Introdução a História do Cristianismo

Introdução a História do Cristianismo

Introdução a História do Cristianismo

A história do cristianismo cristianismo é relativamente jovem. Comparado à trajetória da raça humana sobre a terra, ele começou há somente uns poucos momentos. Ninguém sabe quão antigo é o homem. Isso porque não podemos dizer com exatidão quando uma criatura, que possa seguramente ser descrita como humana, apareceu pela primeira vez. Uma estimativa coloca a presença mais antiga do que pode ser chamado de homem em cerca de 1 milhão e 200 mil anos atrás. Um ser com um cérebro do tamanho do cérebro do homem moderno viveu há aproximadamente 500 mil anos.

Em contraste com essas vastas extensões de tempo, o cristianismo, com cerca de dois mil, anos tem certamente pouco tempo de existência. Se uma pessoa aceita a perspectiva apresentada no Novo Testamento, que em Cristo está o segredo do plano de Deus para toda a criação, e que Deus tem por propósito “fazer convergir todas as coisas em Cristo, tanto as que estão no céu quanto as que estão na terra”, o cristianismo se torna então relativamente ainda mais recente, porque os poucos séculos desde a vinda de Cristo são somente uma fração infinitesimal do tempo que decorreu desde que a terra, para não falar do universo, veio à existência. Quando colocado no cenário da civilização humana, o cristianismo é também muito jovem. Considera-se atualmente que a civilização teve início cerca de dez a doze mil anos atrás, durante o último recuo dos lençóis glaciais continentais. Isso significa que o cristianismo está presente durante um quinto ou um sexto somente do pouco tempo de existência da humanidade civilizada.

Além do mais, o cristianismo apareceu tarde no desenvolvimento religioso da humanidade. Pode ser algo referente a isso o que Paulo quis dizer quando declarou que “na plenitude dos tempos Deus enviou seu Filho”. Não precisamos ocupar espaço aqui para delinear os principais esboços da história da religião. Entretanto, devemos observar que daquelas religiões que têm tido uma difusão geográfica extensa e duradoura, o cristianismo foi o penúltimo que surgiu. O animismo em uma ou outra de suas muitas formas parece ter antecipado a civilização. As formas de politeísmos têm sido numerosas, e algumas delas, hoje simples lembrança, são muito antigas. O hinduísmo, em seus aspectos mais antigos, precede o cristianismo em mais de mil anos. O judaísmo, do qual o cristianismo surgiu, é centenas de anos mais antigo do que ele. Confúcio, a figura dominante no sistema, que o Ocidente chama por seu nome, viveu nos séculos 6 e 5 a.C. Os anos do fundador do budismo, embora isso seja discutível, são comumente colocados nos mesmos séculos.

Zarathustra, ou, para lhe dar o nome pelo qual os leitores em português geralmente o conhecem, Zoroastro, o principal criador da religião que foi por muito tempo oficial na Pérsia e que é ainda representada pelos parsis [antigos persas zoroastristas], é de data incerta, mas parece ter sido ao menos tão antigo quanto Confúcio e Buda, e talvez até alguns séculos mais velho. Somente o maniqueísmo e o islamismo foram de origem posterior ao cristianismo. Desses dois, o maniqueísmo pereceu. O cristianismo é, portanto, o segundo mais jovem dos grandes sistemas religiosos existentes em nossos dias que têm se expandido de maneira ampla sobre à raça humana. O fato que o cristianismo emergiu em meio a um período em que as maiores religiões da raça humana estavam aparecendo estimula o pensamento.

A maioria dessas religiões veio à existência nos treze séculos entre 650 a.C. e 650 a.D. Das religiões que sobrevivem, somente o judaísmo e o hinduísmo começaram antes de 650 a.C. Houve aqui um fermento religioso entre os povos civilizados que, dentro de um espaço comparativamente curto de tempo, originou as religiões mais avançadas, as quais têm, desde então, moldado a raça humana. Isso ocorreu com pouca interação de uma sobre a outra. Somente o cristianismo e o islamismo são exceções. Os dois têm dívidas com o judaísmo, e o islamismo foi influenciado tanto pelo judaísmo quanto pelo cristianismo.

