chegada de nosso Salvador! os homens estarão em suas respectivas ocupações, e repentinamente se manifestará o Senhor da glória. As mulheres estarão ocupadas em suas tarefas domésticas, mas nesta hora toda a obra será deixada de lado, todo coração baterá mais forte e dirá: É o Senhor! Estou preparado para encontrá-lo? Estou em condições de me apresentar diante dEle? O que é o dia do juízo para todo o mundo, senão o dia da morte de cada um?

Vv. 42-51. Velar pelo dia da vinda de Cristo é mantermos o temperamento mental em que desejamos que o nosso Senhor nos encontre. Temos pouco tempo para viver. Não sabemos quanto tempo nos resta para viver, muito menos o tempo determinado para o juízo.

A vinda de nosso Senhor será feliz para os que estiverem preparados, mas muito espantosa para aqueles que não estiverem. Se um homem, que professa ser servo de Cristo, é incrédulo, cobiçoso, ambicioso ou amante do prazer, será cortado. Aqueles que escolhem o mundo por sua porção nesta vida, terão o inferno como porção na outra. Que quando nosso Senhor vier, nos declare como bem aventurados e nos apresente diante do Pai, lavados em seu sangue, purificados por seu Espírito, e aptos para sermos participantes da sorte dos santos em luz.