Testemunho da Água e do Sangue
Neste texto o autor
sagrado apressa-se a voltar à sua polêmica e declara agora o valor da morte de
Cristo como expiação. Os gnósticos, (ver o artigo sobre Gnosticismo), não criam
que o Espírito-Cristo pudesse encarnar-se, porquanto consideravam a matéria
como o próprio princípio do pecado, e o corpo humano participaria desse
princípio. Se algum “aeon” ou o Cristo (o qual seria apenas um dentre muitos aeons)
se encarnasse na “matéria”, ficaria contaminado. Além disso, parece que não
criam na possibilidade metafísica da “encarnação”. Pensavam, portanto, que o
Espírito-Cristo meramente viera apossar-se do corpo do homem Jesus de Nazaré,
quando de seu batismo, tendo-o abandonado quando de sua crucificação. Nunca
houve uma pessoa, ao mesmo tempo, divina e humana.
Essa rejeição à
encarnação levava os gnósticos a pensarem que a autoridade de Cristo residia
somente em seu batismo. Diziam eles: “Cristo veio pela água”. Porém, não
acreditavam que um aeon (como seria Cristo) pudesse morrer. Assim sendo,
somente o homem Jesus teria morrido. Sua morte teria sido, quando muito, a
morte de um mártir que morrera por uma causa boa — não poderia ter qualquer
valor como expiação, como se o próprio Cristo não pudesse sofrer ou morrer.
Isso significa, além disso, que Cristo não viera “pelo sangue”, pois sua missão
não poderia ter incluído a morte. Portanto, não haveria qualquer valor
expiatório na missão de Cristo. A seção a nossa frente ataca essa suposição
errônea. A autor sagrado já havia demonstrado que Cristo realmente se encarnara,
pelo que fora possível a “morte de Cristo”. Agora, o autor sagrado haverá de
mostrar que assim, realmente, sucedera, e que a morte de Cristo fora o motivo
da expiação, ficando assim incorporada essa questão em sua missão e autoridade.
Cristo viera “pelo sangue”, e não somente pela água.
A verdadeira confissão,
por conseguinte, reconhece sua encarnação; e a sua morte expiatória também está
em foco, e não meramente a autoridade do batismo de Jesus Cristo. Os gnósticos
reconheciam somente a autoridade de seu batismo, quando o “aeon” descera supostamente
sobre o homem Jesus. Nisso, pois, os gnósticos haviam reduzido consideravelmente
a compreensão da missão de Cristo. O Espírito Santo, entretanto, dá testemunho
acerca da encarnação e da expiação de Cristo, porquanto o Espírito Santo é da verdade
e propaga a verdade. Sobre a terra há três testemunhos: o do Espírito (que é o
mediador da missão de Cristo em favor dos homens); a água (o batismo — o seu e
o nosso, ao identificar-se conosco); e o sangue, que é a expiação de Cristo, e
a nossa participação na mesma.