A juventude do cristianismo pode ser altamente importante. Poderia ser concebível o sentido que, como um fenômeno relativamente tardio, o cristianismo será transitório. As outras religiões importantes têm surgido, florescido, alcançado o apogeu e, então, entrado em um declínio lento ou deixado de progredir. O hinduísmo não é tão amplamente difundido quanto foi há mil e quinhentos anos. Nos últimos quinhentos anos, o budismo não registrou importantes conquistas, e durante esse tempo sofreu sérias perdas. O confucionismo não alcançou nenhum avanço geográfico desde que se movimentou em direção a Annam, Coreia, e Japão há muitos séculos, e no atualmente está se desintegrando.

O islamismo não sofreu perdas significativas de território desde a reconversão da Península Ibérica ao cristianismo, um processo concluído há cerca de quatro séculos, e no presente século tem expandido suas fronteiras sobre algumas áreas, notadamente na África, ao sul do Saara. Todavia, seus avanços têm sido muito menos marcantes do que nos estágios iniciais de sua difusão. Poderia argumentar-se que o cristianismo deve ter um destino semelhante e o fato de sua juventude pode significar que para ele o ciclo de crescimento, maturidade, e decadência ainda não alcançou um estágio tão avançado quanto ocorreu com as outras grandes religiões. Para essa avaliação, o fato do aparecimento das grandes religiões, inclusive o cristianismo, em um período de tempo comparativamente pequeno de treze séculos, pode dar algum suporte.

A disposição de suas origens em um segmento de tempo e o enfraquecimento progressivo de muitas delas poderiam ser interpretados como indicação que todas as religiões, no uso tradicionalmente aceito desse termo, e incluindo mesmo o cristianismo, são uma força que vai se tornando pálida na vida da humanidade. Alguns, na verdade, interpretam assim a história e declaram que a raça está superando a religião. As perdas na Europa no presente século poderiam bem sinalizar a morte do cristianismo. De outro lado, o até agora breve curso do cristianismo pode ser apenas um precursor para um futuro indefinidamente expansivo. A fé pode não estar longe do começo de sua história e somente nos estágios iniciais de uma crescente influência sobre a raça humana. Como veremos de maneira mais extensa nos capítulos subsequentes, a história do cristianismo dá evidências que podem servir como suporte para essa ideia. Como sugerimos no prefácio e trataremos extensamente mais tarde, a fé apresentou sua maior difusão geográfica nos últimos 150 anos.

A medida que o século 20 avança, e a despeito de muitos adversários e perdas severas, ela tem se tornado mais profundamente enraizada entre mais povos do que qualquer religião jamais chegou a ser. Ela é também mais amplamente influente nos afazeres dos homens do que outro sistema religioso que a humanidade já conheceu. O peso da evidência parece estar do lado daqueles que sustentam que o cristianismo está ainda somente no primeiro viço da sua história e que ele tem ainda espaço para crescimento na vida da humanidade. Nesse cristianismo existe um notável contraste com outras religiões. Há muito da sua singularidade e um possível indício da sua importância.


Uma terceira interpretação possível, e que muitos cristãos subscrevem, é que o cristianismo nunca desaparecerá nem triunfará plenamente dentro da História, mas continuará, algumas vezes sem brilho, outras vezes crescendo em sua influência sobre os indivíduos e sobre a humanidade como um todo, até que, talvez cedo, talvez milênios adiante, a História chegue ao fim. Há muita informação que parece dar suporte a essa ideia. A juventude comparativa do cristianismo significa que a história que é sintetizada nos capítulos subsequentes, ainda que complexa e rica, atinge somente um pequeno fragmento do espaço total da história da raça humana e, se a raça continuar, é meramente uma introdução ao que será testemunhado milênios mais tarde. Se o cristianismo está ainda próximo do começo do seu curso, pode ser que as formas que ele desenvolveu, sejam intelectuais, institucionais ou rituais, de modo nenhum devem ser sua característica final ou contínua. Entretanto, isso é profecia, e sobre esse caminho perigoso o historiador não deve se aventurar.